AS BEM AVENTURANÇAS E A SOCIEDADE ATUAL
José Barreiros
A busca pela felicidade sempre residiu no coração da humanidade. Todo o ser humano deseja, no fundo, ser feliz. Essa profunda aspiração leva-o a pensar, agir, reagir, a viver com o objetivo de ser feliz. Apesar de todos aspirarem à felicidade, ela parece difícil de alcançar na nossa sociedade atual. Como podemos ser felizes apesar das dificuldades da vida, do sofrimento, da dor, dos obstáculos, das perdas sofridas e da miséria e violência presenciadas? Num mundo onde muitos acreditam poder encontrar a felicidade através da espiritualidade!
As bem-aventuranças orientam para isso e são uma provocação ao mundo porque subvertem os valores convencionais, proclamando felizes aqueles que são considerados fracos ou perdedores pela lógica universal, como os que choram, os humildes, os mansos, os misericordiosos e os perseguidos por causa da justiça. Elas desafiam a cultura do orgulho e do poder, oferecendo uma alternativa de felicidade baseada na fé, na compaixão e na justiça. Em vez de procurar poder e riqueza, o caminho das bem-aventuranças propõe que a verdadeira felicidade está na relação com Deus e no serviço ao próximo, mesmo que isso signifique ser mal compreendido ou perseguido
As Bem-aventuranças são um reflexo da experiência humana vivida por Jesus. Mas elas também ilustram a experiência de cada um de nós que é convidado a ter acesso a uma vida feliz, sendo o caminho que devemos trilhar para nos tornarmos mais humanos. Viver plenamente a nossa humanidade, tornamo-nos cada vez mais presentes no nosso ser, descobrir a nossa parte divina, habitada pelo amor que as Bem-aventuranças nos convidam a fazer, é um convite a viver uma vida plena e florescente. Essa vida começa no nosso íntimo. Assim, viver as Bem-aventuranças é ser o sal da nossa humanidade, dar sabor e significado ao mundo de hoje. Aceitando uma felicidade que é possível apesar do nosso estado, da nossa condição, das nossas tristezas e dos acontecimentos e das dificuldades da vida, podemos ser portadores dessa luz que habita em nós e, assim, viver a promessa das Bem-aventuranças. Podemos então compreender as Bem-aventuranças como uma sinfonia de felicidade. Uma sinfonia onde cada uma delas faz vibrar o seu instrumento ao som do amor, para que os nossos seres possam cantar em uníssono a felicidade de viver em alegria e júbilo. São esses os indicadores que nos guiam em direção ao Reino de Deus estabelecido em cada um de nós, o caminho para a felicidade. Consequentemente, entendemos que a felicidade apresentada nas Bem-aventuranças está relacionada com ideais, requisitos, atitudes e orientações para a vida, permitindo-nos viver uma vida feliz, plena e harmoniosa, na qual o relacionamento com Deus e com os outros, assume o seu pleno significado. É por isso que concebemos a felicidade das Bem-aventuranças como uma felicidade relacional, que se estabelece primeiramente dentro de nós. Ao aprendermos a conhecermo-nos, estamos disponíveis para viver uma vida feliz. Além disso, é por meio do nosso próprio relacionamento que somos capazes de construir uma ligação saudável com os outros e com Deus. Através da autodescoberta, descobrimos quem somos realmente e tomamos consciência da nossa condição. Por meio das Bem-aventuranças, somos chamados a transformar as nossas vidas em todos os aspetos, para curar as nossas feridas, para sarar os nossos corações feridos pelos acontecimentos da vida. Esse remédio é o amor! Para experimentar esse amor, Cristo diz-nos para mergulharmos nas profundezas do nosso ser e encontrarmos a nossa essência mais profunda. É aprendendo a conhecer-nos que seremos capazes de reconhecer as nossas deficiências, que seremos capazes de mudar a nossa perceção e a nossa interpretação para que não soframos mais. E a cura total será alcançada quando acolhemos o Amor divino dentro de nós e aceitamos ser transformados por ele.






