PEREGRINAÇÃO DA DIOCESE DE COIMBRA AO SANTUÁRIO DE FÁTIMA - MISSA VOTIVA DA VIRGEM MARIA, RAINHA DA PAZ

(Leituras: Is 9, 1-3.5-6; Sl 84 (85); Lc 1, 26-38)

 

Irmãos e irmãs!

Viemos em peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, para agradecer ao Senhor, por meio de Maria, a nossa vida, com grandezas e misérias.

Acreditamos que tudo vem de Deus, reconhecemo-nos servos pobres e humildes para quem o Senhor olhou com amor, e queremos dizer obrigado, unindo-nos ao cântico de louvor e gratidão de Maria: a minha alma glorifica o Senhor; o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador; o Todo Poderoso fez em mim maravilhas, santo é o seu nome!

Celebramos a missa votiva da Virgem Maria, Rainha da Paz, Mãe de Jesus Cristo, o Príncipe da Paz. Trazemos connosco algumas preocupações, que apresentamos ao Senhor, por meio de Nossa Senhora, e uma delas é precisamente a paz para as nossas famílias, para o coração inquieto de cada um de nós, para a Igreja e para o mundo.

As leituras da Palavra de Deus, que escutámos, ajudam-nos a refletir sobre a nossa vida de homens e mulheres peregrinos da paz. O Livro de Isaías fortalecia-nos na certeza de que, depois dos tempos de dúvidas, de trevas e de opressão, podem sempre nascer dias de maior segurança, de luz e de liberdade.

Na sua condição de profeta messiânico, Isaías anuncia a vinda do Salvador: “um filho nasceu para nós, um filho nos foi dado”. Ele “tem poder sobre os ombros e será chamado Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz”.

Aquilo que o profeta anunciava sem ainda conhecer, nós, os cristãos já o vimos e conhecemos na pessoa de Jesus Cristo, por meio da fé que recebemos. Temos, por isso o caminho aberto para construir um mundo diferente, assente no direito e na justiça e santificado pela caridade.

Falar de paz não significa simplesmente falar da ausência de guerras ou de conflitos dentro das famílias, entre a pessoas ou entre os povos. A paz é a harmonia interior e exterior de cada pessoa e de cada comunidade, felizes por estar bem com a consciência, com os outros e com Deus. Além de uma tarefa humana é um dom de Deus, oferecido àqueles que lhe abrem o coração e o aceitam como Senhor das suas vidas.

Todos os que creem em Cristo sentem o dever de dar o seu contributo a diferentes níveis para a construção da paz. Na esfera da vida privada, no seio familiar, há um trabalho minucioso de construção das relações, de fortalecimento da amizade e do amor, mesmos à custa de muitos sacrifícios, que cabe a cada um e é condição da felicidade e da união da comunidade familiar.

O cristão tem um papel a desempenhar também como cidadão, participando ativamente na vida pública, tanto pela atividades de caráter social como inclusivamente na ação política, tanto a nível nacional como a nível local e autárquico. Somente podemos querer um mundo de justiça e de paz se não ficamos alheios à missão de o construir e se sentimos que, também aí, estamos a realizar a nossa vocação cristã.

De um modo particular, “Os leigos, que devem tomar parte activa em toda a vida da Igreja, não devem apenas impregnar o mundo com o espírito cristão, mas são também chamados a serem testemunhas de Cristo, em todas as circunstâncias, no seio da comunidade humana (GS 43).

Nestes tempos difíceis que agora vivemos, ser construtor de paz passa inevitavelmente por um estado de espírito que seja animador contra a tentação do desespero; passa pela entreajuda fraterna a nível espiritual e material, pela caridade cristã e pela tarefa difícil de pegar com as próprias mãos nas realidades públicas que precisam de homens livres e eivados do desejo de server o próximo.

O cristão é ainda chamado a construir a paz dentro da comunidade cristã ou da Igreja. Os que estão unidos a Cristo pelos laços invisíveis da fé o do batismo, têm o dever acrescido de testemunhar um modo de viver e agir marcado pelo respeito pela pessoa e pela vida humana, pelos princípios éticos, pelo sentido do serviço e pelo amor. A paz reinante dentro da pequena comunidade cristã local e paroquial, dentro da comunidade diocesana e na Igreja Universal, é um dos maiores sintomas da autenticidade da fé e o melhor meio de evangelização do mundo.

Acontece que nem sempre isso se encontra nas comunidades que nós formamos, que por vezes há divisões, maledicências e discórdias, que ofuscam a beleza da Igreja e do Corpo de Cristo. Quantas vezes o nosso testemunho pessoal e comunitário não terá sido impedimento para que alguém viesse a conhecer o rosto de Cristo e a encontrar nele a sua verdadeira paz de coração!

Como cristãos, sentimos que o trabalho de evangelização a que somos chamados constitui o maior contributo para a construção da paz. Se acreditamos que Jesus Cristo é verdadeiramente o Príncipe da Paz, acreditamos também que o trabalho de evangelização, que consiste em dar Cristo ao mundo, é essencial e é o contributo mais específico que se espera do cristão.

Neste Ano da Fé, sejamos incansáveis para que a ninguém falte a possibilidade de conhecer e amar o Senhor, que pacifica os corações, as famílias, a sociedade e a Igreja.

Viemos a Fátima porque este lugar nos fala de paz e porque Nossa Senhora nos dá o grande testemunho de servir amar e servir Deus e os homens, à maneira de Jesus Cristo. Ela não recusou a resposta alegre ao convite de Deus para ser Mãe de seu Filho e continua a aceitar ser nossa mãe e exemplo fiel de amor.

A missão de Maria era grande e difícil para a mais humilde dos filhos de Israel, mas a graça e a força do Espírito Santo fizeram nela grandes coisas. Não raro, nos parece que a missão que o Senhor nos deu na sociedade e na Igreja é demasiado grande para as nossas forças. Ela ensina-nos que é na abertura ao mesmo Espírito de Deus que nos tornamos aptos para a realizar, porque a Deus nada é impossível.

Do mesmo modo, os Pastorinhos de Fátima, poderiam pensar que era demasiado grande para eles a missão que lhes foi confiada. Somente pela graça e pela misericórdia de Deus das quais se fizeram escravos como Maria, se tornaram grandes no amor a Deus e no serviço aos homens.

Repletos da luz de Deus, completamente tomados pelo seu amor, como Maria, sentiram o coração em paz mesmo no meio das maiores dores e contrariedades, como conhecemos dos relatos das Memórias da Irmã Lúcia. Eles entraram nessa relação pessoal, irrepetível e completamente transformadora, que é a fé no Deus amor, confessada, rezada e vivida.

Esperamos que esta nossa peregrinação constitua um momento forte da nossa vida pessoal, comunitária e diocesana, um momento de encontro pessoal e profundo com o Deus Amor, que seja transformador da nossa alegria de acreditar e do nosso entusiasmo de comunicar a fé.

No regaço materno de Nossa Senhora de Fátima colocamos toda a nossa vida, as nossas atividades e a nossa Igreja para que, como Ela, sejamos escravos do Senhor e se faça em nós segundo a sua palavra. Ámen.

 

Fátima, 22 de junho de 2013

Virgílio do Nascimento Antunes

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