Santissimo Corpo e Sangue de Cristo - Homilia de Dom Virgílio

SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO - 2018

PRAÇA 8 DE MAIO, IGREJA DE SANTA CRUZ DE COIMBRA

 

Caríssimos irmãos e irmãs!

A promessa de Jesus “Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos” (Mt 28, 20) e “Não vos deixarei órfãos; Eu voltarei a vós!” (Jo 14, 18), cumpre-se de muitas formas, mas de modo muito especial – de modo sacramental – na Eucaristia.

O cristianismo é uma constante afirmação da presença de Jesus Cristo no coração e na vida do seu povo: na encarnação nasce entre nós e torna-se um irmão, na páscoa oferece-se por nós, para partilhar a totalidade das nossas dores e nos libertar do poder do mal; na ressurreição alcança-nos a glória e na ascensão volta para junto do Pai, assegurando sempre a presença em nós e na comunidade dos discípulos por meio da força do Espírito Santo.

A certeza de fé acerca da presença de Jesus em nós e na comunidade cristã responde a uma necessidade humana de extrema importância para que vivamos em paz interior: a necessidade de companhia. A presença dos outros na nossa vida e a nossa presença na vida dos outros, quando é uma presença fiel e acolhida com confiança, torna-se potenciadora da paz interior e do equilíbrio humano; ajuda a enfrentar todos os medos que se instalam no coração. A presença de Jesus na nossa vida e a certeza da sua companhia divina, amorosa e fiel, constitui algo de essencial na vida de um cristão e fortalece-o no meio de todas as adversidades. De um modo especial, quem acredita na presença de Jesus na Eucaristia que se celebra ou que se adora e mantém com Ele uma relação de diálogo, confiança, amizade, pode progredir na fé, na vida espiritual e cristã, no amor a Deus e aos outros, porque sente-se sempre em companhia e não cede aos temores da solidão.

A comunidade cristã ou a Igreja é o lugar da presença de Cristo como divina companhia entre os seus amigos, num desafio constante à nossa decisão de nos tornarmos presentes na vida dos outros, de permanecermos como verdadeira companhia junto dos irmãos. O mesmo amor que O fez vir ao nosso encontro, oferecer-se por nós e ficar no meio de nós, impele-nos a sairmos para ir ao encontro dos outros, para oferecermos a nossa vida por eles e para permanecermos ao seu lado em todas as circunstâncias.

Hoje, damos graças ao Senhor pela fé na sua presença em nós e no meio de nós, agradecemos-lhe por estar connosco até ao fim dos tempos, por não nos deixar órfãos, louvamo-l’O por nos fazer companhia em todos os momentos e por nos chamar à Sua Igreja, a comunidade chamada a fazer companhia a toda a humanidade e a não deixar ninguém entregue aos seus medos, à sua solidão ou às suas faltas de esperança.

Quando na liturgia de língua portuguesa o sacerdote se dirige à assembleia cristã com as palavras “O Senhor esteja convosco”, ela responde em uníssono dizendo “Ele está no meio de nós”. Professamos, assim, como Povo de Deus, a certeza de fé na presença do Senhor no meio de nós, a alegria da sua companhia divina e o desejo de construirmos comunidade habitada pelo mesmo Senhor, fundamento da nossa identidade cristã. Para sermos cristãos não nos basta acreditar que Deus existe ou que nos fala do alto, mas havemos de acreditar e sentir viva a sua presença no meio de nós: Ele é o nosso companheiro na peregrinação terrena, desafiando-nos a sermos seus companheiros e companheiros de toda a humanidade.

Desde a última Ceia de Jesus que a celebração da santa missa teve sempre um lugar central na vida do Povo de Deus. Ela constitui o momento mais significativo da sua fé e o sacramento maior da sua vida, porque é presença real de Cristo morto e ressuscitado sem a qual não há Igreja e porque congrega os cristãos numa família unida pelos laços da comunhão divina e humana, conduzidos pela Palavra do Senhor e alimentados pelo Pão do Céu.

Ao longo dos séculos e ainda hoje, a participação na Eucaristia dominical constitui um momento essencial da manifestação e preservação da identidade cristã. Não há Igreja sem Eucaristia e não se pode ser cristão sem se celebrar a Eucaristia, esse único mistério da comunhão de Deus connosco, de nós com Deus e uns com os outros.

Quando se abandona a frequência semanal da Eucaristia, perde-se o sentido de pertença a Cristo e enfraquece o sentido da fidelização à sua Igreja, deixa-se de alimentar a fé sobrenatural, quebram-se os laços de pertença à comunidade cristã nas suas diversas realizações, a comunidade local, paroquial ou diocesana e a comunidade católica ou universal.

A perda do sentido da centralidade da Eucaristia na vida dos cristãos é, já em si mesma, um sintoma da falta de vitalidade da fé e, por sua vez, provoca um crescente esvaziamento do conteúdo essencial da mesma fé, juntamente com uma contínua desagregação da Igreja.

Debatemo-nos na atualidade com muitas dificuldades quando nos lançamos na missão de fazer uma verdadeira educação da fé das novas gerações. É comum o fenómeno das famílias que mandam os filhos, crianças ou jovens, à catequese nas paróquias ou nas instituições educativas, que as inscrevem e incentivam a participar na vida dos grupos e movimentos católicos, a fim de lhes facultarem elementos importantes para a definição do seu caminho de vida e lhes proporcionarem acesso aos valores humanos fundamentais. Frequentemente esse esforço não é acompanhado pelo testemunho alegre da participação na celebração da missa do domingo e não pode, por isso, levar à edificação de uma estrutura verdadeiramente crente, no sentido do enraizamento da fé, da criação de discípulos de Jesus e de construção de membros ativos da Igreja.

Uma vez que a fé cristã não é simplesmente uma doutrina ou um conjunto de valores, mas é uma vida nova a partir do batismo e um caminho de seguimento de Cristo na comunidade cristã, nunca é suficiente a participação na catequese ou noutros momentos evangelizadores. A dimensão litúrgica e, portanto, celebrativa, é essencial ao crescimento da fé e ao enraizamento em Cristo, de tal modo que uma fé que não se celebra em assembleia sagrada, não cresce e, dentro de pouco tempo, acaba por morrer.

Assistimos entre nós a uma progressiva perda do amor à Eucaristia e a um esvaziamento da sua centralidade na vida cristã: crianças e jovens vão à catequese, mas não vão à missa, porque frequentemente os seus pais também não vão; famílias que pedem o batismo, a primeira comunhão, o crisma para os seus filhos, mas não celebram a fé domingo após domingo; pessoas que se propõem para padrinhos ou madrinhas por ocasião da celebração dos sacramentos, mas que dizem não ser praticantes; comunidades que celebram anualmente a festa do padroeiro e que exigem a missa em que grande parte não participa ao domingo...

Convido-vos, caríssimos irmãos e irmãs a renovar a vida cristã por meio da acentuação da centralidade da Eucaristia nas nossas comunidades paroquiais e nas nossas famílias.

A missa do domingo, dignamente celebrada na igreja paroquial, com a participação da multiplicidade dos fiéis, deve ser o momento mais cuidado de toda a ação pastoral da comunidade. Apesar das distâncias geográficas e de algumas dificuldades de mobilidade em algumas regiões da Diocese, privilegiemos a participação na missa paroquial, mesmo que isso nos exija algum sacrifício e não nos acomodemos a expressões de bairrismos que pouco têm a ver com a comunhão da Igreja.

Redescubramos a alegria do encontro com Cristo no Santíssimo Sacramento, por meio da adoração pessoal e comunitária, no silêncio orante, repetindo no coração as palavras fundantes pronunciadas por Jesus, que dizem a totalidade da sua entrega ao Pai para nossa salvação: “Isto é o Meu Corpo; este é o cálice do Meu Sangue”.

Inscrevamos a participação na missa dominical no programa dominical da nossa família, quer quando permanecemos na nossa paróquia, quer quando por qualquer motivo nos deslocamos para qualquer outro lugar.

Preparemos adequadamente a celebração segundo o ensino do Magistério da Igreja, seguindo nomeadamente as indicações da Constituição sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II e da Instrução Geral do Missal Romano.

Que a Missa dominical seja expressão autêntica da fé, momento privilegiado da oração da comunidade cristã da fé e auxílio para a santificação dos fiéis e de toda a Igreja. Por meio da catequese, ajudemos os fiéis a compreender o significado da Eucaristia e sobretudo a encontrarem-se pessoalmente com o Senhor presente nela.

Que a Virgem Maria, mulher eucarística e modelo da Igreja que acredita e celebra, nos conduza, como Mãe, às fontes da salvação, a Jesus Cristo, a Palavra do Pai e o Pão Vivo descido do Céu.

Ámen.

Coimbra, 31 de maio de 2018
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

 

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