Festa de Santo Agostinho :: Homilia de Dom Virgílio

XXII DOMINGO DO TEMPO COMUM C
SANTO AGOSTINHO, PADROEIRO DA DIOCESE DE COIMBRA
IGREJA DE SANTA CRUZ DE COIMBRA 

Caríssimos irmãos e irmãs!

Conta Santo Agostinho no seu livro autobiográfico, “Confissões”, que a sua mãe, Santa Mónica, que rezara pela sua conversão a vida inteira, desejava apenas uma coisa no fim dos seus dias, como diz, textualmente: “ver-te cristão católico, antes de eu morrer”. E continua reproduzindo as palavras da sua mãe: “Deus concedeu-me esta graça de modo superabundante, pois vejo que já desprezas a felicidade terrena para servires o Senhor”.

Por detrás destas palavras está a vida de um filho, que passa pela dura prova da procura da verdade, dos desvios existenciais e morais, das ânsias pelo encontro do sentido da sua vida e do encontro com Deus, a suma bondade e beleza sempre antiga e sempre nova. Por detrás estas palavras está também a vida dos pais, das famílias, que procuram ver crescer os seus filhos em harmonia e felizes, o que nem sempre acontece. Esta é a realidade que continua sempre presente no percurso de cada pessoa e, especialmente, de cada jovem, que cresce para a vida no meio de alegrias e esperanças, mas também perturbações e fracassos.

Somos ainda assim nos dias de hoje: sedentos do Deus vivo, andamos errantes à procura daquilo que pode preencher os nossos corações inquietos; desejosos de conhecer a verdade, buscamo-la ora de formas certas, ora no meio de tentações e desvios provenientes da nossa condição humana; andamos à procura de sentido para o que somos e fazemos a partir da nossa identidade de pessoas e criaturas, mas procurando frequentemente ocupar o lugar de Deus e do Criador; estamos àvidos da felicidade eterna, mas lançando as âncoras às seguranças passageiras e falsas que se nos apresentam como definitivas e duradouras.

Santo Agostinho teve a graça de passar da arrogância das suas seguranças humanas para se encontrar nos braços de Deus e aderir às seguranças divinas; com a ajuda de Deus e as preces da sua mãe, deu o passo no sentido da humildade, que o levou à sinceridade do conhecimento fundado na sabedoria do coração e do ouvido atento à voz interior, que falou mais alto, como referia o texto de Ben-Sirá, proclamado na Primeira Leitura de hoje. Feito um longo percurso interior, ele compreendeu que “o poder do Senhor é grande” e que somente “os humildes cantam a sua glória”, reconheceu os seus erros da vida passada e abriu-se aos caminhos novos da renovação interior, que chegam sempre pela via da conversão ao Deus verdadeiro.

Sublinhamos neste dia o papel insubstituível da graça de Deus derramada nos nossos corações e o lugar sempre necessário da humildade pessoal aliada ao auxílio das testemunhas da fé, concretamente ao auxílio da família cristã, pela força da sua oração e da sua caridade, os sinais maiores do amor divino.

O dom de Deus está na origem da fé de cada um de nós. Precisamos de o reconhecer com toda a humildade de que somos capazes e para a qual somos ajudados pelo Espírito Santo. Vencer as nossas resistências interiores da mente e do coração, apoiados pela graça, é sempre possível, uma vez que o amor de Deus é maior do que as nossas capacidades. Não acontece sem que reconheçamos as nossas culpas, sem que confessemos os nossos pecados - ação que nos esvazia da nossa arrogância para ter lugar em nós Aquele que se aniquilou ao ponto de se fazer Homem e dar por nós a sua vida.

As testemunhas da fé acolhida e vivida têm um lugar imprescindível, porque somos pessoas com os outros, nenhum de nós é uma ilha fechada e somos vulneráveis ao que se vive de mau na sociedade, mas também somos edificados pelo que de bom partilham connosco os que se cruzam connosco no percurso que fazemos. A família cristã, alicerçada na fé e ativa na comunidade humana e cristã, é, normalmente, o testemunho que mais importância tem no processo de nascer e desenvolver a resposta a Deus, no acolhimento de Jesus Cristo, na inserção na Igreja e na transformação pessoal.

A oração constitui o meio de que dispomos para crescer na fé, uma vez que nos confronta diariamente com as nossas realidades e com o amor de Deus espelhado na grandeza da Criação. Sem a oração humilde, sincera e confiante, para e morre o percurso de fé tantas vezes iniciado na infância, que sofre fortes crises na adolescência e na juventude, para depois continuar mais forte ou acabar por se desfazer como fumo na vida adulta.

A caridade da família tem muitas vertentes, que vão da proteção da vida ao acompanhamento fiel de cada um dos seus membros. Passa pela criação das condições materiais e humanas, inclui os projetos culturais e a transmissão dos valores sociais. Para uma família cristã tem de passar também pela comunicação do testemunho da fé, pelo cultivo da espiritualidade cristã, pelos muitos sinais de amor a Deus como Pai e à sua Igreja como Mãe que anima, consola e propõe caminhos de verdade e de vida aos seus filhos.

Uma família pode e deve fazer muito pelos seus membros e a oração constitui o melhor de tudo, pois alia o testemunho humano à gratidão e à súplica pelo seu bem integral. Santa Mónica fez o que de melhor podia pelo seu filho: orou para que abandonasse os critérios do mundo e se centrasse em Cristo e no seu Evangelho, que torna feliz e que salva.

Santo Agostinho, com a humildade própria de um buscador de Deus e da verdade, acolheu a caridade da sua mãe, foi sensível à sua oração feita em lágrimas, usou as suas muitas capacidades intelectuais e todos os dons que recebeu para se encontrar com Cristo e fazer d’Ele a sua sabedoria de vida.

Agradecemos neste dia o convite que recebemos para participar no grande banquete da sabedoria e da vida, onde Cristo se oferece no Pão, no Vinho, na Palavra, na comunidade dos que creem e se dispõem a partilhar o dom que receberam.

Agradecemos neste dia por todos os que trabalham na Igreja em favor da transmissão da fé, proporcionando auxílios intelectuais, leitura dos sinais dos tempos, tempos fortes de leitura da Escritura, de adoração ao Deus Vivo, de celebração na Assembleia Santa e de testemunho alegre e corajosos de fé.

Pedimos pelos jovens em busca de felicidade e pelas famílias que rezam e lhes dão testemunho do amor de Deus, em ato de humildade e caridade pelos que procuram a beleza sempre antiga e sempre nova, por vezes tão tardiamente encontrada.

Coimbra, 28 de agosto de 2022
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

 

 

 

Oral

Genç

Milf

Masaj

Film

xhamster