Peregrinação a Fátima 2022 - Homilia de Dom Virgílio

HOMILIA DA PEREGRINAÇÃO ANUAL DA DIOCESE DE COIMBRA AO
SANTUÁRIO DE FÁTIMA - 2022
MISSA DA VIRGEM MARIA, IMAGEM E MÃE DA IGREJA III

Caríssimos irmãos e irmãs!

A assembleia dos fiéis reunida para celebrar os mistérios da fé, seja aqui no Santuário de Fátima, seja em cada uma das nossas comunidades diocesanas ou paroquiais, é a maior e melhor imagem que podemos ter da Igreja peregrina. Connosco está sempre a Virgem Maria, Imagem e Mãe da Igreja, que nos acompanha e nos deixa entrever o que a mesma Igreja deve ser já na terra e o que espera ser no Céu para onde se dirige: comunidade alegre, feliz, santa e redimida.

Hoje, temos a graça de estar aqui em Fátima, mas amanhã, cada domingo, alegramo-nos por nos reunirmos nas nossas igrejas, com comunidades grandes ou pequenas, cheias de esperança ou enfraquecidas pela debilidade da fé, ardentes na caridade ou arrefecidas no que toca ao amor a Deus e ao próximo. Deus reúne o seu Povo para estar com ele, para lhe comunicar a Palavra Viva, para o levar a saborear a alegria da salvação. Não queremos ficar de fora e desejamos humildemente ajudar os nossos irmãos a acolherem o convite, pois ele é para todos os que Deus ama e Deus ama a todos.

Não somos pessoas perfeitas nem constituímos comunidades perfeitas, mas temos como vocação ser puros de coração e santos. A Virgem Maria, a mais pura e santa entre todas as criaturas de Deus, ensina-nos esse caminho, pois é a cheia de graça, a escrava do Senhor, totalmente disponível para realizar a Sua vontade. O Espírito Santo que habita no seu coração, realiza nela a obra da sua santificação, tornando-a para nós a imagem profética da Igreja santa que somos chamados a ser. A nossa peregrinação de hoje e a veneração que rendemos cada dia à Virgem Maria manifesta a nossa decisão de acolher o Espírito Santo, que nos quer tornar a Igreja Santa de Deus.

A Virgem Maria, Modelo e Mãe da Igreja, ensina-nos a sermos uma Igreja renovada, deixando-nos conduzir por Aquele cuja voz nos diz: “Vou renovar todas as coisas”, como ouvimos na leitura do Apocalipse. Em Cristo Ressuscitado, que introduziu a novidade absoluta no nosso mundo, já somos uma realidade nova, pois participamos da Sua morte e ressurreição, que vence as lágrimas, o luto e a dor do mundo antigo, para nos introduzir na esperança da salvação.

Esta realidade que já está em nós a partir do batismo recebido, tem, agora, de ser cumprida na Igreja peregrina, a caminho da pátria celeste, figurada na nova Jerusalém, que desce do Céu da presença de Deus.

De que modo se renova a Igreja, perguntamos nós?

Para que a renovação aconteça, a Igreja tem de viver mais de Deus do que os homens, uma vez que nasceu de Deus, foi convocada por Deus e é obra de Deus. Quando o Papa Francisco falou sobre o mundanismo espiritual estava a acautelar-nos acerca de uma visão da Igreja entendida a partir de nós, ou seja, da terra e da nossa humanidade, em vez de a entendermos como Povo que nasce do Alto, de Deus.

A inspiração divina, leva a Igreja ao discernimento sobre as realidades humanas e terrenas, conduz os seus passos. A Igreja conhece a sua dimensão humana e não prescinde dela, olha para as pessoas e para o mundo com todas as suas caraterísticas, lê os sinais dos tempos, mas procura que tudo seja iluminado pelas luzes do Espírito Santo. Para se renovar, a Igreja procura que a sua conduta seja traçada pelo próprio Deus, com o auxílio da Palavra revelada e com a graça dos sacramentos, ancora-se na oração do Povo, vive unida na comunhão dos seus membros, abre as portas à humanidade, torna atual o amor divino em tudo o que diz e faz.

Na anunciação, como ouvimos no texto do Evangelho, o Anjo diz: “Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus”. Tudo o que nela acontece, não nasce da sua humanidade, mas é a obra de Deus, que ela acolheu com fé e com amor. Concebeu e deu à luz, Jesus, o Filho de Deus, pelo dom do Espírito Santo, que veio sobre ela e a cobriu com a sua sombra.

Havemos de recuperar continuamente esta identidade da Igreja como obra de Deus realizada no tempo por meio do Espírito Santo e conduzida por Jesus Cristo. Não podemos sucumbir diante das visões sociológicas ou mundanas, que retiram à Igreja a dimensão sobrenatural e divina para a considerar uma organização a par de muitas outras, a uma sociedade humana conduzida por uma ideologia ou orientada para alcançar uma mera renovação social e terrena.

Totalmente envolvidos na renovação do mundo em que vivemos e que Deus ama infinitamente, acreditamos que a nossa esperança está no Senhor Jesus Cristo, morto e ressuscitado. Se a Igreja não se envolve totalmente na transformação e renovação deste mundo dos homens, que é o nosso, para que seja mais fraterno, mais justo e mais pacificado, é porque não o ama como Jesus Cristo o amou, a ponto de se oferecer por ele ao Pai e por ele dar a Sua vida.

Na Virgem Maria encontramos a Imagem da Igreja, porque nos mostra como ela deve e pode ser, quando humildemente se deixa conduzir pelo Espírito. Na Virgem Maria encontramos a Mãe da Igreja, porque nos mostra com que amor ela é amada e com que amor há de amar toda a humanidade.

A Virgem Maria ensina também a Igreja a ser a casa de Deus, referida pela voz vinda do trono, de acordo com o Livro do Apocalipse: “Eis a morada de Deus com os homens. Deus habitará com os homens: eles serão o seu povo e o próprio Deus, no meio deles, será o seu Deus”.

A Igreja é casa de Deus e casa dos homens, é tenda do encontro de Deus com os homens e dos homens com Deus. A ela todos são chamados e nela todos podem ter lugar, pois Deus abre as portas do Seu coração à humanidade inteira, a um povo de filhos que já entraram e a uma humanidade que ainda anda à procura dos caminhos para O encontrar.

Ninguém procura a Igreja simplesmente para satisfazer a sua necessidade de convívio social, de fortalecimento das esperanças humanas ou obter a pacificação do coração. Tudo isso se pode procurar noutras instituições ou em metodologias e técnicas nascidas dos conhecimentos das ciências humanas ou das chamadas “espiritualidades pacificadoras da mente”. Na Igreja procura-se o Deus vivo e verdadeiro revelado por Jesus Cristo, a única esperança, salvação e paz, mas só se pode ali encontrar se ela falar de Deus, anunciar a Palavra de Deus, viver em Deus, estiver no caminho de santidade de Deus, se deixar conduzir pelos valores do Reino de Deus, for animada em cada um dos seus membros pelo Espírito Santo de Deus.

A comunidade cristã que nós somos precisa de interrogar-se seriamente acerca dos seus fundamentos, acerca da sua identidade, a cerca do modo como está a ser Igreja de Deus. A Igreja que nós constituímos em cada uma das suas comunidades está a ser efetivamente morada de Deus com os homens? Não poderá acontecer que algumas vezes seja somente morada de Deus sem os homens e outras vezes somente morada dos homens sem Deus?

Agradecemos, neste dia, à Virgem Maria por ser Imagem da Igreja, que é casa de Deus e por ser Mãe da Igreja, que é casa dos homens. No seu Coração Imaculado e Santo, encontram lugar Deus e os homens. Essa é vocação da Igreja que aqui viemos aprender de novo, para que, regressando às nossas terras, levemos este espírito de renovação de que tanto sentimos necessidade.

A sinodalidade, comunhão, participação e missão, que nos foi proposta pelo Papa Francisco e na qual avançamos confiantes, está ao serviço desta renovação urgente para que o mundo creia e seja salvo: fazemos caminho juntos e sempre com Ele, seremos o Seu Povo e Ele será o nosso Deus.

Pedimos a intercessão de Nossa Senhora de Fátima para que a nossa atenção aos mais novos a quem dizemos, “Jovem, levanta-te! Cristo vive”, seja estrada aberta à renovação desejada, se eles conhecerem a Igreja como tenda do encontro com o Cristo Vivo que de coração inquieto procuram.

Renovemos, neste lugar e neste momento, a certeza de que “Com Maria, edificamos a Igreja”.

Fátima, 09 de julho de 2022
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

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