A catequese de adultos na Diocese

Entrevista ao P. Samelo (Diretor do Serviço de Catequese de Adultos)

Correio de Coimbra (C.C.) – Pe Samelo, começando pelo princípio, o que entendemos por catequese de adultos?
Pe António Samelo (A.S.) – É o aprofundamento da fé, do encontro com Jesus Cristo. Depois de um primeiro encontro com Ele, em que há uma mudança de vida, do estilo e dos critérios de vida, vai-se tentar aprofundar quem é Jesus Cristo, quem é a Igreja, as razões de uma conduta moral no dia-a-dia.

C.C. – Mas nós temos 10 anos de catequese sistemática, que apanha crianças, adolescentes, jovens… Não seria suposto esse encontro com Jesus Cristo estar feito e os conteúdos fundamentais da fé adquiridos?
A.S. – Não. E isto não é uma leitura pelos conteúdos, mas uma observação pelos resultados. Basta verificarmos que temos muitas crianças e jovens que andam na catequese, mas que não vão à Eucaristia, que é fundamental para a vida cristã. A catequese que temos é em moldes muito escolares. Não é por acaso que a maioria das pessoas fala numa aula de catequese. Mas não está a resultar. E uma das coisas que me preocupa muito é nós gastarmos 10 anos com a catequese da infância e da adolescência e mais alguns anos com a pastoral juvenil, e ao fim desse trabalho todo os adolescentes e os jovens não ficam com vontade de seguir Jesus Cristo. Há alguma coisa aqui que não está a funcionar. Por isso, aquilo que esta Equipa dinamizadora da catequese de adultos pretende fazer – e certamente vai levar muitos anos! – é que as energias que se gastam com a catequese infantil, e com a catequese dos adolescentes, sejam para a catequese de adultos. Isto segundo as próprias orientações dos “documentos” da Igreja.

C.C. – Certamente como caminho, e não em substituição da catequese infantil?!
A.S. – Não, claro que não. Mas pondo como prioritária a catequese de adultos. Depois, a seguir, é que virá a catequese das crianças e dos jovens. Só assim é que tem sentido. Porque só quando os pais forem catequisados é que os filhos o poderão ser, seguindo o exemplo dos pais.
O fundamental da catequese de adultos, sob esta perspetiva da relação com a catequese da infância, é que os pais sejam catequisados, de modo a que, pouco a pouco, formem comunidades eclesiais, e que tenham gosto em participar na Eucaristia, que é o fundamental da vida cristã. E que, a partir daí, os filhos vão com eles. Tal como está, estamos ao contrário.

C.C. – Aproveitando o mote das crianças, “catequese de adultos” não soa a uma coisa infantil?
A.S. – Bem, o nome pode ter alguma dificuldade desse tipo. Quando as pessoas ouvem “catequese” ligam o processo à catequese de crianças. A verdade é que a Equipa Dinamizadora já tentou encontrar outra designação e todas as alternativas que estudámos também têm grandes limitações. Como essa é a expressão que já temos, vamos utilizar essa.

CC. – Apesar da catequese infantil poder ser acusada de escolar, andarei próximo da verdade se disser que o processo catequético de adultos também exige um projeto, tem um modo próprio de ser feito…
A.S. – A catequese de adultos, como tal, é uma caminhada de três, quatro anos, com grupos de adultos à volta de 12,..., 16 pessoas.
Portanto, não é andar ali toda a vida. E digo quatro anos porque se exige um primeiro anúncio que proporcione um primeiro encontro com Jesus Cristo, que é aquilo que dá origem ao sermos cristãos e ao sermos Igreja, e que é:” Jesus foi morto, foi ressuscitado, está vivo, está no meio de nós”. Isso leva-nos a uma transformação, tal como aparece no Livro dos Atos: “O que é que havemos de fazer?”.  Resposta: “Convertam-se, recebam o Batismo, caminhem”. Se as pessoas não têm ainda este primeiro anúncio, é preciso começar por aí. Depois temos um processo de mais três anos para aprofundamento dos conteúdos da fé e da vida cristã, nomeadamente sobre Deus, sobre Jesus Cristo, sobre a Igreja, sobre a moral cristã, sobre os sacramentos. Portanto, é uma caminhada de três, quatro anos, ao fim dos quais as pessoas se inserem em comunidades eclesiais existentes, de origem diocesana, ou naquelas que se venham a criar, partilhando a partir daí a fé, celebrando, testemunhando. É um processo de transformação e conversão de vida, não de aulas.

C.C. – Que comunidades eclesiais são essas?
A.S. – Pequenas comunidades nas paróquias. Na teoria já dizemos muitas vezes que a paróquia é uma comunhão de comunidades. Mas normalmente pensamos essas pequenas comunidades como as capelanias. Aqui é preciso pensar diferente: pequenas comunidades, o máximo 12, 14, 15 pessoas que, pelo seu testemunho, vão crescendo e se vão multiplicando, que não ficam fechadas em si mas que se abrem aos outros.

C.C. – Isso conduz-me a uma derivação: é possível pensar a catequese de adultos em termos individuais?
A.S. – Não.

- Mas, por exemplo, não é possível pensar uma catequese de adultos em termos de e-learning (ensino à distância com recurso aos meios informáticos)?
A.S. – Não. Para a catequese de adultos desembocar numa comunidade eclesial de origem diocesana, comunidades que podem ter pessoas de diversos movimentos e organismos, exige o contato e a presença; exige-se a presença. Não pode ser à distância. Mas mais, a fé cristã tem sempre duas dimensões, certamente essa individual, pessoal, mas também a comunitária. E essa tensão entre essas duas dimensões tem que ser vivida, experienciada, na própria catequese.

C.C. – Passando à execução, como está esse trabalho no terreno?
A.S. – Embrionário…

C.C. – Mas há trabalho feito.
A.S. - Há trabalho feito, mas está de facto em estado embrionário, porque – estou convencido – enquanto a gente estiver numa perspetiva de Igreja de cristandade, a catequese de adultos não pega. E a maioria do nosso trabalho pastoral ainda está numa perspetiva de cristandade.

C.C. – E como é que a gente muda a perspetiva?
A.S. – Temos que ir procurando, pouco a pouco, em cada paróquia, pessoas que sejam futuros animadores da catequese de adultos. O grande trabalho nesta fase, e em todas as outras!, é a gente escolher bem os animadores. Senão, não saímos do mesmo sítio. Terá que ser uma procura de animadores não entre as pessoas que já estão super-ocupadas nas paróquias, mas antes entre aquelas pessoas que estão menos comprometidas e que têm qualidades para serem líderes. Esse é o grande trabalho imediato: descobrir essas pessoas, convidá-las, formá-las. Primeiro tem que se formar os formadores e só depois podemos ter os grupos de catequese de adultos. Neste momento temos já um grupo de umas 30 / 40 pessoas que estão a receber formação no sentido de serem animadores de grupos de catequese de adultos. Depois, supomos o efeito multiplicador: esses animadores trabalhando com os grupos hão-de gerar novos animadores...

C.C. – Por outro lado, se evocar, por exemplo, o último Conselho Pastoral Diocesano, a ideia que me ficou é que na prática há iniciativas de catequese de adultos a cobrirem toda a Diocese… Será assim?
A.S. – Não. Essa é uma ideia confusa sobre a catequese de adultos, como se tudo fosse catequese de adultos. A catequese de adultos é este processo que acabei de descrever e não deve ser confundido com outras experiências.

C.C. – Mas há, se é que é necessário ou legítimo, algum tipo de coordenação que permita a ligação dessas experiências com a catequese de adultos?
A.S. – Não há ainda, mas deve haver. E essa necessidade tem estado já presente nas reuniões da Equipa Dinamizadora, tanto em relação a experiências mais ocasionais de que temos conhecimento, como em relação às diversas experiências de primeiro anúncio (Cursos Alfa, Cursos de Cristandade, Convívios Fraternos…), como ainda em relação à catequese infantil e da adolescência e em relação aos jovens. A catequese de adultos privilegia dois tipos de destinatários: aquelas pessoas que andam mais afastadas da Igreja, seja por que motivo for, adultos-jovens, pessoas na casa do 30, 35 anos, onde encontramos a maior faixa de pessoas que já tiveram algum contato com a Igreja, mas que depois se afastaram ou mantêm contatos muito pontuais; mas também é dirigida àquelas pessoas que estão mais empenhadas nas paróquias, mas precisam de aprofundar a fé para poderem dar razões da sua fé e da sua esperança. O catecismo adotado, traduzido das dioceses bascas, permite dar continuidade a essas ações de primeiro anúncio, e permite, sobretudo o 4º volume, sobre os Sacramentos, responder também às pessoas que estão presentes e atuantes na vida da Igreja nas paróquias.

C.C. – E que ligação pode haver com a formação mais específica e aprofundada, como por exemplo a Escola de Teologia e Ministérios?
A.S. – Também deve ser tida em conta, como fase posterior. Será importante criarmos nas pessoas que fazem o percurso de catequese de adultos a necessidade de continuarem a aprofundar a sua fé, por exemplo num curso sobre Jesus Cristo, sobre a Igreja… A catequese de adultos deve abrir e apontar sempre para aí.

C.C. – Já referiste por diversas vezes a Equipa Dinamizadora da catequese de Adultos. Queres apresentar-nos essa equipa?! E que esperança é que a Igreja de Coimbra deve colocar nesta equipa que tu coordenas?
A.S. – A paciência da esperança! A Equipa – que é constituída pela Cristina Novo, Alice Rocha, Luís Alves, João Mendes, Diácono Lusitano, Pe Idalino e eu próprio – trabalha e quer trabalhar à imagem do semeador que semeia, sabendo que haverá outro que trata e outro que colhe. A nossa perspetiva é esta: estamos a servir a Igreja neste serviço muito concreto; mas estamos a servir uma Igreja peregrina e missionária! Por isso, aqui, o número não conta; o que conta verdadeiramente é nós nunca desanimarmos e apostarmos sempre neste caminho. Vai levar anos; não sabemos quantos. Se calhar já cá nem estaremos quando o nosso trabalho começar a dar frutos bem visíveis. Não importa. Também a catequese das crianças, como tu sabes, foi um caminho longo (onde se deve uma particular evocação ao trabalho do Pe. Jaime Cunha), e hoje tem uma estrutura bem consolidada. Aqui é o mesmo: temos que ter essa perspetiva de eternidade.

C.C. – E existe também o lado dos destinatários: a diocese está sensibilizada? As paróquias sentem esta necessidade?
A.S. – Falando pelas paróquias onde eu estou com o Pe Vidal, penso que essa sensibilidade não existe. As pessoas estão satisfeitas. Para a maioria das pessoas, ser cristão é ir à missa ao domingo, confessar-se uma vez por ano, comungando, e acabou… Portanto, nesta perspetiva de cristandade, não há hipótese de catequese de adultos. Agora, o modo de criarmos necessidade, vamos vê-lo pouco a pouco. Por exemplo, temos programado para a próxima reunião da Equipa Dinamizadora o aprofundamento de uma proposta que consiste em termos em cada Unidade Pastoral, ou ao menos em cada Arciprestado, um mini-secretariado de catequese de adultos, para vermos concretamente em cada local como é que é possível dar a volta a isto. Neste momento as pessoas estão, ou aparentam estar satisfeitas. E a catequese de adultos responde a gente insatisfeita, pretende ser a resposta à tal pergunta “O que é que havemos de fazer?”, que surge depois do primeiro anúncio.

C.C. – Mas, com isso, estás a dizer-me que numa sociedade satisfeita a Igreja morre!
A.S. – Não, de modo nenhum. A Igreja tem todo o sentido. É preciso é ajudarmos as pessoas a descobrirem as necessidades que elas efetivamente têm e para as quais só a Igreja trás respostas, com o anúncio de Jesus Cristo. Passa pelo primeiro anúncio, por as pessoas perceberem que Jesus Cristo é o centro; o que levará à conversão. É como a samaritana: naquele encontro com Jesus, ela ficou com perguntas; depois procurou respostas. Mas esse é um caminho que ainda temos que encontrar. Depois de o encontrarmos, torna-se fácil.

C.C. – Quais as próximas iniciativas neste processo?
A.S. – Já no dia 25 de abril, temos um retiro no Seminário Maior de Coimbra, orientado pelo Frei Severino Centomo, dirigido a todas as pessoas que estão a fazer a sua formação em ordem a serem catequistas de adultos. No dia 12 de julho teremos um novo encontro de formação que se debruçará sobre duas temáticas: “tipologias de adultos que podem pretender frequentar a catequese de adultos”; e “como estruturar a metodologia da catequese de adultos?”. Temos também já pensadas algumas presenças da Equipa nalguns arciprestados.
A par disso, estamos a traduzir/publicar o Catecismo, de que acaba de sair precisamente agora o 2º volume.
De qualquer modo, a catequese de adultos é um caminho não andado. E, por isso, temos que ter a maleabilidade suficiente para estarmos abertos ao Espírito Santo para encontrarmos as melhores formas de a implementarmos pouco a pouco nas paróquias da Diocese. Por isso, cm certeza, outras ações hão de ir surgindo e outros caminhos se hão de abrir. 

Oral

Genç

Milf

Masaj

Film

xhamster