MISSA DA CEIA DO SENHOR – 2025
Caríssimos irmãos e irmãs!
A Missa da Ceia do Senhor, na noite de quinta-feira-santa, oferece-nos a possibilidade de revisitarmos o sentido da nossa vida em Cristo e com a comunidade humana. Não cessamos de afirmar a centralidade de Jesus Cristo no caminho da nossa vida e da nossa fé. Não cessamos de afirmar a centralidade da Eucaristia na edificação da Igreja e como desafio para o nosso modo de estar no mundo.
O Sínodo sobre Sinodalidade retoma o ensino da Igreja e salienta três dimensões da nossa peregrinação em comunhão com Cristo e com os irmãos, que têm no mistério da Eucaristia o seu centro e o seu cume: caminhamos juntos como peregrinos; reunimo-nos em assembleia que celebra a Eucaristia; partimos juntos para a missão evangelizadora (cf. Documento Final, 31).
Esta noite santa leva-nos a entrar em maior profundidade no encontro com a Pessoa de Jesus, que caminha connosco, se reparte como Pão da Vida e parte connosco a proclamar as maravilhas de Deus. Este é o mistério da Sua comunhão connosco e da Sua presença viva no meio de nós, que celebramos de forma sacramental e real na Eucaristia em que anunciamos a Sua morte até que Ele venha. Toda a vida do cristão é caminho para Cristo, é comunhão com Cristo e é anúncio de Cristo, não como três fases diferentes da nossa existência, mas como dinamismos que sempre nos acompanham.
Esta noite santa leva-nos a compreender mais profundamente quem é este Cristo, cuja morte e ressurreição celebramos na Páscoa: é o Filho de Deus feito Homem; é o ungido do Pai que anuncia a boa nova nos caminhos da Galileia; é o Filho do Homem que se oferece livremente ao Pai na cruz por todos nós; é o Ressuscitado, que envia os seus discípulos em missão até aos confins da terra. Ele é ao mesmo tempo o Cristo presente em cada pessoa que caminha sobre esta terra e que é meu irmão e minha irmã, com quem Ele me ensina a viver em comunhão de fraternidade e amor, seguindo o Seu coração que O leva a acompanhar a todos no seu caminho, a distribuir o Pão da caridade e a anunciar-lhes a feliz esperança no presente e a eternidade no futuro.
Cristo caminha connosco e impele-nos a caminhar juntos com a humanidade. A presença de Cristo na Eucaristia não é uma presença estática ou somente para consolo dos cristãos; é uma presença viva e ativa, que O faz caminhar com a humanidade em todas as suas alegrias e dores, que O faz tomar-nos pela mão, que nos anima no caminho e nos dá a esperança única de que precisamos.
Quem ali O encontra em comunhão de amor, de amor que se dá e que dá a vida, sente-se de facto consolado e renovado interiormente, encontra n’Ele a esperança para caminhar com Ele e com os outros. Caminhamos com Ele e como Ele não podemos deixar ninguém para trás, pois Ele não veio para alguns, mas para todos e quer que todos aceitem o convite para ir com Ele.
Não pode haver cristão nem comunidade cristã que não assuma esse desafio amoroso de acolher os irmãos, caminhar com eles com o desejo profundo de os conduzir ao mesmo Senhor. Preocupamo-nos muito e justamente com os crentes, com a comunidade cristã já constituída, mas não podemos deixar perdidos na vida os homens e mulheres que não creem. Muito menos podemos ignorar os que são chamados à bem-aventurança mesmo na sua pobreza ou debilidade causada pela doença, pela idade avançada ou pela exclusão social.
Bem-aventurado o Papa Francisco que, nos recordou com voz poderosa o dever de caminharmos juntos, todos, todos, todos, acolhendo a largueza do coração de Deus que, em Cristo, caminha com todos, ama a todos e quer salvar a todos.
Cristo oferece-se ao Pai por nós e convida-nos a oferecermo-nos com Ele na Eucaristia que celebramos, adoramos e vivemos. Domingo após domingo, deixamos as nossas atividades habituais para a celebração dos mistérios da fé, no encontro da assembleia reunida para escutar a Palavra, receber o Pão da vida e o Cálice da Salvação. Não deixamos, no entanto, a humanidade entregue a si mesma, como se pretendêssemos cuidar de nós e passar ao lado dos outros.
Com Cristo, em cada Eucaristia, oferecemo-nos ao Pai, por todos. Mesmo que muitos não estejam presentes, não ficam esquecidos nem entregues a si mesmos, pois rezamos por eles e temo-los presentes na oferta do sacrifício de Cristo.
Não pode haver comunidade cristã sem Eucaristia, sem Cristo que se oferece e se reparte por amor. Não pode haver cristão sem celebração da Eucaristia, mistério da caridade de Deus, que se torna sempre mistério da caridade dos homens atuada em palavras, gestos e serviço aos irmãos.
O Evangelista São João deixou-nos a narração do lava-pés que precede a celebração dos mistérios da fé e que se prolonga na vida dos cristãos por meio da caridade fraterna.
Cristo Morto e Ressuscitado anuncia a feliz notícia do amor de Deus e envia a Sua Igreja a proclamar a mesma Boa Nova a todos os povos da terra.
“Fazei isto em memória de Mim”. Trata-se de um mandamento, que não se cinge a pedir-nos que celebremos com fé e amor, mas que alarga à missão de anunciar a morte do Senhor, como sinal de redenção, que impele a evangelizar, a levar Cristo à humanidade sedenta de encontro.
Não pode haver cristão e comunidade cristã sem o dinamismo da evangelização ou da comunicação da fé celebrada na Eucaristia. Quando isso acontece, a comunidade limita-se a esperar que a obra de Deus se realize sem a cooperação humana dos fiéis ou a esperar uma morte a curto ou longo prazo.
O dinamismo evangelizador manifesta claramente a vitalidade da fé celebrada na Eucaristia como dom precioso e único.
Peçamos ao Senhor que nos introduza no conhecimento mais profundo do mistério de comunhão e missão da Igreja, “que tem na celebração da Eucaristia a sua fonte e o seu ponto culminante, ou seja, a união com Deus Trindade e a unidade entre as pessoas humanas que se realiza em Cristo através do Espírito Santo” (Documento Final, 31).
Disponhamo-nos a pôr a Eucaristia no centro da nossa vida, para que nos leve a acompanhar com amor os irmãos, a celebrar com eles os mistérios da fé e a proclamar com alegre esperança a Boa Nova do Deus que nos salva.
Coimbra, 17 de abril de 2025
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra







