A terrível batalha jurídica que se
desenrolou nos Estados Unidos, com os tribunais a legislarem sobre o corte
ou não corte do fio que ligava uma mulher à vida, e a luta que decorre em
Portugal a propósito da marcação da
data do referendo do aborto, trouxeram de novo à actualidade o debate
sobre a vida humana.
A questão coloca-se de forma muito
simples: uns defendem que não é legítimo intervir sobre a vida de um ser
humano, desde o momento da concepção até ao momento da morte, outros
consideram que essa intervenção é legítima.
Os primeiros condenam, por exemplo, o
aborto e a eutanásia.
Os segundos aceitam-nos.
O EXPRESSO, não sendo um jornal
confessional, como é sabido, tem-se mantido intransigentemente contrário à
manipulação da vida.
Para nós, é necessário que haja uma
linha clara, nítida, que separe a vida da morte - e que na transposição
dessa linha não exista intervenção de ninguém.
Ora os que defendem a eutanásia e o
aborto estão a admitir que a linha que protege a vida não é nítida, que o
início da vida e o momento da morte são discutíveis, que um ser com menos
de 12 semanas não pode ser considerado um ser humano e que um homem ainda
vivo pode já «merecer» estar morto - sendo admissível, por isso, o golpe
de misericórdia.
Esta aceitação da ideia de que à volta
da vida não deve haver uma linha inviolável mas uma nebulosa, e que são
legítimas as intervenções nessa zona no sentido de interromper a vida ou
apressar a morte, é um passo terrivelmente perigoso.
Porque, além da eutanásia e do aborto,
abre o campo a outras enormidades como a pena de morte.
Ou a pensamentos ainda mais tenebrosos
como este: se uma pessoa deixou de trabalhar e de ser produtiva, se se
tornou um estorvo para os seus familiares, porquê mantê-la viva?
Se a eutanásia é permitida, por que
não alargar esse conceito aos velhos que só representam encargos para a
sociedade e um peso insuportável para os parentes?
Aceitar a manipulação da vida é um
risco tremendo.
Aqueles que, por razões ideológicas ou
porque consideram que isso é«moderno», defendem «causas» como a eutanásia
e o aborto, deveriam pensar um pouco mais a fundo até onde isso nos poderá
levar. |