Ordenação de Presbítero e Diáconos - Homilia de Dom Virgílio

ORDENAÇÃO DE PRESBÍTERO E DIÁCONOS NA DIOCESE DE COIMBRA
XVI DOMINGO COMUM C – 2022

Caríssimos irmãos e irmãs!

O dia das ordenações de diáconos e presbíteros é o dia da esperança da nossa Igreja Diocesana de Coimbra. Obrigado a Deus que nos dá os ministros de que carecemos e obrigado ao António José Sebastião, ao Vítor Pauseiro e ao Rui Brito por acolherem este imenso dom de Deus e por dizerem o seu “sim” confiante que alegra o Povo de Deus.

Neste dia compreendemos melhor a ação do Espírito Santo que move os corações dos homens para a fé e vemos com os nossos próprios olhos a força renovadora do amor de Jesus, que chama como há dois mil anos e diz: “vem e segue-Me”.

Este é um momento privilegiado para repetirmos todos em agradecimento pela vocação cristã a que procuramos corresponder com humildade, com temor e tremor, mas cheios de confiança na infinita bondade de Deus: eu Vos louvo, Senhor; eu Vos dou graças. É também um momento privilegiado para renovarmos o nosso compromisso de fidelidade a Deus e à Igreja, como leigos, consagrados ou ministros ordenados e repetirmos com toda a alma: aqui estou, porque me chamastes; fazei de mim um instrumento do Vosso amor e da Vossa paz.

Na Epístola aos Colossenses, São Paulo manifestava a sua alegria por ter sido chamado a participar dos sofrimentos de Cristo em benefício do Seu corpo, que é a Igreja. Manifestava a sua alegria por se ter tornado ministro do Evangelho poder anunciar em plenitude a Palavra de Deus, a riqueza e a glória do grande mistério, que é Cristo no meio de nós, a nossa esperança.

Deste modo, Paulo sublinha as dimensões fundamentais do ministério, que hoje, aqui celebramos e que é concedido a três irmãos nossos por meio da ordem dos diáconos e dos presbíteros.

Acolher e anunciar a Palavra de Deus constitui a grande graça do ministério. Pelo acolhimento da Palavra chega a fé ao coração de cada um de nós e realiza-se o mistério do nosso encontro com Deus. Pelo anúncio da mesma Palavra abrem-se aos outros a quem nos dirigimos as portas da fé e da salvação.

Paulo, apóstolo do Evangelho, ajuda-nos a valorizar esse encontro que teve lugar na sua vida e a viver a paixão pela Evangelização. Ele dirige-se especialmente ao mundo dos pagãos, a todos os que andavam errantes à procura de uma oportunidade, mesmo sem o saberem ou dando-lhe até muitos outros nomes. A sua paixão incontida, já nascida no judaísmo em que cresceu e desenvolvida plenamente no encontro com Cristo Ressuscitado na estrada de Damasco, levaram-no a agradecer mesmo os sofrimentos suportados no exercício da sua vocação e a querer completar na sua própria carne o que ainda faltava à paixão de Cristo.

O diácono e o presbítero, o cristão, todo aquele que foi tocado no coração pela Palavra da Salvação, que é chamado a proclamar aos fiéis, só pode viver a sua vocação como um apaixonado pela Boa Nova, que o cura e o salva a si mesmo e que propõe com amor àqueles a quem a anuncia. O diácono e o presbítero são homens apaixonados pela evangelização também nos tempos modernos. O mundo cristão precisa de Evangelho para continuar o percurso de conversão em que foi iniciado, e o mundo pagão precisa do primeiro anúncio, que faça brilhar a nova luz sobre a sua vida.

A única riqueza e glória de quem recebeu o dom do ministério é Cristo no meio de nós. Se quisermos resumir o que é a fé cristã, a sua mensagem e o seu significado, temos uma palavra: Cristo. Não um Cristo distante, nem um Cristo com um discurso incompreensível ou um Cristo que seja uma ideia ou um conjunto de leis e preceitos, mas o único Cristo, Filho de Deus, irmão e amigo dos homens, o Cristo que habita em nós e é o Cristo no meio de nós.

Esta presença pessoal e única de Cristo que partilha a nossa vida, as nossas vitórias e as nossas derrotas, as nossas alegrias e as nossas doenças, que tudo suporta connosco e por nós, que entra na nossa própria carne e na carne de toda a humanidade, constitui a realidade que faz nascer e que alimenta a nossa fé. Quando a presença de Cristo é relevante para a vida de uma pessoa, ela deixa-se comover interiormente, adere de coração e sente-se feliz por conhecê-l’O, pois experimenta n’Ele o amor que transforma totalmente a sua vida.

O cristão e, por vocação e missão, o ministro ordenado, é uma testemunha privilegiada deste Cristo, da sua presença e da sua ação no meio da humanidade. Não tem outra riqueza para anunciar nem outra glória para cantar que não seja Cristo no meio de nós.

O anúncio da Palavra de Cristo abre cada um que O encontra à esperança maior, que é a esperança de Deus. Todas as pessoas têm inscrita em si a sede de mais e melhor, a sede de futuro feliz, que é muito mais do que o seu próprio otimismo ou a sua capacidade de superação das limitações impostas pela sua humanidade. No fundo, todos temos a sede do infinito e desejamos que nos leve para além do tempo e da superação das nossas debilidades e pecados. Trata-se da sede de Deus vivida no meio das nossas doenças, dores, faltas de amor e marcas de perdição. Não nos basta uma esperança passageira e exterior fruto de algumas consolações episódicas, mas aspiramos a uma esperança maior, à esperança de Deus que nos motiva e nos recria.

Foi essa esperança que Paulo encontrou em Cristo, tal como todos os homens e mulheres que se cruzaram com Ele num determinado momento da sua vida em que estavam à beira do abismo. É essa esperança que Jesus dá a cada pessoa que se encontra com Ele, quando surge uma oportunidade inesperada, que sente ser criadora e recriadora do seu futuro, caminho para a glória.

A missão do ministro ordenado consiste também em facilitar a cada pessoa este encontro com Cristo, que é a esperança da glória. Nessa altura, até nos sofrimentos pode haver a alegria mais profunda e até na paixão humana pode completar-se a paixão de Cristo. Tudo tem outro sentido e é vivido com outra motivação. Como cristãos, diáconos ou presbíteros, somos homens que incarnam já neste tempo e nesta comunidade em caminho, a esperança da glória alcançada por Cristo. Aqui reside o lugar mais sensível e mais transformador da missão cristã porque toca a relação transformadora de Cristo com cada pessoa que O encontra.

Quando alguém vislumbra que Cristo lhe dá a esperança da glória eterna, o encontro dá-se, a comunidade eclesial é relevante para si, o caminho de fé torna-se uma realidade que apaixona e seduz. Como evangelizadores conduzidos pelo Espírito Santo que trabalha no coração de cada pessoa, temos a missão de suscitar esse desejo e esse encontro que dá vida.

Irmãos e irmãs, toda a pastoral tem esta fonte, este método e esta finalidade: anunciar a Palavra de Deus, que é Cristo no meio de nós e nos dá a esperança da glória.

Fica-nos sempre a grande interrogação acerca de como realizar esta missão, com que métodos e meios há de cada um de nós, o diácono ou o presbítero, a Igreja de Deus, realizar a ação pastoral. Ilumina-nos o texto do Evangelho de São Lucas que escutámos, o encontro de Jesus com Marta e Maria.

O pano de fundo deste texto é, de facto, o encontro de Jesus com duas pessoas, duas mulheres, que representam duas dimensões confluentes: uma, a escuta da Palavra de Jesus, outra, a ação concreta e material voltada para o bom acolhimento e para o serviço aos irmãos. Jesus não nega a importância de uma nem de outra, mas estabelece uma ordem de prioridades e mostra como o ativismo sem encontro com Ele e sem o dinamismo da Sua Palavra se torna passageiro e desprovido da Sua força transformadora.

Tantas vezes criticamos o ativismo dos cristãos e dos ministros ordenados, não porque se negue o valor do trabalho que cansa ou das muitas realizações que se propõem. Sempre o Evangelho nos apontou para a missão que inclui entrega, desassossego, sacrifício da própria vida que se gasta e se dá. O perigo está no ativismo sem vida interior, no trabalho pastoral sem sentido sobrenatural, nas ações que cansam sem que estejam repletas de Palavra de Deus, sem Cristo presente e sem a esperança que Deus dá.

Somos felizes quando, no encontro com Cristo, escolhemos a melhor parte, que não nos será tirada; realizamos a nossa missão quando passamos no caminho de muitos outros e favorecemos o seu encontro com o mesmo Cristo, a palavra Viva, que dá a esperança que não lhes será tirada.

Coimbra, 17 de julho de 2022
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

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