MENSAGEM PARA A QUARESMA DE 2025
Celebramos esta Quaresma no coração do ano jubilar. Este é o tempo especial de graça que a Igreja nos oferece para retomarmos, com mais ânimo, a nossa peregrinação para Deus.
Fazemos este percurso, imagem de toda a nossa a vida, com os homens e mulheres nossos irmãos, com quem nos sentimos em comunhão enquanto peregrinos da esperança. Partilhamos todos a mesma ânsia de encontrar a esperança maior, aquela esperança que não confunde nem engana, mas oferece razões para viver, para sofrer, para se alegrar, para não desistir no meio da peregrinação.
Somos todos, ao mesmo tempo, peregrinos de esperança, ou seja, homens e mulheres com esperança, uma vez que Deus já inscreveu nos nossos corações a capacidade de nos pormos a caminho, já somos alimentados por uma esperança viva, que pode, no entanto, ser ainda mal definida, pouco concreta, muito humana e pouco divina. Fomos marcados pela esperança que anima todas as pessoas humanas criadas como seres livres e abertas ao futuro, mas queremos nesta Quaresma tomar a firme decisão de aprofundar a nossa vocação para o encontro com Deus, para O conhecer e O amar, para que seja Ele o rosto e o nome da nossa esperança.
A Quaresma no Ano do Jubileu faz-nos uma pergunta: onde está a raiz da esperança que faz viver? A Palavra da Escritura dá-nos uma resposta: feliz aquele que põe a sua esperança no Senhor. Neste sentido, a peregrinação que é a nossa vida é um percurso interior que nos leva a passar de uma atitude mundana para uma atitude espiritual. Segundo o mundo, a esperança está em nós, nos outros, nos bens e seguranças que dependem das capacidades humanas. Segundo o Espírito, a esperança está no Senhor, nasce do Deus Criador, que nos ama e que, por meio de Jesus Cristo, nos abriu as portas da Vida.
A Quaresma no Ano do Jubileu faz-nos também a pergunta: como fazes crescer a esperança que te faz viver? Jesus dá-nos a resposta: ama a Deus e ama o teu próximo. Também podia dizer-se: por meio da resposta de fé a Deus, que é sinal de que confias n’Ele e O amas; por meio da caridade na relação com o teu próximo, que te leva a construir com ele um futuro feliz.
A Quaresma no Ano Jubilar marcado pela esperança, faz-nos, afinal, uma única pergunta: para que é que eu vivo sobre a terra? A fé cristã dá-nos a resposta, quando nos garante que vivemos para estar em relação de amor com Deus e com os irmãos enquanto peregrinamos sobre esta terra, e para entrarmos na relação definitiva de amor com Deus e com os irmãos no mundo que há de vir, na vida eterna.
Nesta Quaresma somos convidados a ver e compreender quais os sinais de esperança que existem em nós, nos outros e no nosso mundo. Quando vemos alguém a viver uma relação de amizade, de amor e comunhão com Deus, percebemos aí sinais de esperança; quando vemos alguém a amar os outros com uma atitude de caridade, de entrega e até de sacrifício de si mesmo, mas feliz por se dar, reconhecemos aí sinais de esperança. Quando vemos as pessoas e a humanidade a percorrer caminhos de unidade, de solidariedade, de justiça, de diálogo, de amizade e compreensão, percebemos que lá está a esperança que vem de Deus e abre caminhos de eternidade.
Feliz o que põe a sua esperança no Senhor! É urgente tomar a decisão de transferir a razão da nossa esperança do mundo perecível para o Deus eterno. É urgente tomar a decisão de fazer caminho sério e responsável nesta vida terrena que agora vivemos, a partir da fé no Deus que nos salva e nos convida para estar com Ele na vida que virá.
São duas as vias complementares nesta peregrinação: a do acolhimento da fé vivida na comunidade cristã, que nos leva a crescer no amor a Deus por meio da celebração dos sacramentos e da perseverança na oração; e a do acolhimento da fé que se manifesta na orientação da vida para a amizade e a comunhão fraterna com os outros.
Informo os cristãos da nossa Diocese de Coimbra que o produto da Renúncia Quaresmal reverterá a favor dos nossos irmãos da Faixa de Gaza. Convido a uma generosa partilha com aqueles irmãos e irmãs que sofrem e estão privados de todos os bens materiais necessários à vida.
Desejo a todos uma santa Quaresma, que nos conduza à peregrinação da vida nova que irrompeu no mundo com Cristo morto e ressuscitado, a nossa esperança.
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra