Durante o Sínodo, na tarde do sábado, 15 de Outubro, a Praça de S.
Pedro encheu-se de crianças que fizeram neste ano a 1ª Comunhão.
Veio o Papa, que passou por entre os pequenos, e a algazarra foi
grande. Depois tudo acalmou e havia perguntas (previamente
escritas…) para fazer ao Santo Padre. Numa delas, dizia o miúdo:
“Eu vou à Missa, mas o meu pai não vai…”
Esta era a apoquentação do pequeno e foi também uma das que mais
se sentiu nos diálogos dos Bispos, manifestada nas “propostas”
agora apresentadas ao Papa. Numa sociedade que precisa e gosta de
folgar em fim-de-semana, diminui, ainda que não em todos os
países, a frequência dominical. E sente-se que para muitos
católicos, presentes na Missa de sábado ou de domingo ao final do
dia, ela é uma obrigação a que não querem faltar.
Como tudo isto contrasta com o que se foi ouvindo da Eucaristia,
sinal e presença sagrada, milenarmente vivida, do próprio Senhor
Jesus, no meio daqueles que nele acreditam! E como é diferente o
que se passa com outras religiões, que cultivam religiosamente o
seu dia santificado. Parece que os cristãos não se deram conta de
que o esvaziamento do domingo, também como dia de repouso, de
contacto familiar e social e de enriquecimento cultural, é um
verdadeiro empobrecimento humano…
Daí que do Sínodo saia o propósito de um maior esforço no sentido
de fazer do “dia do Senhor”, o “dia dos cristãos”, em que eles
celebram a verdade central da sua fé, Cristo Ressuscitado. Para
isso se preconiza que seja a própria comunidade cristã a organizar
actividades como encontros de amigos, peregrinações, actividades
caritativas, sem descurar a catequese e os momentos de oração.
Naturalmente que este assunto arrastava sempre outro: a falta de
padres. Evidenciaram-se então alguns Bispos da África, da América
do Sul e também da Europa, que sublinharam o valor das celebrações
dominicais presididas por diáconos ou leigos em comunidades “na
expectativa de presbítero”, expressão que ganhou espaço para
substituir a da “ausência de presbítero”. Verificou-se que estas
celebrações, sendo um valor, precisam de especial cuidado, para
que não se confunda a fonte com a nascente. E esta é a celebração
pascal da Morte e Ressurreição do Senhor, que só a presença de um
sacerdote pode garantir.
Os Bispos de países com minorias cristãs (era da Argélia o meu
companheiro de carteira) pareciam não sentir tais problemas. Para
as suas comunidades, diminutas mas vivas, a Missa dominical é um
verdadeiro encontro fraterno e alegre, em que se alimenta a fé e o
amor. Isto mesmo me dizia um Bispo de Taiwan, junto de quem me
colocaram no almoço final. Num fraco italiano, lá nos fomos
entendendo, o suficiente para eu ficar a conhecer a liberdade e os
medos daquela gente.
Nem de propósito: ao levantar-me para o café, junto-me a outro
rosto chinês, que me disse ser de Hong-Kong. Este, mais preocupado
com a sorte das escolas católicas… Mas terminamos a falar dos
Bispos de Macau, anteriores e actual, que ele conhece
perfeitamente.
+ Albino Mamede Cleto, Bispo de Coimbra
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