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DOCUMENTOS OFICIAIS DA IGREJA
 
A pílula do dia seguinte ou a deseducação do dia antecedente?

Nota da Comissão Nacional Justiça e Paz
28 de Março de 2001



1. Ao País, atulhado de desafios, problemas e dificuldades, o Parlamento acaba de lhe oferecer mais uma dita “reforma fracturante”: a aprovação, por maioria, da lei que disponibiliza, livre e em certas condições gratuitamente, a chamada pílula do dia seguinte. 

Este acto legislativo suscita-nos o mais vivo repúdio. 

Desde logo, porque configura mais um passo estrategicamente delineado contra o primado da cultura da vida e da responsabilidade na sociedade portuguesa. 

A pílula do dia seguinte tem um de dois efeitos: ou o de um medicamento tendencialmente perigoso  (sobretudo quando usado com frequência) se do acto sexual não resultou uma gravidez, ou o de abortar uma gravidez na sequência do acto sexual. 

Por isso, chamar contraceptivo a um medicamento que não é tomado para impedir a concepção, mas para “remediar” a concepção é mais um eufemismo para enganar os incautos, distraídos ou ignorantes. 

No desenvolvimento da vida só há dois momentos verdadeiramente determinantes e qualificativos: a concepção e a morte. Entre estes dois momentos, qualquer métrica da vida não passa de um artifício assente em convenções jurídicas, sociais, económicas, mais ou menos circunstanciais ou relativas. 

Estamos, pois, perante mais um ataque à vida nascente.

A ideia é bem visível: ganhar na secretaria (leia-se: Assembleia da República), o que se perdeu no terreno (leia-se: referendo popular).

A vida jamais poderá estar dependente de ideologias.

A vida não é um conceito mais ou menos moldável segundo as épocas. A vida não é um valor relativo. Pelo contrário, a vida é um valor absoluto e inviolável.

O direito à vida (desde logo, à vida nascente) não se pode confundir em caso algum com o direito sobre a vida.

Por isso e coerentemente, temos afirmado a nossa oposição a qualquer forma de ataque à vida, chame-se ele aborto clínico, aborto químico, eutanásia, ou pena de morte.

2. A gravidade de mais este atentado aos princípios traz consigo, por outro lado, um pressuposto de legitimação comportamental que também repudiamos veementemente. 

De facto, na lei agora aprovada no Parlamento, como de resto na lei sobre educação sexual (travestida de “lei para o reforço das garantias do direito à saúde reprodutiva”), faz-se, directa ou indirectamente, explícita ou implicitamente, o incitamento ou o elogio da divulgação do acto sexual como sendo neutro do ponto de vista pessoal, moral, afectivo e social.

A educação sexual responsável e responsabilizadora parece ser uma mera figura de retórica nestes ditos avanços.

No âmbito de uma educação integral, a escola deve actuar em nome dos pais e por sua delegação e não à margem das famílias ou até contra elas.

É preciso dizer, frontalmente e sem sofismas, que a família tem o direito e a responsabilidade de se assumir como o primeiro e decisivo espaço de realização e desenvolvimento harmonioso da personalidade dos filhos e como o veículo mais estável e perene de transmissão de princípios de vida, afectos e comportamentos.

Que educação sexual é esta que se revê em embalagens de preservativos distribuídos pelas autoridades públicas sanitárias (pagas por todos nós) que qualifica o acto sexual avulso de “valoroso acto” (sic) e tem como principal mensagem escrita a de que – e passa-se a citar - “Estás a um preservativo do melhor momento da tua vida”?

A educação sexual é, indubitavelmente, um imperativo dos dias de hoje.

Mas tal implica que assuma uma perspectiva integral e não redutora, formativa e não desgarradamente informativa, responsável e não permissiva, ancorada  no direito-dever e não baseada no indiferentismo e minimalismo éticos, centrada na estabilidade e não no presentismo, no relativo, no avulso e na poluição afectiva.

3. Mas não é só no plano dos valores que repudiamos esta iniciativa.

É também no campo da justiça social, porque ao mesmo tempo que tudo ou quase tudo se oferece no domínio do “direito à saúde reprodutiva”, não há dinheiro para ajudar muitos que sofrem as injustiças e a ineficiência do serviço público de saúde, de que o exemplo mais desesperante são as listas de espera nos hospitais.

Que equilíbrio é este num Serviço Nacional de Saúde pago pelos contribuintes, que disponibiliza gratuitamente a pílula do dia seguinte, mas que não tem o mesmo tratamento em relação a medicamentos para proteger a saúde, defender a vida ou aliviar a dor?

4. A discussão do diploma agora aprovado no Parlamento ignorou os portugueses. É certo que foram ouvidas algumas organizações da sociedade civil que maioritariamente se pronunciaram contra a iniciativa. Mas, como de costume, fez ouvidos de mercador. Tratou-se, tão só, de um ritual que cumprisse uma discussão mínima garantida e pudesse ser proclamada formalmente.

Ao mesmo tempo, jazem na inércia parlamentar iniciativas que poderiam ajudar a melhorar as condições de maternidade e a incentivar as acções de solidariedade e de voluntariado no acolhimento e apoio às mães e crianças em dificuldade, e são rejeitadas outras, no âmbito da política fiscal, de apoio à família e à maternidade.

5. Em matérias como esta, a Comissão Nacional Justiça e Paz, a Associação Juntos pela Vida e outros movimentos pró-vida, exigem que seja dada voz efectiva e espaço concreto às organizações da sociedade para que a sua opinião e sobretudo a experiência solidária em favor incondicional da vida possam ser justamente consideradas.

Os valores essenciais do país e dos portugueses não podem estar à mercê da nova “ideologia” de sondagens enganadoras que, de facto, não os retratam, nem de modas e conjunturas mais ou menos irresponsáveis.

Como ainda recentemente os Bispos de Portugal escreveram: “As nossas famílias e os nossos jovens mereciam melhor”.

Continuaremos a lutar, com a mesma convicção e determinação, pela primazia da vida, da responsabilidade e da dignidade, como bases para a realização integral da pessoa humana. 

Lisboa, 28 de Março de 2001

A Comissão Nacional Justiça e Paz

 

 

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