SANTUÁRIO DE FÁTIMA - CONGRESSO TEOLÓGICO-PASTORAL 2013 - NÃO TENHAIS MEDO - CONFIANÇA, ESPERANÇA, ESTILO CRENTE MISSA DE SEXTA FEIRA DA XI SEMANA DO TEMPO COMUM, ANOS ÍMPARES - HOMILIA

Caríssimos irmãos e irmãs!

A mensagem de Fátima, profundamente evangélica, é portadora de confiança e esperança para Igreja e geradora de um verdadeiro estilo crente na vida dos cristãos.

A expressão “não tenhais medo”, usada por Nossa Senhora na primeira aparição, em Maio de 1917, pacifica interiormente os Pastorinhos e tranquiliza-os exteriormente, agitados como estão diante de uma manifestação inesperada e desconhecida.

Nossa Senhora aparece aos Pastorinhos como mensageira de uma confiança que tem um sólido fundamento em Deus, o Pai sempre fiel às promessas feitas aos seus antepassados, como tantas vezes cantou em louvor do Deus de Israel; ela é mensageira de uma esperança alicerçada em Jesus Cristo, o seu Filho, redentor do homem por meio do sacrifício da cruz, que ela acompanhou até ao Calvário, tomou em seus braços aos pés da cruz, acreditou ter ressuscitado dos mortos e estar vivo junto do Pai.

Ao transmitir aos Pastorinhos serenidade, paz e segurança, Nossa Senhora ajuda-os a ultrapassar todos os medos, tanto de Deus, como dos homens, de si mesmos, do sofrimento e até da morte. Essa é a segurança e a paz própria dos santos, daqueles que se centram em Deus sem deixar de amar os homens e o mundo, daqueles que enfrentam todas as realidades, desde as mais animadoras até às potenciais causadoras de desencanto e desespero, por conhecerem com a inteligência e o coração que nunca estão sozinhos.

A expressão de Nossa Senhora “O meu Imaculado Coração será o teu refúgio” completa a anterior, “não tenhais medo”. Mais do que uma motivação humana, há uma motivação sobrenatural, pois não se pode compreender o Coração de Maria desligado do Coração de Jesus Cristo seu Filho, refúgio seguro para todos os que nele creem.

Um estilo de vida crente só é possível quando conhecemos o amor de Deus, confiamos na sua fidelidade, e esperamos em Cristo, que venceu todas as barreiras deste mundo, incluído o pecado e a morte. Os Pastorinhos, imbuídos dessa luz de Deus, e seduzidos pelo seu coração, assumiram um estilo de vida verdadeiramente crente e caraterizado pelo amor a Deus e à sua Mãe, pelo amor à humanidade, com uma predileção especial pelos pobres pecadores, pela oferta da vida a Deus em favor dos homens que Deus quer salvar, pela incarnação da fé, da esperança e da caridade e por uma atitude orante e adoradora, própria de quem somente aspira à comunhão definitiva com Deus.

 

Na primeira leitura da Missa, encontramos uma verdadeira confissão do Apóstolo Paulo. Oferece-nos a sua experiência de encontro com Deus, de vivência da fé e de ação crente. Homem culto, de uma consciência religiosa apurada, de uma retidão a toda a prova, teria razões para falar de si mesmo em qualquer fórum onde os currículos pessoais de vida são tidos em conta.

Iluminado pela fé, reconhece que tudo o que fez em favor da Igreja que, juntamente com Cristo, é a sua grande paixão, se deve à força do Altíssimo, Aquele a quem é devida toda a glória. Pessoalmente, não tem mais nada de que gloriar-se do que na sua fraqueza.

Em Paulo como nos Pastorinhos de Fátima, a grande paixão por Deus, experimentada num estilo de vida crente, é transformadora da pessoa, faz valorizar as pessoas e relativizar as coisas, leva a centrar-se mais no ser do que nas questões episódicas que acontecem na vida.

Para Paulo, de coração pacificado pela luz fulgurante de Cristo, a imensa lista de dificuldades, problemas, sofrimentos, perseguições, perigos e canseiras, têm um lugar absolutamente secundário, comparadas com o conhecimento de Cristo Senhor, com a sua preocupação pela Igreja, com a alegria de anunciar o Evangelho de Cristo Salvador, com a missão de edificar a Igreja.

Para os Pastorinhos de Fátima, pacificados pela luz de Deus, refletida em Nossa Senhora, as muitas orações e sacrifícios, a prática da caridade, o amor aos pecadores, o sofrimento, a solidão ou a morte, não têm comparação com a alegria de conhecer o coração de Deus e de ser solidário com os pobres pecadores.

 

O texto do Evangelho de S. Mateus parece vir em auxílio de todos nós, devotos dos beatos Francisco e Jacinta Marto, pois parece-nos ver cumpridas neles as palavras que Jesus dirigiu aos seus discípulos.

“Onde estiver o teu tesouro, aí estará o teu coração”. Recordamos a este propósito o Beato Francisco, grande contemplativo, absorto em Deus, tanto nos montes e vales como na Igreja Paroquial diante do Tabernáculo e de Jesus Escondido. O seu tesouro é Deus e o seu coração está em Deus. Recordamos a Beata Jacinta nas suas muitas manifestações de amor aos pecadores, que a levam a sacrificar-se em tudo pela sua conversão, para que não vão para o Inferno e se salvem. O seu tesouro são os pobres pecadores e o seu coração não pode estar noutro lado.

Duas pessoas diferentes, com personalidades igualmente diversas, duas maneiras de ser diferentes, mas com a comum caraterística de serem duas almas enamoradas de Deus e dos homens, testemunhas admiráveis de um estilo de vida crente.

“Acumulai tesouros no Céu”. Frase aparentemente banal, mas que encerra em si todo o conteúdo de um estilo de vida crente, cujos dois focos são Deus e os homens. Permanecer em Deus e ir ao encontro dos irmãos são as duas dimensões de uma mesma realidade: o amor que se recebe e o amor que se dá.

Acumular tesouros no Céu consiste em descentrar-se de si mesmo para se voltar para Deus e para os irmãos. Ser para Deus e ser para os outros torna-se a atitude fundamental, disponível para tudo perder e nada acumular, para servir mais do que para ser servido, para amar mais do que para ser amado.

Esta revolução completa de perspetivas de vida constitui a grande novidade trazida por Jesus Cristo e assumida pelos seus santos. Esta é a novidade da vida dos Beatos Francisco e Jacinta Marto, que faz deles dois luzeiros, que nos ajudam a vencer as trevas que há em nós. O seu desejo de ir para o Céu é próprio de quem, totalmente tomado por Deus, não quer mais nada do que permanecer em Deus e ser feliz na comunhão do seu amor. Esse é o único tesouro que a traça e a ferrugem não destroem e os ladrões não assaltam nem roubam.

Caríssimos irmãos, o estilo crente da nossa vida, alicerçado na confiança e na esperança em Deus, passa por esta mudança de atitude e perspetiva, a que o Evangelho chama conversão em ordem ao seguimento de Cristo.

Como os Pastorinhos, acolhamos as palavras pacificadoras de Nossa Senhora: Não tenhas medo; o meu Imaculado Coração será o teu refúgio. Com confiança e esperança amemos os irmãos e permaneçamos em Deus, nosso único tesouro no Céu.

 

Santuário de Fátima, 21 de junho de 2013

Virgílio do Nascimento Antunes

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