A Igreja cristianizou festas que inicialmente eram pagãs. Por exemplo o Natal era a festa do solstício de inverno ao deus sol, tornou-se na festa do nascimento de Jesus, “Luz que ilumina as nações”! Ou os santos populares, festas cristãs que derivaram das festas das colheitas.
Hoje estamos no processo inverso de paganização das festas cristãs. A prova disso basta olharmos para um cartaz da festa do padroeiro da paróquia ou de uma capela. Vemos fotos e letras com grande destaque de grupos musicais e com muita dificuldade em letras muito pequenas, quase a precisar de lupa, a indicação de que há uma missa e uma procissão. A que se juntam os gastos excessivos com esses grupos e com foguetes. É uma festa pagã e lá pelo meio, para manter a tradição e porque fica bem, põe-se uma missa e uma procissão. “Sempre foi assim”, “as pessoas querem”, ouço às vezes. Mas doi o coração, e acredito que com outros padres seja o mesmo, fazer o esforço de celebrar mais uma eucaristia para além das já habituais ao domingo e depois ter quinze ou vinte pessoas presentes na eucaristia, a celebração não ter sido preparada e não haver quem cante, às vezes não haver quem leia … “Têm convidados, têm de comer e de beber, é festa …” Pois, mas que festa? Das vindimas? Das colheitas? Das árvores? Depois na procissão lá vêm mais algumas pessoas, cem ou cento e cinquenta, com outras a ver.
O que fazer? “É um enorme desafio para nós, superar o aspecto pagão, comercial, utilitarista e laicista da festa.” “Precisamos de recuperar ou não deixar perder o sentido cristão da festa.” Diz D. José Cordeiro, bispo de Bragança- Miranda
É necessária uma catequese de base sobre o sentido das festas religiosas. Os párocos e os leigos mais comprometidos deveriam convidar e incentivar as pessoas que participam na comunidade a serem mordomos e não deixarem isso para pessoas que nada têm a ver com a comunidade paroquial e às vezes até têm valores e atitudes contrárias ao espírito cristão. É também importante cuidar e valorizar as celebrações litúrgicas assegurando que tudo está efectivamente preparado para a eucaristia, que há quem cante e quem leia, que a procissão decorre de forma organizada e bela, etc. Nos cartazes dar destaque à imagem do padroeiro e à missa e procissão. Assegurar que o dinheiro da festa é usado em benefício da igreja ou da capela. O pedido de licença eclesiástica e o pagamento da respectiva taxa manifesta esta ligação à Igreja e a partilha com a Diocese.
As festas religiosas são expressões da piedade popular, são actos públicos de fé e por isso oportunidades de levar Deus para o espaço público. Nesses momentos no meio de alguns que parecem indiferentes, há outros, lá longe no meio da praça ou mais perto à beira da estrada ou à varanda, a fazer o sinal da cruz ou numa atitude mais recolhida possivelmente a rezar fazendo os seus pedidos ou agradecendo. É uma forma de dizermos a presença de Deus no cotidiano das nossas vidas, nos momentos de encontro e de convívio!
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