Quando se fala de vida e de defesa da vida,
quando se ouvem notícias de descoberta de novos medicamentos
ou de novas técnicas que permitem solucionar doenças graves,
quando surgem pequenos ou grandes heróis que arriscaram a vida
por alguém que corria verdadeiro risco de a perder, quando
nasce uma criança e se vê no rosto dos pais, dos avós e de
algum irmãozito, uma alegria esfusiante, quando se chora e se
lamenta a morte de alguém que comunicava felicidade e paz ou
era o suporte de uma família ou de uma instituição, todos
podemos pensar que, na opinião comum e alargada, a vida tem
muito valor, a vida é o maior valor. Percebemos, então, porque
é que no coração das pessoas vivas está enraizado o dever de
apreciar, defender e promover o dom da vida e de dizer, aos
quatro ventos, que ninguém tem direito a matar.
Nunca fui capaz de perceber na defesa do
direito a destruir a vida de outrem, qualquer sentido de
inteligência ou de progresso, porque não consigo ver aí
qualquer sentido de humanidade. O que se poderá esperar de
quem, seja a que pretexto for, vê com olhos redutores, o maior
de todos os valores, a vida, de tal modo grande, que sem ela,
nada tem sentido nem futuro?
O primeiro problema a enfrentar pela nova
Assembleia da República foi, na militância de alguns
deputados, levar à frente a irresponsabilidade de abrir portas
à destruição livre de nascituros. Discutem-se as semanas de
vida para poder matar, por pouco tempo, porque, em etapas
posteriores, o tempo passa a questão secundária. Fora uma
promessa eleitoral que rendeu votos, tem de se cumprir. Quem
ainda não tem convicções ou só tem interesses a defender,
alinhou de imediato. O grande problema nacional é o referendo
ou uma lei mais permissiva. Estamos informados.
Um deputado novo, logo no primeiro dia de
Assembleia, saiu-se com esta: “Por formação, sou
visceralmente contra o aborto, mas considerando os fenómenos
da modernidade penso que, pelo menos até à maioridade, as
jovens devem poder prevaricar… Até aos 18 anos não têm
maturidade para assumir a responsabilidade de uma
gravidez… Sim, até aos 18 anos, temos de repensar a lei do
aborto… Se já é adulta, tem que ser responsável por isso” (DN
11.3.2005). Assim mesmo. Microfone à frente e aí vem a
sentença. São os novos legisladores a ajudar o país a ir para
a frente…
A obsessão por casos individuais, a dificuldade
em ver o que é essencial para o defender a todo o custo, o
pouco discernimento em relação às necessidades urgentes do
país e das pessoas, a subordinação do bem comum a interesses
ideológicos, tudo isto tem de ser denunciado. A sociedade
democrática dá direito a fazê-lo. O bom senso e o compromisso
de implementar soluções alternativas, obrigam a fazê-lo. São
sempre os defensores da vida que se empenham, de facto, em
iniciativas a favor das mães em dificuldade e das crianças não
amadas. Quem grita na rua, normalmente não suja as mãos com
respostas humanizadas. Ou se trata de um problema cultural,
como tal considerado, ou já nada tem valor.
Quando os horizontes são de morte, a vista é
sempre curta e incapaz de ir além do imediato, de ir ao fundo
dos problemas.
Quem negar que há problemas graves que exigem
soluções válidas e sérias, anda fora da vida. Mas, para quem
defende soluções de morte para problemas da vida, ao contrário
do que se pretende fazer ver, as pessoas passaram a ser
coisas. Expropiam–se quando são adultas, destroem-se quando
são indefesas. |