1. INTRODUÇÃO: A RENOVAÇÃO DA CATEQUESE.
A renovação dos catecismos que, neste momento, se torna
urgente, leva-nos a tomar consciência da necessidade de
esclarecer a identidade da catequese que pretendemos pôr em
prática. Os catecismos são instrumentos para fazer catequese.
Para definir as características dos catecismos, precisamos de
esclarecer também a obra que queremos realizar com eles e o
contexto em que devem situar-se, ou seja, a educação da fé que
conduza ao crescimento da vida cristã.
A catequese encontra-se, há várias décadas, num processo de
renovação de forma a responder às profundas mudanças do
contexto cultural. Como declarou o Sínodo de 1977: “A
renovação da catequese é um dom do Espírito Santo concedido à
Igreja nos dias de hoje” (CT3). Verificou-se,
primeiramente, a nível pedagógico, integrando os métodos
activos, procurando uma relação mais forte com a vida,
adoptando os áudio-visuais, prestando maior atenção à dinâmica
do acto catequético. Depois, sobretudo com o Concílio Vaticano
II, renovaram-se também os conteúdos doutrinais, seguindo a
perspectiva da história da salvação e acompanhando o ritmo do
ano litúrgico. A catequese torna-se mais bíblica e mais ligada
à experiência dos catequizandos e das comunidades. Como
regista o Directório Geral de Catequese: “Os trinta anos
decorridos desde a conclusão do Concílio Vaticano II até aos
umbrais do terceiro milénio constituem, sem dúvida, um tempo
extremamente rico de orientações e propostas para a catequese.
Foi um tempo que, de alguma maneira, recuperou a vitalidade
evangelizadora da primeira comunidade eclesial; foi um tempo
que relançou oportunamente o ensinamento dos Padres e
favoreceu a descoberta do antigo catecumenado” (DCG 2).
A Igreja em Portugal procurou acompanhar a renovação
catequética conciliar definindo um programa de catequese para
a infância e adolescência traduzido num itinerário de dez anos
[com dez catecismos], aprovado pela Conferência Episcopal
Portuguesa, em Novembro de 1988. Estes dez catecismos,
publicados a partir de 1991 e 1992, contribuíram para um
itinerário mais extenso da catequese de iniciação, para um
reconhecimento da importância da catequese, para uma dedicação
mais generosa e uma formação mais sólida dos catequistas e,
certamente, também para o crescimento das comunidades.
Hoje, a generalidade das paróquias têm a funcionar o
itinerário de dez anos de catequese, frequentado por uma
percentagem notável de crianças. A quase totalidade chega à
Primeira Comunhão. Muitos até ao Crisma. O número de
catequistas aumentou e a preparação procura ser mais cuidada.
A catequese dos adultos e dos jovens é também uma realidade
cada vez mais consistente.
a) Enriquecimento da concepção de catequese e dos seus
conteúdos
No entanto, após a publicação dos catecismos, várias mudanças
significativas pedem uma renovação continuada da catequese e
uma revisão dos catecismos. Verificaram-se profundas mudanças
culturais na sociedade, na família, na prática religiosa das
pessoas que colocam dificuldades sempre diferentes à educação
da fé. A situação dos catequizandos apresenta-se cada vez mais
diversificada, tanto a nível de idades como a nível religioso.
Chegam muitas crianças à catequese sem os rudimentos de vida
cristã, a necessitar do despertar da fé. Aparecem igualmente
muitos adultos e jovens com percursos muito variados. A
indiferença religiosa difunde-se cada vez mais. O laicismo
militante cria muita confusão e dúvidas acerca da verdadeira
identidade cristã. A ignorância religiosa continua profunda,
apesar de muitos completarem o itinerário de dez anos. O
afastamento da prática dominical parece aumentar. Muitas
crianças que frequentam a catequese não participam na Missa
dominical. Chegados ao Crisma são bastantes os que abandonam a
Eucaristia.
Esta situação precisa de ser consciencializada e reflectida
por todos nós. Estaremos a formar discípulos de Cristo se,
após dez anos de catequese, não estão esclarecidos sobre os
elementos fundamentais do cristianismo, não têm contacto
habitual com a fonte da vida que é a Eucaristia, não mostram
prática da oração nem necessidade de escutar a Palavra da
vida? Que factores devemos ter em conta na catequese para que
realize eficazmente a transmissão da fé?
Por outro lado, nestes últimos anos, o Magistério da Igreja
oferece-nos novos elementos que vêm enriquecer a concepção de
catequese e o seu conteúdo e convidam a continuar a renovação
desta acção primordial da missão da Igreja. Entre estes textos
devemos destacar: “O Catecismo da Igreja Católica” (11
de Outubro de 1992) “ como texto de referência, seguro e
autêntico, para o ensino da doutrina católica e , de modo
particular, para a elaboração dos catecismos locais” (FD
4); o “Directório Geral de Catequese” (Vaticano, 15 de
Agosto de 1997) “um subsídio oficial da Santa Sé para a
transmissão da mensagem evangélica e para o conjunto do acto
catequético” (DGC120). Outros documentos recentes do
Magistério, de modo especial as Exortações Apostólicas
relacionadas com a evangelização do Novo Milénio e do
continente europeu (“Tertio Millennio Adveniente” (10 de
Novembro de 1994); “Novo Millennio Ineunte” (6 de Janeiro de
2001); “Ecclesia in Europa” (28 de Junho de 2003) oferecem-nos
também elementos de grande riqueza para a análise dos sinais
dos tempos e para a renovação da acção da Igreja,
designadamente, da catequese.
b) Aspectos da catequese a reflectir
À luz destes documentos, achamos, portanto, necessário fazer
uma reflexão sobre os principais aspectos da catequese que
proporcione uma visão de conjunto da renovação pastoral desta
actividade: as dificuldades e as possibilidades da transmissão
da fé no mundo de hoje; a catequese na perspectiva da nova
evangelização, tão recomendada para o novo milénio; a
catequese ao serviço da iniciação cristã; a catequese como
tarefa de toda a comunidade e as diferentes responsabilidades
pastorais dos seus membros; a necessidade de percursos
catequéticos para todas as idades; e, finalmente, os critérios
de renovação dos catecismos. Procuramos apresentar uma visão
resumida das principais questões de modo que este texto possa
ser reflectido por todos os agentes da educação da fé - pais e
educadores, párocos e catequistas, cristãos empenhados na
comunidade. Desejamos promover uma reflexão ampla e de
conjunto pois a catequese é função de toda a comunidade cristã
e só com o compromisso dos fiéis mais empenhados se pode
alcançar uma prática renovada desta actividade pastoral.
Em síntese: estas orientações para a catequese actual têm em
vista aplicar ao nosso contexto cultural e à nossa situação
eclesial as novas perspectivas do Directório Geral de
Catequese que, por sua vez, se orientou “por duas
exigências principais:
- por um lado, a contextualização da catequese na
evangelização, requerida pelas Exortações Evangelii Nuntiandi
e Catechesi Tradendae;
- por outro lado, o assumir dos conteúdos da fé propostos pelo
Catecismo da Igreja Católica” (DGC 7).
2. CATEQUESE E TRANSMISSÃO DA FÉ
“Ide por todo o mundo pregai o evangelho a toda a criatura:
Quem acreditar e for baptizado será salvo” (Mc 16,15-16).
A missão da Igreja é anunciar o Evangelho para que os ouvintes
acreditem que Jesus Cristo é o Salvador do mundo, o Filho de
Deus e, acreditando, tenham a vida em seu nome (Cf Jo 20,31).
A catequese situa-se nesta linha. Tem em vista transmitir a
Palavra de Deus que revela o Seu desígnio de salvação
realizado em Jesus Cristo de modo a despertar a fé e a
conversão ao Senhor e a viver em comunhão com Ele (CT 5 e 6).
Em boa verdade, a fé não se transmite. É dom de Deus àquele
que O acolhe. Brota do diálogo misterioso entre Deus que se
revela e o acolhimento do homem que procura a luz e a
salvação. A iniciativa vem de Deus que espera uma resposta
livre e comprometida do homem. Deste modo, a fé tem uma
dimensão transcendente que está para além das nossas
possibilidades. Mas a fé não nasce do nada. Ela supõe um
anúncio: “Com efeito, quem invocar o nome do Senhor será
salvo. Mas como o invocarão, sem terem acreditado n’Ele? E
como acreditarão n’Ele, sem O terem ouvido? E como O ouvirão,
se ninguém O proclama? E como proclamá- Lo, sem ser
enviado?...Assim a fé vem da pregação e a pregação é o anúncio
da Palavra de Cristo”(Rom 10,13-17). São Paulo afirma
ainda que transmite o que ele mesmo recebeu, a saber, o
anúncio da morte e ressurreição de Jesus como acontecimento de
salvação universal (Cf 1 Cor 15,3-4). O mistério de Cristo e o
Seu Evangelho estão no centro do anúncio. Esta Boa Nova não se
reduz a palavras, mas é um acontecimento que vem até nós. Para
Paulo, na pregação apostólica é o próprio Cristo que fala. A
Sua Palavra viva vem a nós numa relação e numa escuta que
incarna nas nossas vidas.
O veículo habitual de que o Senhor se serve para chamar alguém
à fé é, portanto, a transmissão da revelação, sobretudo o
anúncio e o testemunho vivo, entusiasmante do Evangelho. Por
isso, comunicar a revelação de modo a despertar e solidificar
a fé é a tarefa fundamental das comunidades cristãs. Dentro
desta tarefa tem um lugar relevante a catequese. Utilizamos,
portanto, a expressão “transmissão da fé” com o sentido de
comunicação da revelação de Deus, alicerçada no testemunho
vivo dos crentes e conjugada com a adesão à fé por parte dos
destinatários.
a) Novo contexto sócio- cultural e religioso
Durante séculos, num contexto de cristandade, a comunicação da
fé passava quase espontaneamente de pais para filhos. O
cristianismo fazia parte do património moral e cultural que se
recebia da família e do ambiente. Hoje, porém, a transmissão
da fé encontra dificuldades e levanta questões. Parece
verificar-se menos abertura à fé tanto da parte das crianças e
adolescentes como dos jovens e adultos. De facto, das crianças
e adolescentes que frequentam a catequese muitos não adquirem
o sentido da presença e da amizade de Deus e de Jesus Cristo.
Por isso, não assimilam nem o hábito nem o gosto pela oração
ou pela Eucaristia. Falta-lhes em geral uma relação vivida com
Deus e uma leitura da vida humana à luz desta relação. Também
entre os adultos, afastados ou descrentes, parece mais difícil
a transmissão da fé.
As dificuldades crescentes na adesão ao Evangelho estão
certamente relacionadas com as profundas transformações sócio-culturais
que caracterizam um mundo novo. O modelo tradicional da
comunicação da fé foi posto em causa no seio de uma sociedade
pluralista, pluricultural, plurireligiosa e secularizada.
Também o racionalismo, a mentalidade científica e tecnológica
produzem uma erosão do facto religioso. Estamos diante de uma
mudança profunda, em alguns aspectos inédita em relação ao
passado, que exige ser reconhecida e interpretada com urgência
e lucidez.
Do ponto de vista cultural, a sociedade tornou-se numa espécie
de supermercado em que é oferecida uma pluralidade de estilos
de vida e de modelos de valores que os incarnam, tantos deles
estranhos ou opostos ao Evangelho. Do ponto de vista
religioso, o cristianismo corre o risco de aparecer como uma
voz entre tantas outras.
Quebrou-se o pacto de comunicação entre as gerações que vivem
em universos culturais diferentes mesmo dentro da própria
família e que se repercute ao nível da fé. Assiste-se à perda
da memória cristã e ao alastrar do analfabetismo religioso.
As crianças e os jovens estão submetidos a uma abundância de
solicitações em que é difícil ver claro. Fruem de uma
superinformação que se torna fonte de questões, para as quais
nem sempre encontram respostas. A sua paisagem interior é
influenciada pela cultura mediática, pela imagem e pela
música. Através destes canais, que deveriam ser fonte de
enriquecimento cultural, recebem por vezes uma imagem
distorcida da fé cristã como algo ultrapassado, anti-moderno,
como uma prisão que impede a liberdade e o ser feliz. Na
própria escola e em certos ambientes confrontam-se com uma
hostilidade à educação religiosa.
Assim ficou debilitada a transmissão da fé que tinha os canais
próprios na família e nos diversos lugares onde se manifestava
a tradição cristã. O ambiente social e cultural já não serve
de suporte à fé. Esta é cada vez mais fruto de uma escolha
pessoal.
b) Aberturas à fé
No entanto, o homem tem sede de Deus, pois foi criado por Deus
e para Deus. Procura a verdade, a beleza e o amor que só em
Deus se encontram em plenitude. As gerações actuais continuam
a mostrar abertura à transcendência e ao mistério: no desejo
de autenticidade, proximidade, encontro e solidariedade, na
abertura aos que sofrem, numa renovada busca de sentido do que
vivem, sofrem e fazem.
O homem actual é, portanto, capaz de um acto de fé. Pode ser
que esta apetência de Deus esteja obnubilada pelo ambiente
cultural. Por isso, a proposta da fé deve ter em conta os
preconceitos e desfazê-los através de um esclarecimento
oportuno (uma sã apologética). Perante a nova paisagem
cultural requerem-se novos modos de comunicar a fé, novas
linguagens, novas técnicas, novas atitudes.
Para propor a fé às pessoas do nosso tempo, precisamos de a
apresentar incarnada numa cultura, concretizada em exemplos
vivos e sinais visíveis, testemunhada numa comunidade cristã.
A fé não é apenas uma doutrina, ou um sentimento vago e
abstracto. É um modo de viver que tem dado forma à vida
admirável de muita gente e originado muitas manifestações
culturais (arte sacra, costumes sociais, valores morais das
civilizações cristãs, etc.).
O despertar da fé necessita de novas condições favoráveis, de
um terreno em que a Boa Nova possa produzir fruto. É aí que as
comunidades e as famílias são chamadas a desempenhar a sua
missão. O despertar para a vida e para a fé, num mesmo
movimento, começa desde a infância. Os pais são chamados a
comunicar o seu gosto de viver, a sua maravilha perante a vida
e a transmitir uma arte de viver em referência ao Evangelho. O
seu contributo é insubstituível, porque a fé é uma vida que se
comunica, uma osmose que se realiza e não uma doutrina a
inculcar. À medida que o filho cresce, o testemunho dos
adultos ajuda-o a construir-se. A família precisa de
reconhecer-se como o primeiro lugar social das crianças, dos
adolescentes e dos jovens com uma influência decisiva na
educação da fé.
Mas a transmissão da fé deve estar associada, sobretudo, ao
testemunho vivo de uma comunidade cristã. É na comunidade que
a fé se manifesta em sinais de vida cristã, se concretiza em
testemunhos vividos. É na comunidade que a Palavra de Deus se
realiza globalmente como palavra proclamada, celebrada e
vivida. Nesse sentido, também a celebração da fé e os gestos
de caridade se tornam formas de transmissão da fé. Na verdade,
a liturgia é uma fonte de evangelização, enquanto diz (narra)
o essencial da fé ao longo do ano litúrgico e introduz no
mistério celebrado. Do mesmo modo, as manifestações da piedade
popular, que exprimem a vida cristã em gestos, imagens e
lugares concretos, relacionados com a vida real e com o afecto
das pessoas, devem considerar-se uma via de acesso à fé. O
estilo de vida dos fiéis, quando caracterizado pela caridade e
ajuda fraterna, pelo serviço gratuito ao próximo, pela defesa
da justiça e da dignidade dos mais débeis, constitui
igualmente uma proclamação do evangelho por gestos. O
património cultural e artístico, fonte de referências e de
valores, memória de exemplos vividos, deve ser considerado um
lugar de educação da fé. Os meios de comunicação social, numa
cultura mediática, precisam igualmente de ser valorizados numa
perspectiva evangelizadora. Porém, nenhuma destas vias
dispensa o aprofundamento da fé.
3. EVANGELIZAÇÃO E CATEQUESE
À medida que a Igreja toma consciência da descristianização do
ambiente social procura responder a esta situação renovando a
sua acção pastoral numa perspectiva de evangelização. Face ao
alastrar da indiferença religiosa e à paganização da cultura e
da vida, não basta manter as tradições e os hábitos cristãos e
responder ao pedido de ritos religiosos. Não podemos à partida
pressupor a fé. Torna-se necessário despertá-la no coração das
pessoas, converter os baptizados que não conhecem ou não
praticam o cristianismo, levar o evangelho aos afastados. É
preciso começar a evangelizar pelo princípio, pôr em prática
uma nova evangelização.
Para nos guiar na nova evangelização temos uma bússola segura
afirma o Papa: Os textos conciliares e o Catecismo da Igreja
Católica, que pode chamar-se “ O Catecismo do Concílio”.
Baseamo-nos também numa fonte preciosa, a Exortação Apostólica
“Evangelii Nuntiandi” que nos oferece uma bela e actual
reflexão sobre “o modo de fazer chegar ao homem moderno a
mensagem cristã, na qual somente ele poderá encontrar a
resposta às suas interrogações e a força para a sua aplicação
de solidariedade humana” (EN 3).
A catequese é um momento estruturante da evangelização.
Precisa, portanto, de ter presentes as características da
evangelização no mundo actual e situar-se neste processo com a
sua identidade própria e o seu contributo específico. De
facto, a evangelização é a missão e a razão de ser da Igreja:
ela foi congregada para ser enviada a levar o Evangelho. Não
tem razão de ser em si mesma, está ao serviço da
evangelização: ”Evangelizar constitui, de facto, a graça e
a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade.
Ela existe para evangelizar, ou seja, para pregar e ensinar,
ser o canal do dom da graça, reconciliar os pecadores com Deus
e perpetuar o sacrifício de Cristo na Santa Missa” (EN
14).
a) Catequese evangelizadora.
Para se tornarem evangelizadoras, as acções da Igreja devem
ser realizadas de uma forma renovada, em resposta à situação
religiosa da nossa cultura. È necessário encontrar caminhos
novos que levem ao encontro das pessoas afastadas, ouvir as
suas questões e iluminá-las com o evangelho. Nesse sentido a
catequese, no contexto da nova evangelização, deve revestir
algumas características, tais como:
· Adoptar um carácter missionário procurando assegurar a
adesão à fé. Para isso precisa de ir ao encontro da vida real
dos catequizandos e de ter em conta as suas questões e
experiências de modo a responder-lhes.
· Centrar-se no kerigma, ou seja, na pessoa de Jesus Cristo
Ressuscitado e no Seu mistério de salvação. Jesus Cristo deve
ser apresentado como Boa Nova, fonte de esperança e de sentido
para a vida humana e para as questões das pessoas e da
sociedade.
· Convidar constantemente a uma atitude de conversão ao Senhor
em ordem ao crescimento na santidade pessoal e ao compromisso
com o testemunho do Evangelho no mundo.
b) A catequese no processo global de evangelização.
Sendo complexa e constando de muitos elementos, a
evangelização precisa de ser entendida como um processo que
integra vários momentos com uma sequência própria, como etapas
de um itinerário dinâmico, em que os momentos se completam e
implicam mutuamente. A catequese é um momento do processo de
evangelização: tem uma etapa anterior que a prepara e precisa
de ter continuação. Segundo a Evangelii Nuntiandi devemos
considerar os seguintes momentos:
1. Presença e acolhimento. Para que os destinatários possam
escutar a Boa Nova, precisam de ter o coração bem disposto,
atento e acolhedor. Nesse sentido, o primeiro passo e a
atitude constante para evangelizar é “captar a benevolência”
dos destinatários, tornando-se, no meio deles, uma presença
amiga, acolhedora e solidária. À semelhança de Jesus que pela
Sua Encarnação se situou no meio de nós para nos anunciar o
Evangelho. (Cf EN 21; AG 10).
2. Primeiro anúncio. Não podemos permanecer na presença
solidária e no acolhimento. É indispensável o anúncio
explícito de Jesus como Salvador do homem (EN 22), que conduza
ao despertar da fé e da conversão. “Em várias partes da
Europa há necessidade do primeiro anúncio do Evangelho aos não
baptizados” (E in E 46). “Por toda a parte há
necessidade de um renovado anúncio, mesmo para quem está
baptizado... Muitos baptizados vivem como se Cristo não
existisse... o desafio não consiste tanto em baptizar os novos
convertidos, mas em levar os baptizados a converterem-se a
Cristo e ao seu evangelho” (E in E 47).
3. Depois do primeiro anúncio é o momento da catequese que
solidifica e faz amadurecer o primeiro anúncio. “O momento
da catequese é aquele que corresponde ao período em que se
estrutura a conversão a Jesus Cristo, oferecendo as bases para
essa primeira adesão. Os convertidos, mediante um ensinamento
de toda a vida cristã e uma aprendizagem devidamente
prolongada no tempo, são iniciados no mistério da salvação e
num estilo de vida evangélico” (DGC 63). A catequese é,
assim, o momento “fundamental” e “prioritário” de
evangelização pois lança as bases que podem dar solidez à vida
cristã futura (Cf DGC 63-64). A “Catechesi Tradendae”
caracteriza-a como: “iniciação ordenada e sistemática à
revelação que Deus fez de si mesmo ao homem, em Jesus Cristo.
Esta revelação está conservada na memória profunda da Igreja e
das Sagradas Escrituras, e é constantemente comunicada, por
uma “traditio” viva e activa, de uma geração a outra” (CT
22).
4. Comunidade cristã e sacramentos. A catequese conduz à
integração e à participação activa na comunidade cristã que
celebra a presença e a acção de Deus nos sacramentos,
sobretudo na Eucaristia, vértice e fonte de vida cristã (Cf SC
10). Este elemento constitui um indicador fundamental da boa
realização da catequese. Na verdade, não há vida cristã sem
participação na comunidade. Esta tem a raiz e o centro na
celebração da Eucaristia (PO 6), principal escola de vida
cristã que, após a catequese sistemática, garante a formação
permanente e o crescimento espiritual dos fiéis.
5. Comunidade cristã e testemunho. A vida cristã é como os
talentos do evangelho que são dados a cada um para pôr a
render através do testemunho da caridade e do serviço ao Reino
de Deus. A vida cristã é como a luz que deve irradiar à sua
volta. O testemunho, por sua vez, fortalece e aprofunda a fé
dos fiéis.
Estes momentos não são compartimentos autónomos e separados.
Estão em comunicação uns com os outros. Por isso a catequese
não pode preocupar-se apenas em esclarecer e solidificar a fé
mas também em despertá-la e avivá-la continuamente, retomando
o primeiro anúncio e orientando na conversão ao Senhor (Cf CT
19). Precisa igualmente de orientar para a celebração e para o
testemunho da fé.
Jesus Cristo é o Evangelho, a Boa Nova de Deus. Nesse sentido,
a catequese é evangelizadora se levar os catequizandos à
descoberta, à amizade e ao seguimento de Jesus.
4. CATEQUESE E INICIAÇÃO CRISTÃ
A catequese é um itinerário que tem em vista a vida cristã
adulta cuja expressão mais significativa é a participação na
Eucaristia e, como consequência, na missão da comunidade. Ser
cristão não acontece de um momento para o outro. Tornamo-nos
cristãos de forma gradual e progressiva, convertendo-nos dos
ídolos ao Deus vivo e crescendo continuamente na configuração
com Jesus Cristo, ou seja, na santidade vivida na caridade.
a) Dinamismo da iniciação cristã.
No processo de crescimento na fé há uma fase fundamental em
que se lançam os alicerces da vida cristã e que, portanto,
condiciona o edifício futuro da fé: é a iniciação cristã.
Iniciação consiste na incorporação gradual e progressiva no
mistério de Cristo e da Igreja, através dos três sacramentos
da iniciação cristã - Baptismo, Confirmação e Eucaristia - e
da aprendizagem e treino nas várias dimensões da fé:
conhecimento do essencial do mistério cristão; celebração da
fé na Eucaristia e nos sacramentos; união com o Senhor na
oração; prática do Evangelho na caridade e no serviço.
Na iniciação cristã conjugam-se, deste modo, vários
intervenientes (forças): A iniciativa de Deus que nos comunica
os seus dons nos sacramentos; a correspondência pessoal do
candidato que se esforça por converter-se e crescer nas várias
dimensões da fé; e o papel da comunidade cristã que testemunha
a fé, acolhe e apoia o candidato.
A catequese está ao serviço da iniciação cristã e, por isso,
deve organizar-se como um itinerário que introduz nas
referidas componentes da vida cristã: “As tarefas da
catequese correspondem à educação nas diversas dimensões da
fé, uma vez que a catequese é uma formação cristã integral,
aberta a todas as componentes da vida cristã. Em virtude da
sua própria dinâmica interna, a fé implica ser conhecida,
celebrada vivida e feita oração. A catequese deve cultivar
cada uma destas dimensões. Mas a fé vive-se em comunidade
cristã e anuncia-se na missão: é uma fé partilhada e
anunciada. A catequese deve promover também estas dimensões.”
(DGC 84).
A iniciação cristã conheceu um grande desenvolvimento nos
primeiros séculos do cristianismo, quando era necessário
formar cristãos para viver a fé em ambiente pagão, adverso à
fé cristã. Criou então uma pedagogia adequada, o catecumenado,
que se apresentava com um caminho progressivo e exigente de
conversão, atento não só ao conhecimento da mensagem cristã
mas igualmente à introdução na comunicação com Deus na oração
e na celebração dos mistérios da fé bem como na prática do
Evangelho e na vida da comunidade. Deste modo, se formaram
comunidades cristãs que testemunhavam a fé na fraternidade
admirável dos seus membros e no empenho de irradiar o
Evangelho à sua volta.
Nos tempos em que a sociedade era considerada cristã no seu
conjunto, o catecumenado entrou em desuso. Hoje com a
descristianização progressiva, o Magistério da Igreja
recomenda-o de novo como pedagogia mais adequada para fazer
cristãos ( AG 13 e 14; RICA; CDC c. 788 e 851; CIC.1229-1231).
Deste modo, devemos oferecer a todos um itinerário de
iniciação para o Baptismo ou para a Confirmação ou para
retomar a vida cristã.
b) Implicações práticas para a catequese.
A iniciação cristã convida-nos a rever a nossa forma de fazer
catequese e propõe-nos algumas implicações práticas, como (Cf
DGC 67 e 68):
· Uma formação orgânica e sistemática na fé, que proporcione
uma aprendizagem a toda a vida cristã sem se reduzir ao
ocasional ou ao ensino: “Trata-se de educar no conhecimento
e na vida de fé” (DGC 67). Não basta transmitir conteúdos,
explicar a fé e falar de Cristo. É indispensável que a
catequese faça “ver Jesus” (NMI 16), actualizando o convite do
Evangelho: “Vinde e vede” (Jo.1,39).
· Um itinerário de conversão de si mesmo ao Deus vivo. A
catequese tem como finalidade promover a comunhão com Jesus
Cristo (DGC 30). Deve, por isso, mostrar claramente a
identidade cristã em confronto com a cultura actual,
consciencializando das fragilidades e falhas pessoais e
sociais, caracterizando o perfil do discípulo de Cristo que
segue um projecto diferente do mundo e se torna, pela sua
edificante forma de viver, alma da sociedade.
· Um itinerário com fases que correspondam a níveis de
crescimento, celebradas com ritos próprios. É necessário que a
passagem das fases corresponda à aquisição de capacidades e
competências, à aprendizagem de gestos e à assimilação de
conhecimentos.
· Uma relação mais forte da catequese com a liturgia. De facto
a liturgia é a fonte e o cume de toda a vida cristã (Cf LG
11), onde os catequizandos experimentam o que ouvem na
catequese e descobrem os sinais visíveis da presença e acção
de Deus; por isso, a catequese deve iniciar aos espaços,
gestos, comportamentos, símbolos, ritos celebrativos. E,
sobretudo, levar a viver na celebração litúrgica e na oração o
que aprendem sobre a vida cristã.
· Uma ligação mais forte da catequese à comunidade cristã, sua
origem, ambiente e meta. A comunidade cristã é chamada a
acolher e a acompanhar o itinerário de crescimento na fé.
· Uma catequese que não fique no conhecimento da fé e na
celebração da liturgia mas eduque no amor a Deus e aos outros
e conduza ao compromisso de ser fermento do Reino de Deus no
mundo.
5. A COMUNIDADE CRISTÃ AMBIENTE VITAL DA CATEQUESE.
A comunidade cristã é o sujeito, o ambiente e a meta da
catequese. Na verdade, a vida cristã é um facto comunitário,
recebe-se, aprende-se e vive-se na Igreja, mistério de
comunhão. Na vida das comunidades, a fé cristã torna-se um
acontecimento vivido e actual, incarnado em pessoas,
testemunhado em gestos e formas de viver. Nas actividades
eclesiais da comunidade que realizam a missão pastoral global,
a Palavra de Deus alcança a sua plena realização como Palavra
proclamada no anúncio do evangelho, celebrada na liturgia e
praticada no serviço fraterno da caridade. A comunidade cristã
apresenta, deste modo, um testemunho vivido da fé no qual a
catequese encontra a sua base de apoio.
a) Comunidade cristã, sinal e instrumento de salvação.
Enquanto presença da Igreja no meio da vida das pessoas, a
comunidade cristã constitui um sinal e um instrumento de
salvação. Torna, portanto, visível e operante na vida das
pessoas o amor do Pai, a graça redentora de Cristo, e a força
do Espírito Santo. Oferece, deste modo, sinais e referências
concretas do mistério da fé proclamado na catequese. Numa
cultura marcada pelo visual e sensível às experiências
vividas, a vida da comunidade cristã é um apoio indispensável
na educação da fé.
Por isso, as comunidades cristãs precisam de assumir a
transmissão da fé como responsabilidade de todos e não apenas
de algumas pessoas de boa vontade que se especializaram para
esta actividade. Como referiu a mensagem ao povo de Deus do
Sínodo de 1977: “A comunidade cristã constitui o lugar ou o
quadro habitual da catequese. A catequese não é uma função
meramente individual, mas deve realizar-se sempre na dimensão
da comunidade cristã" (MPD 13).
Com o coração se crê (Cf Rom 10,9-10). A adesão a Jesus Cristo
passa pelo afecto, é incentivada pela relação fraterna e pelo
acompanhamento interessado da comunidade cristã: ”A
catequese é, portanto, uma acção educativa realizada a partir
da responsabilidade própria de cada membro da comunidade, num
contexto ou clima comunitário rico de relações, a fim de que
os catecúmenos e os catequizandos se insiram activamente na
vida da comunidade” (DGC 220). Esta educa na fé quando
acolhe, quando ensina e testemunha a vida cristã por gestos e
sinais da liturgia e da caridade, quando vive o evangelho como
proposta de vida diferente do mundo.
b) Responsabilidades dos vários ministérios.
Dentro da responsabilidade comum de todos os fiéis,
destacam-se tarefas diferentes. Antes de mais a dos pastores
que orientam a comunidade. São eles que podem “suscitar e
alimentar uma verdadeira paixão pela catequese, que se
concretize numa organização adaptada e eficaz” (CT 63).
Compete aos pastores procurar que a catequese seja,
efectivamente, uma actividade prioritária na missão pastoral
dedicando-lhe “os melhores recursos de pessoal e de
energias, escolhendo e formando pessoas qualificadas”(CT
15). Pertence também aos pastores suscitar a
corresponsabilidade da comunidade pela catequese e integrar a
acção catequética na pastoral global, “cuidando
especialmente da ligação entre catequese, sacramentos e
liturgia” (DGC 225). Esta responsabilidade implica que a
formação permanente do clero se estenda também à área
catequética
A família exerce uma influência decisiva na educação humana e
cristã dos filhos (Cf CT 68). A comunidade de amor familiar,
envolvida pelo ambiente de ternura, de afecto e de respeito,
contribui de forma marcante para o despertar da fé pois esta é
uma relação de amizade, respeito e confiança em Deus nosso
Pai. “Este despertar religioso infantil no ambiente
familiar tem um carácter insubstituível” (DGC 226). Ao
longo de séculos têm sido sobretudo as famílias a assegurar a
transmissão da fé aos filhos, bem como a sua integração social
e a educação para os valores. Actualmente torna-se necessário
sensibilizar e formar os pais para que retomem a sua
responsabilidade de primeiros e principais educadores. De
facto, algumas décadas atrás, muitos pais deixaram-se cair no
descuido ou nalguma confusão quanto ao seu papel de
educadores. Ora a família que dá origem à vida tem também a
responsabilidade de dar sentido e contribuir para o pleno
desenvolvimento dessa existência, enriquecendo-a com o
património moral e espiritual que vem do cristianismo.
Sendo assim, a comunidade cristã não pode substituir os pais
mas deve colaborar com eles na educação dos filhos. Como
frequentemente não estão esclarecidos nem preparados para esta
missão, é hoje urgente e indispensável que as comunidades,
seus pastores e responsáveis definam um projecto de
sensibilização e de formação de pais que integre um conjunto
de propostas adequadas às suas situações e possibilidades,
como: reuniões periódicas bem preparadas, formação cristã
orgânica de pais aproveitando até os tempos dos encontros de
catequese dos filhos para uma catequese paralela com os pais.
Na transmissão da fé ocupam um lugar especial os catequistas
que em nome da comunidade orientam os vários grupos da
catequese não só da infância e adolescência mas também de
jovens e adultos. São eles o rosto e porta-voz da fé da Igreja
e testemunhas da experiência de fé das comunidades. Não apenas
transmitem conhecimentos religiosos mas iniciam nas várias
dimensões da fé: na oração, na celebração da liturgia e no
comportamento cristão, a partir da sua experiência pessoal de
vida cristã. Não se devem considerar como professores que
ensinam a doutrina cristã mas, sobretudo, como discípulos de
Jesus Cristo que guiam no caminho que eles próprios se
esforçam por seguir. Enquanto educadores da fé são o coração
das nossas comunidades que vivem da Palavra do Senhor e do pão
da vida.
Assim a escolha criteriosa e a formação sólida destes obreiros
do Evangelho deve tornar-se uma das principais preocupações
dos pastores que reconhecem a prioridade da catequese.
A dimensão comunitária da catequese implica a renovação da
Igreja na perspectiva de comunhão e de participação. Num
ambiente marcado pelo individualismo e tentado pelo egoísmo, a
vida fraterna dos discípulos de Jesus e a sua disponibilidade
para o serviço gratuito é o testemunho indispensável apara
apoiar a evangelização: “Fazer da Igreja a casa e a escola
de comunhão eis o grande desafio que nos espera no milénio que
começa, se quisermos ser fiéis ao desígnio de Deus e
corresponder às expectativas mais profundas do mundo” NMI
43).
6. PERCURSOS DIFERENCIADOS DE CATEQUESE.
Durante muito tempo consideraram-se as crianças como os
destinatários privilegiados de catequese. Hoje esta actividade
pastoral deve dirigir-se a todas as idades, pois todas as
idades precisam de ser evangelizadas (Cf DGC 33). Na verdade,
em todas as fases etárias encontramos muitas pessoas que
necessitam de uma catequese de iniciação que proporcione uma
formação cristã de base e garanta uma aprendizagem de toda a
vida cristã centrada na conversão e no seguimento de Jesus
Cristo (Cf DGC 67). Como referem vários documentos do
Magistério, muitos nascidos em países cristãos e baptizados na
infância, encontram-se na situação de quase catecúmenos (Cf CT
44; E in E 46-47).
a) Catequese adaptada às várias situações.
Por outro lado, a situação cultural e religiosa da Europa
exige a passagem de uma fé apoiada na tradição social a uma fé
mais pessoal e adulta, esclarecida e convicta. Só assim os
fiéis poderão confrontar-se, criticamente, com a cultura
actual e influir, eficazmente, nos vários sectores da vida
social: cultura, economia, política, etc. (Cf E in E 50). Para
alcançar uma fé mais madura e pessoal, é preciso que as
comunidades cristãs procurem propor uma catequese adaptada aos
diferentes itinerários espirituais dos fiéis, segundo as
respectivas idades e estados de vida (...). "Uma catequese
orgânica e sistemática constitui, sem sombra de dúvida, um
instrumento essencial e primário de formação dos cristãos para
uma fé adulta” (E in E 51).
A catequese de iniciação, orgânica e sistemática, é uma etapa
do crescimento que lança os fundamentos da vida cristã (Cf DGC
63-68). Aqueles que já a alcançaram necessitam da educação
permanente da fé que acompanhe o crescimento na santidade e
integre plenamente na vida e missão da Igreja. Esta educação
permanente da fé pode revestir muitas formas, como: estudo da
Sagrada Escritura, privilegiando a pedagogia da “lectio
divina”; leitura cristã dos acontecimentos; catequese
litúrgica; preparação dos sacramentos; formação cristã de pais
(Cf DGC 69-71).
Assim, a catequese, como consequência da fidelidade a Deus,
deve manter também uma atenção constante ao ser humano,
auscultando “as suas experiências mais profundas” (DGC
78); deve respeitar a mensagem e a pessoa concreta “por uma
diligente adaptação” (DGC112) e, num esforço constante de
inculturação que respeite a integridade da fé, deve tornar o
Evangelho “acontecimento verdadeiramente significativo para a
pessoa humana” (DGC 97).
b) A catequese dos adultos como referência.
A catequese dos adultos é verdadeiramente a referência para
toda a catequese, é como um eixo ou princípio organizador, em
volta da qual se estrutura a catequese das diferentes idades (Cf
DGC 171; 275). De facto, são eles que formam a base das
comunidades cristãs e orientam a vida social, cultural e
familiar. Têm, deste modo, mais responsabilidades, questões e
dificuldades mais complexas e necessitam, portanto, de maior
formação. Por outro lado, têm capacidade de aprofundamento da
fé em relação com a cultura e com as responsabilidades
sociais, familiares e eclesiais.
Esta orientação do Magistério, que tem sido uma insistência
desde o Concílio Vaticano II, começa a dar frutos na prática.
Tem aumentado, ultimamente, o número de candidatos jovens e
adultos que procuram o Baptismo, ou a Primeira Eucaristia ou o
Crisma, ou simplesmente desejam recomeçar ou aprofundar a vida
cristã, e se dispõem, para tanto, a fazer um itinerário de
catequese. As comunidades cristãs são chamadas a responder a
esta situação com catequistas e propostas de formação
correspondentes ao nível deles.
c) Propostas diferenciadas.
Deste modo, na actual situação pede-se às comunidades cristãs
e aos seus pastores e responsáveis que proponham percursos de
catequese ou de formação adequados para diversas situações e
idades:
· Experiências de primeiro anúncio em ordem ao despertar da fé
e da conversão.
· Catequese de iniciação ou catecumenado para adultos em ordem
a preparar o Baptismo, ou outro dos sacramentos da iniciação
cristã, ou a reiniciar o caminho da fé, que lhes permita uma
formação orgânica e sistemática.
· Catequese de iniciação da infância e adolescência. Na
infância com dois pólos: Primeira Comunhão e Profissão de Fé.
Na adolescência com dois pólos também: o sentido da vida e o
compromisso cristão. Este itinerário poderá culminar na
celebração do Crisma.
· Itinerários de preparação para os sacramentos que tenha
presente a pedagogia catecumenal.
· Algumas formas de educação permanente da fé, como: formação
litúrgica; cursos bíblicos em ordem à prática da “lectio
divina”; formação cristã de pais.
· Alguns destes percursos necessitam de instrumentos
catequéticos adequados que à frente referiremos.
A formação cristã dos adultos e dos jovens mereceram já da
Conferência Episcopal Portuguesa duas Instruções Pastorais,
respectivamente: “Formação cristã de base dos adultos” (1994)
e “Bases para a pastoral juvenil” (2002). Para elas remetemos
em ordem a um aprofundamento dos percursos próprios destas
idades.
7. CATEQUESE E CATECISMOS.
Os catecismos são instrumentos para fazer catequese.
Desempenham uma função importante mas não são suficientes. Na
verdade, a transmissão da fé assenta em vários outros
elementos como o testemunho da Igreja, o exemplo de vida
cristã da família e da comunidade local, o percurso pessoal de
fé, a comunicação entre o catequista e catequizando, etc. Os
catecismos são textos escritos de apoio que precisam de vida.
É a comunidade cristã e o catequista quem dá vida ao
catecismo.
Os catecismos surgiram na época da reforma e da contra-reforma
com uma configuração própria para a situação dessa época: como
resumos da doutrina e da prática do cristianismo, apresentados
de forma metódica, com uma formulação adequada à memorização.
Tinham em vista conduzir ao conhecimento de Deus e do Seu
enviado Jesus Cristo e, através deste conhecimento alcançar a
vida eterna, segundo ensina São João (1 Jo 17,3). Nessa época,
para vencer a ignorância e enfrentar as heresias, a Igreja
procurou comunicar aos fiéis o conhecimento da doutrina
cristã, resumida em quatro grandes colunas que correspondem às
várias dimensões da vida cristã: o que o cristão deve crer
(Símbolo); o que deve esperar (Pai Nosso); o que deve praticar
(Decálogo); a graça que precisa de receber (Sacramentos). O
catecismo tornou-se uma instituição de primeira importância na
transmissão da fé.
A partir de meados do século XX, a situação social e
religiosa, bem como o desenvolvimento da psicologia e da
pedagogia, levaram a prestar atenção a outros aspectos
catequéticos que passaram também a integrar os catecismos: a
relação da fé com a vida real, a iluminação das experiências
humanas e a educação das atitudes de fé. Tornou-se necessário
procurar o equilíbrio entre a exposição do conteúdo doutrinal
e a dimensão antropológica e pedagógica.
a) Estrutura fundamental do catecismo.
A publicação do catecismo da Igreja Católica traz-nos luz
sobre o conteúdo do catecismo para o nosso tempo: “Um
catecismo deve apresentar, com fidelidade e de modo orgânico,
o ensino da Sagrada Escritura, da Tradição viva da Igreja e do
Magistério autêntico, bem como a herança espiritual dos
Padres, dos santos e santas da Igreja, para permitir conhecer
melhor o mistério cristão e reavivar a fé do povo de Deus.
Deve ter em conta as explicitações da doutrina que, no decurso
dos tempos, o Espírito Santo sugeriu à Igreja. É também
necessário que ajude a iluminar, com a luz da fé, as novas
situações e os problemas que no passado ainda não tinham
surgido.
O catecismo incluirá, portanto, coisas novas e velhas (Cf Mt
13,52), porque a fé é sempre a mesma e, simultaneamente, é
fonte de luzes sempre novas” (FD 3).
Este texto de referência para os catecismos locais, retoma a
“antiga ordem”, tradicional, já seguida pelo catecismo de São
Pio V, articulando o conteúdo em quatro partes: o Credo; a
sagrada liturgia; o agir cristão, a partir dos mandamentos; e,
por fim, a oração cristã (Cf FD 3). A articulação em quatro
partes permite desenvolver os aspectos essenciais da fé e
orientar na educação cristã integral: Crer em Deus Pai
Criador, em Jesus Cristo, no Espírito Santo e na Igreja que
realiza o seu desígnio salvífico; alcançar a santificação
através dos sacramentos; amá-Lo de todo o coração e ao próximo
como a nós mesmos pela prática dos mandamentos; elevar-se à
Sua presença e dialogar com Ele pela oração (Cf DGC 122).
As quatro partes estão ligadas entre si e realçam a profunda
unidade da vida cristã, explicitando a relação entre lex
orandi, lex credendi e lex vivendi (Cf FD 3 e DGC 122). Não
pretendendo impor aos catecismos locais esta configuração, o
Catecismo da Igreja Católica apresenta-se como uma referência
para a transmissão da fé. Na verdade, os catecismos, no seu
conteúdo, devem ter presentes as quatro tarefas fundamentais
da catequese: favorecer o conhecimento da fé; proporcionar
educação litúrgica; orientar na formação moral; ensinar a
rezar.
b) Critérios de elaboração dos catecismos.
O Catecismo da Igreja Católica não elimina, portanto, a
necessidade de catecismos locais, antes os encoraja e ajuda na
redacção. Estes continuam a ser instrumentos necessários para
orientar o acto catequético e acompanhar os percursos de
educação da fé (Cf DGC 131 e 132). Entre nós, aliás, têm um
estatuto reconhecido que está de acordo com as orientações do
Magistério: ” São três os principais traços que devem
caracterizar todo e qualquer catecismo assumido como seu por
uma Igreja local: o seu carácter oficial, a síntese básica e
orgânica da fé que apresenta e o facto de que seja oferecido,
juntamente com a Sagrada Escritura, como ponto de referência
para a catequese” (DGC 132).
Nesse sentido, os catecismos, mantendo a estrutura da história
da salvação, procuram apresentar uma visão de conjunto da fé
atenta à nossa cultura humana e cristã. Ao mesmo tempo têm a
intenção de iluminar, com a luz do Evangelho, as experiências
humanas dos catequizandos a que se dirigem criando critérios
cristãos e educando nas atitudes evangélicas. O relevo da
apresentação orgânica da fé ou da iluminação da realidades da
vida humana, dependerá das características próprias de cada
idade. Nesta síntese da fé, e tendo em conta as referidas
tarefas da catequese, os catecismos seguem os seguintes
critérios:
· Têm como referência o Catecismo da Igreja Católica e como
fonte a Palavra de Deus contida na Sagrada Escritura e na
Tradição da Igreja.
· Por isso, devem ser uma autêntica introdução à “lectio
divina” isto é, à leitura da Sagrada Escritura feita “segundo
o Espírito” que habita na Igreja (MPD 9; DGC 127). As
passagens bíblicas deverão, por isso, ser contextualizadas com
uma breve introdução que as situe e uma breve conclusão que
destaque a mensagem principal.
· Os catecismos procuram apresentar e interpretar os sinais e
testemunhos visíveis de vida cristã, como: vidas de santos;
símbolos litúrgicos; património religioso; manifestações
culturais da fé cristã; expressões da piedade e da
religiosidade popular.
· As catequeses serão relacionadas com a celebração da
liturgia e com os tempos litúrgicos fortes de modo a levar a
viver na celebração o que se aprende na catequese. A liturgia
deve ocupar um lugar de relevo no catecismo.
· A oração deve também fazer parte de cada acto catequético e
ser proposta, nesse sentido, pelos catecismos.
· Cada encontro integra uma breve síntese doutrinal que
permita o acesso à memória da Igreja, colhida do Catecismo da
Igreja Católica ou do Magistério.
· Cada acto catequético deverá conduzir ao encontro com Cristo
e ao compromisso de aplicação na vida quotidiana. Nesse
sentido, deverá ser continuado por actividades concretas.
· Na catequese de infância e adolescência, os catecismos
deverão fazer algumas propostas para chamar a família a
colaborar na transmissão da fé.
· A linguagem deve ser viva, narrativa, fiel à linguagem da
Igreja e ligada à cultura actual, com um fio condutor linear e
acessível.
· O catecismo para a infância e adolescência, dentro da nossa
tradição catequética, integra o guia do catequista e o manual
do catequizando e distribui ao longo de dez volumes, um para
cada ano de catequese, o conteúdo global da revelação em
correspondência com as características próprias de cada idade.
Deste modo, o catecismo precisa de ser entendido como um
elemento integrado num conjunto mais amplo, como tem sido
referido. É na comunidade cristã que o catecismo encontra o
seu meio vital em que pode ser, devidamente, enquadrado e
completado. A função do catecismo é servir de apoio a uma
experiência de fé que nasce e cresce, proporcionando-lhe
desenvolvimento e expressão. Não substitui uma experiência de
iniciação. Deve, antes, apoiá-la enquanto ela exige
inteligência e conteúdo. Por isso, deve ser de estilo “mistagógico”,
no sentido de conduzir ao encontro vivo com Cristo. De
contrário, corre o risco de se tornar mais um livro, entre
outros, como os livros escolares.
Enquanto instrumentos ao serviço da educação da fé, devemos
cuidar da boa qualidade dos catecismos, tanto no conteúdo como
na apresentação. O elevado nível de qualidade é um estímulo
para o bom exercício da missão do catequista e para uma
utilização interessada dos catequizandos.
Dedicamos estas orientações sobretudo aos nossos catequistas
como manifestação do apoio pela nobre e bela missão da
educação da fé que lhes foi confiada. Conhecemos as muitas e
grandes dificuldades que hoje enfrentam e também a fortaleza e
o zelo de que dão provas no desempenho da sua missão.
Desejamos que a revisão da catequese e dos catecismos seja,
para todos os catequistas, um estímulo a renovarem o seu
entusiasmo e dedicação ao serviço da nova evangelização e a
cuidarem cada vez mais da sua formação pedagógica, doutrinal e
espiritual. Neste ano da Eucaristia somos convidados a
fortalecer a nossa confiança na promessa do Senhor de
permanecer sempre connosco (Cf Mt 28,20). É a certeza na Sua
presença e na Sua graça que nos anima a lançar com alegria e
com esperança a semente do evangelho no coração dos ouvintes.
Na Eucaristia está a fonte e o ápice da vida cristã e da nossa
missão de catequistas
Fátima, 23 Junho de 2005
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