A Humanidade como Vantagem Competitiva
Num mundo onde a liderança é frequentemente medida por números, resultados e metas, torna-se essencial recordar que o verdadeiro poder de um líder reside na sua humanidade, na capacidade de se aproximar dos outros, especialmente dos mais frágeis e pobres. É este um dos desafios que o Papa Leão XIV, nos deixa na sua recente exortação apostólica “Dilexi te”, que apresentou este mês.
Liderar com visão e estratégia é indispensável, mas não basta. A missão de um líder não se cumpre apenas nas decisões estratégicas que desenham o futuro das empresas e das organizações, mas também passam pela forma como essas decisões tocam a vida das pessoas, na forma como o líder contacta com os outros e no amor que demonstra pelos mais pobres e esquecidos. O líder que ignora o sofrimento dos outros ou que se fecha nas lógicas de mercado perde a essência da sua vocação.
Sem essa atenção pessoal, a economia moderna corre o risco de se tornar “sem rosto”, centrada em resultados que esquecem o valor das pessoas. O desafio ético e humano da liderança contemporânea é resistir a essa tentação. A verdadeira excelência não se mede apenas em lucros ou crescimento, mas na capacidade de gerar bem-estar, dignidade e oportunidades para aqueles que com ela interagem. A prosperidade sustentável nasce quando a estratégia se alia à compaixão e a inovação caminha juntamente com a justiça social.
Um líder que vive fechado no seu escritório, na sua realidade, pode comandar, mas não transforma. A transformação começa no encontro: no olhar atento ao colaborador que luta, ao fornecedor em dificuldade, ao cliente que confia, e também ao pobre e ao excluído, que muitas vezes permanecem invisíveis.
Liderar é um exercício de integração — unir razão e empatia, eficiência e cuidado, visão e proximidade. É entender que o sucesso de uma empresa não se constrói apenas com inteligência técnica, mas com sabedoria moral. É transformar o poder em responsabilidade e a estratégia em oportunidades.
A missão de um líder é devolver rosto à economia, sentido às decisões e esperança às pessoas. Não há algoritmo que substitua o toque humano. Quando a liderança se torna encontro com outros, nasce uma nova forma de fazer empresa — uma empresa que não produz apenas, mas também eleva; que não lucra apenas, mas também cura.
O líder que ousa ir ao encontro dos outros, que tem a coragem de tocar a realidade dos mais frágeis e pobres é o que verdadeiramente lidera e tem a capacidade de construir o futuro.
Fica o exigente desafio do Papa Leão XIV, para que nunca esqueçamos os outros, cabe agora a cada um de nós concretizá-lo na sua vida pessoal e profissional.
Paulo Barradas Rebelo
Presidente do Núcleo da ACEGE de Coimbra e Membro da Comissão Diocesana Justiça e Paz de Coimbra
Coimbra, 24 de outubro de 2025






