Cada vida que nasce e se
desenvolve no núcleo familiar é um acontecimento importante e
enriquecedor: é uma bênção.
Actualmente, os casais cristãos
encontram muitas dificuldades perante a vida:
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do crescente problema da esterilidade conjugal à regulação da fertilidade;
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do medo de eventuais malformações ao temor perante as diversas formas de
doenças possíveis;
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até da percepção de o filho ser uma possível ameaça à harmonia conjugal, à
nem sempre suficiente disponibilidade para redimensionar algumas pretensas
exigências no complexo teor de vida;
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do espectro de uma possível existência infeliz, à ameaça de uma destruição
total da humanidade ou à inevitabilidade de ter de viver num ambiente
irremediavelmente poluído.
As tentações são
muitas.
A mais frequente, desde o início, é a de adiar, às vezes
durante anos, o nascimento do primeiro filho ou, então, a de o
impedir por todos os meios. Daqui surge uma cultura que, preocupada
apenas com uma pretensa qualidade de vida, esquece que, embora essa
preocupação seja realmente importante, legítima e para ser
partilhada, não é um valor primário e absoluto.
Assim, nasce uma
mentalidade que vê na contracepção e no aborto — entendido também
como meio de regulação dos nascimentos — o meio mais eficaz para
resolver o problema.
Face a estas tendências cada vez mais
evidentes e difundidas, a consciência cristã não pode ficar
indiferente. Por isso, com toda a Igreja, sentimos a oportunidade e
a urgência de se promover uma ampla estratégia a favor da vida e de
se solicitar as consciências e a opinião pública em relação à
difundida mentalidade contra a vida, que invade o costume, graças
até a algumas formas de conjura farisaica do silêncio.
Deste
ponto de vista, não podemos deixar de exprimir, uma vez mais, o
nosso juízo negativo sobre o recurso às práticas contraceptivas, ao
aborto e a tudo o que, no fundo, exprima violência, recusa da vida,
incapacidade de enfrentar as responsabilidades com a coragem que vem
da fé e da confiança no amor de Deus pelo homem e pelo seu
futuro.
Na verdade, estamos convencidos de que todos os seres
humanos, do princípio ao fim da sua existência, de acordo com a sua
dignidade intrínseca de «sujeito», constitui um valor em si mesmo,
não instrumental nem subordinável a outros fins e valores.
E,
enquanto com João Paulo II reafirmamos que o «respeito incondicional
pelo direito à vida da pessoa humana já concebida e ainda não
nascida é um dos valores por que se rege qualquer sociedade civil»
(cf. discurso aos participantes à Reunião de Estudos sobre «O
direito à vida e a Europa», 18- -12-1987), estamos conscientes de que,
«nalgumas situações, renunciar ao aborto e acolher a criança pode
até exigir um alto preço em termos de renúncia ao bem estar. Mas o
lucro em termos de «sentido», não só para os pais, mas também para
toda a sociedade (que, então, deve ajudar a suportar os encargos daí
provenientes) é de longe muito superior». É, sobretudo,
importante que os pais descubram e sejam ajudados a descobrir que a
vida é o grande dom que Deus confia à responsabilidade do homem e da
mulher, chamados à dignidade de procriadores, de participantes no
próprio gesto com que Deus suscita uma nova pessoa no mundo.
O
texto de Lucas (Lc 1, 39 45), com o refrão «Bendito o fruto do teu
ventre», sugere nos claramente que, a partir do momento em que
Cristo nasceu de Maria e optou por esta via para vir para o meio de
nós, todas as vidas humanas são definitivamente abençoadas e
acolhidas pelo olhar da misericórdia de Deus.
Cada vida humana é
um dom e uma bênção. Já o dizia também o poeta «Os vossos filhos não
são vossos filhos. São os filhos e as filhas do grande desejo que a Vida
tem em si mesma. Não vêm de vós, mas por meio de vós».
Por isso, repito o convite que fiz às
famílias, para que descubram este valor. A vós, caríssimos agentes
da Pastoral da Família, recomendo que ajudeis as famílias a descobri-lo.
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