Santa Isabel de Portugal :: Homilia de Dom Virgílio

SOLENIDADE DE SANTA ISABEL DE PORTUGAL
400 ANOS DA CANONIZAÇÃO - 2025

 

Caríssimos irmãos e irmãs!

A celebração do quarto centenário da canonização de Santa Isabel de Portugal enche-nos de alegria, porque desde essa altura, aquela que era a nossa rainha é também a nossa santa padroeira. Celebramos, por isso, uma história já muito longa e cheia de grandes momentos, uma história que é um apelo e um programa de vida assente em fundamentos sólidos e capazes de nos renovar como pessoas e como povo.

Alegra-nos muito celebrar Santa Isabel de Portugal. Ela distingue-se no panorama conimbricense e no panorama nacional precisamente por ser santa, isto é, por amar a Deus e por amar os irmãos com palavras, com obras e com a entrega da sua vida. Não conhecemos méritos maiores nem glórias mais elevadas, pois a glorificação de Deus e a caridade com os irmãos estão acima de muitos outros feitos bons e valorosos, são como luz que brilha na escuridão e como jardim bem regado, usando as imagens da Profecia de Isaías.

Santa Isabel viveu com intensidade todas as dimensões da sua vida e dedicou-se a muitas atividades familiares, humanas, sociais e políticas. No entanto, a realidade unificadora de toda a sua vida foi apenas a sua fé inabalável em Deus, que a levou a estar em tudo e a fazer tudo com um sentido espiritual e crente. O lugar que deu ao Espírito Santo no seu percurso, o amor a Jesus Cristo na Eucaristia, a oração devota, a consideração das relações familiares, a procura da paz, a relação com os pobres – tudo unido num projeto de vida, numa peregrinação em ordem à santidade que agora celebramos.

Em Santa Isabel vemos realizada uma palavra escrita pelo Papa Francisco, que resume o sentido da vida de um crente. Ele diz: “Para um cristão, não é possível imaginar a própria missão na terra, sem a conceber como um caminho de santidade, porque «esta é, na verdade, a vontade de Deus: a [nossa] santificação» (1Ts 4, 3). Cada santo é uma missão; é um projeto do Pai que visa refletir e encarnar, num determinado momento da história, um aspeto do Evangelho” (Alegrai-vos e exultai, 19).

Neste sentido, a passagem do quarto centenário da canonização de Santa Isabel não é para nós uma simples comemoração. Na condição de devotos, queremos que seja um forte apelo para acolhermos a nossa própria vocação à santidade e a nossa própria missão neste mundo, no momento da história em que vivemos. Também nós, queremos ser “um projeto do Pai”; também nós queremos encarnar o Evangelho e fazer dele o nosso caminho de vida.

Gostaríamos de conhecer melhor Santa Isabel de Portugal, a sua alma, o seu coração, as suas motivações interiores, para não ficarmos somente na dimensão exterior da sua vida nem na repetição das palavras da tradição popular sintetizadas no inspirador milagre do pão e das rosas. Conhecê-la melhor, significa entrar na sua fé, na sua espiritualidade e no âmago teológico da sua vida.

A leitura da Primeira Epístola de São João, que escutámos, oferecia-nos a chave de interpretação da vida e da santidade de Santa Isabel e de todos os que se aventuram pelo mesmo caminho, quando nos dizia: “Nisto conhecemos o amor: Ele (Jesus) deu a sua vida por nós e nós devemos também dar a vida pelos nossos irmãos”. De forma sintética, João dá-nos três elementos fundamentais da nossa vocação e missão de homens e mulheres tocados pela fé e pelo Evangelho: primeiro, conhecemos o amor; segundo, identificamo-lo com Jesus que deu a vida por nós; terceiro, temos como tarefa acolhida livremente, dar a vida pelos irmãos.

A tarefa de conhecer o amor é árdua, uma vez que facilmente se confunde com formas de egoísmo, exige o auxílio da graça de Deus e o esforço humano. A tarefa de identificar o amor com Jesus Cristo, que deu a sua vida por nós, supõe a força do Espírito Santo de Deus, que nos leva ao coração do Deus-amor. A tarefa de todos os dias sair, pensar nos outros, oferecer a vida, trabalhar em favor da justiça, da paz, da harmonia humana, é concretização de um projeto de vida de fé, que move verdadeiramente o nosso pensar, o nosso sentir e o nosso agir no tempo que nos foi dado sobre esta terra em que somos peregrinos da eternidade.

Há, de facto, três aspetos que caraterizam a espiritualidade de Santa Isabel e que nos levam ao âmago da fé cristã.

O amor a Jesus Cristo na Eucaristia marcou profundamente a sua vivência. Queria estar com Jesus todos os dias, queria celebrar os mistérios da fé, queria saborear a presença real de Jesus na história da humanidade e do mundo. Na Eucaristia compreendia o que é o amor de Deus revelado em Jesus, que morre e ressuscita, que dá a vida pelos seus irmãos e que não reserva nada para Si mesmo. Na Eucaristia encontra a realidade e o modelo do amor de Deus a inspirar e a desafiar todos os dias o amor humano a crescer, a ir mais alto, a ser mais puro.

A fé na presença do Espírito Santo é também uma marca decisiva da sua espiritualidade. Sentindo-se débil diante da grandeza de algumas missões que assumiu tanto no âmbito familiar, como social e político, compreendeu como precisava da inspiração e do discernimento que procurava na oração e na abertura à sabedoria do Espírito Santo. Os seus esforços no sentido de promover na Igreja a abertura ao Espírito Santo ficaram visíveis nas suas ações e em algumas realizações religiosas ainda hoje bem vivas. No Espírito Santo de Deus encontramos nós a possibilidade de conhecer o caminho para Cristo, a inspiração para a paz social, a força para a comunhão entre todos os batizados e para a fraternidade universal desejada pelo Deus Criador e inscrita na nossa humanidade.

A caridade como reflexo do amor de Deus e como sinal do rosto de Jesus impresso no rosto de cada irmão e irmã, é, porventura, a parte mais visível e universal da espiritualidade de Santa Isabel. Sente-se bem entre os pobres e doentes, ama estar com quem precisa, entra no Evangelho das bem-aventuranças e das obras de misericórdia, que são a expressão do coração de Jesus e transforma no distintivo do seu coração. Precisamente por ser santa, por ser pobre entre os pobres, por levar o Evangelho do amor na mente, no coração, no regaço e nas mãos, o povo gosta dela, sente-a como sua e recorre a ela como intercessora no meio das suas aflições. 

Santa Isabel conheceu o amor de Deus em Jesus que deu a vida por nós; conheceu o amor fraterno quando pôs a sua vida ao serviço dos pobres que Jesus ama e salva. É, por isso, a grande figura de Coimbra, cuja santidade inspira mais do que qualquer outra que tenha nome entre os grandes desta terra.

Continuamos a pedir a sua intercessão para que todos tenham pão, tenham paz e tenham o amor em que acreditou, que conheceu e que continua a irradiar ainda hoje para o povo que a celebra e a aclama como Rainha Santa de Portugal.

 

Coimbra, 04 de julho de 2025
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

 

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