POR QUEM E A QUEM ESTAMOS A DAR A VIDA - Nuno Santos

Um homem vê a sua filha a morrer. Imaginemos a dor e a tristeza do seu coração. Desesperado vai à procura de ajuda e está disposto a tudo. Este homem chama-se Jairo e é chefe da sinagoga. Quando encontra o Jesus, ‘outro judeu como ele’, ajoelha-se aos seus pés e suplica-lhe com insistência que ‘cure a sua filha’ (Lc refere que era a filha única).
Então Jesus dirige-se à casa de Jairo, com Pedro, Tiago e João (os mesmos que depois estarão presentes no momento da Transfiguração do Senhor). Ao chegarem a casa encontraram um grande alvoroço com gente a chorar – lamentos (Lc), gritos (Mc) e os flautistas (Mt). Sinais de que a menina já estaria morta.
Mas Jesus vendo tudo isto disse: «A menina não morreu, está a dormir». Todos se riram dele. O riso de quem ‘está sempre do lado de fora’, de quem não se implica com os problemas reais, de quem não ‘arrisca sujar as mãos’ – o riso da indiferença.
Interessante reparar que onde outros veem apenas ‘morte’, Jesus vê possibilidade de ‘vida’ – eis o caminho do milagre. Jesus «tomando-lhe a mão, disse: ‘Talitha qûm!’, isto é, ‘Menina, sou Eu que te digo: levanta-te!’». E a filha de Jairo ‘retoma a vida’, como acontecerá com o filho único da viúva de Naim e com Lázaro (retomar a vida é diferente de ressuscitar).
O milagre é feito de ‘toque’ da mão e da ‘palavra’ proferida. Um aspeto muito importante que certamente nos liga a muitos milagres de Jesus onde gesto e palavra se iluminam e se unem como força capaz de curar e de dar (mais) ‘vida’ (numa hierarquia, radical e evangélica, onde o gesto precede a palavra). Este ‘toque’ é sinal concreto de proximidade e de não indiferença. Num momento de dor e de sofrimento o toque, mais do que a palavra, são sinal profundo de compaixão e ajudam a ‘viver’ – quantos de nós não experimentámos isto mesmo?!
Mas o evangelho de hoje não termina aqui porque este Jesus que ‘toca’ a menina (com cerca de doze anos) é o mesmo que, versículos antes, quer saber quem o tocou no meio da multidão. Mesmo no meio da multidão Jesus está atento a cada pessoa. Outro milagre – o da mulher que tinha um fluxo de sangue (há doze anos) e que Jesus curou. As duas mulheres são libertadas: uma da doença e outra da morte. Ambas estão a ‘desligar-se’ da vida. Mas Jesus dá-lhes a vida e a força necessária para retomar o ‘caminho’ – para se ‘levantarem e andarem’.
«Deixando-se tocar e tocando, Jesus vive em con-tacto com pessoas e coisas, realizando, contra todos os preceitos e preconceitos religiosos, a presença de um Deus que, de facto, não é insensível nem intocável» (José Frazão Correia).
De facto, Deus ama a vida e quer dar (mais) vida a todas as vidas: às vidas adormecidas, às vidas presas à doença, às vidas fechadas em si mesmo, às vidas perdidas na multidão, às vidas entristecidas pelos dramas quotidianos… E nós, que recebemos vida d’Ele, a quem estamos a dar mais vida?! 

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