Celebração da Paixão do Senhor - Homilia de Dom Virgílio

SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO DO SENHOR
SÉ NOVA

Caríssimos irmãos e irmãs!

Acompanhamos nesta Celebração a paixão de Cristo e a paixão da humanidade. A Igreja dá-nos a possibilidade de celebrar aquilo que somos, desde as alegrias e esperanças maiores que nos animam, até às dores e angustias que sofremos. Tudo isso faz parte do nosso peregrinar sobre esta terra e, por isso, pode e deve entrar na celebração litúrgica, que não é alheia à nossa vida, ajudando-nos a unir a nossa alegria à de Cristo ressuscitado e a unir as nossas dores às de Cristo que sofre a paixão e morre.

Celebrar a paixão e a morte de Jesus, antevendo já a sua ressurreição, não é um ato de tortura de nós mesmos nem serve para nos fechar nas nossas debilidades, mas leva-nos a assumir a nossa realidade e a dos que nos circundam, conduz-nos a alimentar a esperança, que sempre renasce.

Nesta tarde, depois e escutarmos a Palavra de Deus, que nos introduz na realidade histórica dos acontecimentos da vida de Jesus, relemos também a nossa própria história. Convido-vos a fixarmo-nos em duas palavras do Evangelho.

“Tenho sede”.

A sede de Jesus é real, pois está extenuado e desidratado pelo percurso doloroso até ao calvário. É, para além disso, uma metáfora recorrente na Sagrada Escritura, que aponta para um mundo muito vasto de ideias, anseios, desejos, esperanças, sonhos, que povoam o coração e a mente de cada pessoa.

Todos temos sede de mais e melhor, de amor, de bondade, de justiça, de felicidade, de comunhão, de amizade... A sede é também de Deus, de quem vimos e para quem anelamos voltar, mesmo que, porventura, muito frequentemente, andemos confundidos acerca da Sua identidade e do caminho a tomar para O encontrar.

Sede neste sentido metafórico, todos temos. A questão fundamental consiste em descobrir, conhecer e assumir os meios para a saciar. Aí se definem as caraterísticas de uma vida, pois os caminhos reais são muito diversos e conduzem também a seguranças diferentes.

A proposta de Jesus, bem assumida e sofrida como a Sua paixão, é a da fidelidade ao Pai, em quem confia até ao fim, mesmo que isso lhe custe suar sangue, sentir-se abandonado por todos, morrer como um malfeitor.

Em vez de água, deram-lhe a beber vinagre, a fim de saciar a sua sede. Ficou sedento até ao fim, como ficaremos nós próprios sedentos até ao fim, até que tudo esteja consumado e sejamos acolhidos nos braços de Deus, a fonte de água viva, que sacia plenamente o nosso coração inquieto.

“Para isso nasci e vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade”.

A sede maior que sentimos é a da verdade. Todos os homens e mulheres de boa vontade procuram a verdade e querem encontrá-la ou, pelo menos, aproximar-se dela.

Jesus ensina-nos o caminho por meio da fidelidade, que é mais do que um raciocínio ou um discurso feito de palavras. Não se encontra a verdade sem o compromisso da vida na sua procura, sem se dar a vida por amor e no serviço os outros.

Jesus deu testemunho da verdade quando assumiu a sua fidelidade ao Pai e ao serviço da humanidade. Comprometeu-se e entregou-se totalmente numa oferta de si mesmo, que compreendeu corpo e espírito, a sua pessoa humana e divina.

Nesta tarde de Sexta-Feira Santa entramos na escola da procura da verdade, iluminados pelo testemunho de fidelidade de Jesus, que caminha para o calvário e morre por todos nós, que temos essa sede bem viva dentro do peito. Aprendemos essa lição quando unimos a fidelidade a Deus à fidelidade aos irmãos, na atenção, cuidado e compromisso em favor da sua felicidade; manifestamos que somos homens e mulheres de boa vontade quando passamos das palavras fáceis às ações dolorosas e sofridas num compromisso que contribua para abrir vias de salvação.

Ao acompanharmos Jesus que sofre e morre, acompanhemos também os que, hoje, sofrem e morrem. Aí busquemos a única Verdade que salva e que tem um nome, o nome de Jesus Cristo, o nome de cada um por quem sentiu sede e com quem continua a clamar “Meu Deus, Meu Deus, porque Me abandonaste?”

Coimbra, 2 de Abril de 2021
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

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