Santíssima Trindade - Homilia de Dom Virgílio no Dia da Igreja Diocesana

SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE

DIA DA IGREJA DIOCESANA

PRAÇA HERÓIS DO ULTRAMAR - 2018.05.27

 

Caríssimos irmãos e irmãs!

A Solenidade da Santíssima Trindade evoca sempre a comunhão das três pessoas divinas, o mistério do Deus que se nos deu a conhecer por meio de Jesus e em quem nós acreditamos. Ele quis estabelecer laços de comunhão connosco e a nossa fé constitui uma resposta de adesão à comunhão com Ele. Mais do que uma comunhão legal ou institucional, é uma comunhão de vida e de amor, que faz de nós um povo de filhos no Pai, um povo de irmãos no Filho e um povo de testemunhas no Espírito Santo.

A Igreja e, concretamente, a Igreja Diocesana a que pertencemos, exprime de forma concreta a comunhão com Deus Santíssima Trindade, que é, ao mesmo tempo, comunhão com os irmãos na mesma fé e no mesmo povo. Enquanto batizados tivemos acesso a essa comunhão com Deus e com os irmãos. Somos porção do Povo de Deus que caminha nesta Diocese de Coimbra, diversificada nos dons e nas vocações, mas unidos na mesma fé e na mesma missão.

Este Dia da Igreja Diocesana, que celebramos na Solenidade da Santíssima Trindade, pretende ajudar-nos a aprofundar esta consciência de sermos Assembleia Santa unida pelos laços da comunhão humana e divina.

Somos convidados a acreditar na comunhão sacramental, fruto do batismos que recebemos, mas somos igualmente convidados a progredir numa efetiva comunhão de princípios, de objetivos e de ação pastoral, em ordem à realização da vocação comum.

A realização da verdadeira comunhão com Deus e a fecundidade da missão da Igreja exigem-nos verdadeira unidade a todos os níveis e não se compadecem com qualquer forma de indiferença ou de divisão. Se alguém pensa poder fazer o seu caminho de fé sozinho, engana-se, pois ela tem sempre uma dimensão comunitária irrenunciável; se uma pessoa ou uma comunidade cristã pensa poder realizar a sua missão evangelizadora sem atender de todo o coração à Igreja Diocesana, torna-se um membro desligado do corpo, torna-se um estranho e age por conta própria, negando o essencial da comunhão com Deus e com os irmãos.

A imagem bíblica da família de irmãos e de filhos unidos na comunhão e no amor, conduzidos pelo Espírito de Deus, diz de forma excelente qual a nossa vocação de Igreja Diocesana que havemos de procurar tornar mais bela, mais feliz e mais santa. 

O texto do Evangelho segundo São Mateus, que escutámos, dá-nos a oportunidade de recordarmos o triplo movimento que sempre há de animar a nossa vivência da fé cristã: os discípulos partiram para a Galileia ao encontro do Senhor; quando O viram, adoraram-n’O, na certeza de que estava com eles; foram enviados a fazer discípulos de todas as nações, a batizar e a ensinar.

Caríssimos irmãos e irmãs, a construção da Igreja Diocesana, de cada uma das suas comunidades paroquiais ou unidades pastorais, de cada família cristã, encontra aqui o seu programa fundamental de vida. É isso que está patente no Plano Pastoral Diocesano em vigor e elaborado depois de um dinamismo sinodal que procurou pôr a comunidade cristã em reflexão e escuta da voz do Espírito que conduz a Igreja.

“Os discípulos partiram para a Galileia”. Dito de outra forma, puseram-se a caminho, como frequentemente se diz nas Escrituras, pois a fé nunca é uma realidade estática, que uma vez adquirida permaneça. É um processo, é uma vida de discípulos sempre em construção, alimentada pela Palavra e pela Eucaristia, é um envolvimento cada vez maior na comunidade cristã, é uma comunhão com Deus e com a Igreja sempre a desinstalar e a formular novos desafios.

No nosso Plano Pastoral Diocesano exprimimos este mesmo desafio por meio da frase chave: “Aproximai-vos do Senhor” (1 Pd 2, 4). Temos verificado que muitas comunidades estão a fazer um bom trabalho de inovação e de descoberta de novos caminhos para ajudarem as pessoas a porem-se a caminho e a dar passos no sentido de se aproximarem do Senhor. Noutros casos, percebe-se que esta mensagem ainda não chegou e permanecem tranquilas num estilo insuficiente para descobrir e alimentar a fé, num processo de contínuo esvaziamento.

“Quando O viram, adoraram-n’O”. Ver Jesus significa acreditar n’Ele como o Filho de Deus, como o Senhor, como o Salvador. A adoração é a atitude própria de quem conhece a Deus e acredita n’Ele: dá-se no íntimo do coração, mas compromete a totalidade da vida, tanto no interior da comunidade cristã como no seio da comunidade humana. Trata-se de uma adoração que tem muitas e diferentes formas de se exprimir: começa pelo sentido interior da diferença existente entre nós crentes e o Senhor Deus – nós somos humanos e Ele é divino; continua pela liturgia que celebramos, verdadeiro lugar de adoração, que manifesta a fé e a faz crescer; a vida da comunidade cristã verdadeiramente assumida como comunhão com Deus e com os irmãos é igualmente sinal de adoração; a vida familiar, laboral ou social com todas as suas situações e ocupações, quando é perpassada pelo sentido de Deus e assumida como seguimento do Senhor, constitui a manifestação mais verdadeira da fé no Deus que permanece sempre connosco até ao fim dos tempos e é adoração.

Não podemos, por isso, permitir que a nossa fé e a vida das nossas comunidades cristãs seja vazia de conteúdo e de sentido. A oração, a liturgia, a catequese, a vida comunitária, precisam de um forte impulso para que manifestem que adoramos o Senhor e nos sintamos cada vez mais movidos por Ele.

Quando no nosso Plano Pastoral Diocesano falamos de espiritualidade, estamos a reconhecer a urgência de as comunidades sentirem o lugar do Espírito de Deus em todo o processo da fé, o lugar da liturgia e da piedade cristã no crescimento interior e comunitário, o lugar do Evangelho para o encontro com Cristo e para apontar os horizontes de vida que nos movem. Uma comunidade sem propostas de aprofundamento espiritual, sem ações destinadas a provocar o encontro pessoal com Cristo, que se limite à celebração ritualista dos sacramentos, sente-se a perder a força do Espírito que dá vida.

“Ide e fazei discípulos de todas as nações”. Ao longo destes últimos anos temo-nos centrado muito nesta palavra do Evangelho e neste mandato de Jesus à sua Igreja, pois reconhecemos que, sendo missão para todos os tempos e lugares, tem uma atualidade especial para o nosso tempo e para a nossa Diocese.

O Papa Francisco fez do seu pontificado um grito de atualização deste mandato de Jesus quando nos pediu que edificássemos uma Igreja toda ela evangelizadora, nas suas intenções, nas suas ações, nos seus programas, nas suas comunidades diocesanas ou paroquiais, nos seus movimentos e serviços. No seguimento do seu programa, que adotamos como o nosso programa, também nós, Diocese de Coimbra em todas as suas estruturas, queremos organizar-nos adequadamente mais em ordem à evangelização do que à auto-preservação (cf Evangelii gaudium, 27).

Temos a graça de crescerem continuamente entre nós meios e formas atuais aptos para a evangelização. Estamos abertos aos que já conhecemos e a outros que o Espírito vais suscitando noutras lugares da Igreja. Que ninguém fique tranquilo por ter recebido a riqueza do Evangelho, mas que todos nós, pessoas e comunidades, fiquemos ainda mais felizes pela possibilidade de o comunicar a todas as nações, começando no círculo próximo das nossas relações pessoais e de forma organizada na nossa unidade pastoral.

Caríssimos irmãos, ministros ordenados – presbíteros e diáconos –, consagrados e leigos, renovemos, hoje, diante de Deus, Santíssima Trindade, o nosso compromisso de viver na unidade e na comunhão da fé e da ação pastoral, para que o mundo creia e para que o nosso testemunho transmita fiel e visivelmente alegria de acolher e comunicar o dom que recebemos.

Temos nas mãos a força do Evangelho de Jesus, que renova todas as coisas; são muitos os desafios que se põem à Igreja no nosso tempo e nós queremos ser dignos da nossa condição de filhos dos Deus e membros deste povo santo. De acordo com o nosso Plano Pastoral Diocesano, precisamos de nos organizar melhor, a fim de realizarmos a missão que o Senhor nos confiou.

O novo dinamismo das unidades pastorais, contando com os carismas e ministérios que o Senhor nos concede, constitui uma oportunidade única, neste tempo de graça. Precisamos de envolver ativamente todas as forças vivas da Igreja de forma coordenada e de potenciar o aparecimento de verdadeiros líderes nas comunidades, dotados de fé viva, de amor à Igreja, de formação teológica e espiritual e com capacidade de trabalhar com alegria na messe do Senhor. O conselho pastoral da unidade pastoral e a equipa de animação pastoral constituem um grande passo no sentido de a Igreja se organizar para a missão contando com a diversidade dos seus membros. Ajudemos os mais débeis na fé e na esperança a porem-se em sintonia com as linhas orientadoras da Igreja que somos.

Que a intercessão de Nossa Senhora junto de Deus nos alcance a graça de cristãos deste tempo numa Igreja que é de todas as horas e também da hora que vivemos. Ámen.

Coimbra, 27 de maio de 2018

Virgílio do Nascimento Antunes

Bispo de Coimbra

 

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