Homilia da Missa da Ceia do Senhor

MISSA DA CEIA DO SENHOR 2017

SÉ NOVA DE COIMBRA

 

Caríssimos irmãos e irmãs!

Celebramos nesta noite a instituição do mistério da Eucaristia, o sacramento da presença de Cristo na sua Igreja e na vida dos seus discípulos. Antes da Páscoa, o Senhor quis dar ao mundo o sinal maior do seu amor, dispondo-se a dar a vida por nós e assumindo todas as consequências desse gesto salvador. Elevou o pão e o vinho, pronunciou a bênção sobre eles e, por obra do Espírito Santo, transformaram-se no seu corpo e sangue oferecido ao Pai.

Ordenou aos seus discípulos: “fazei isto em memória de Mim” e desde então, a Igreja continua a realizar esse mesmo gesto salvífico, como memorial da sua páscoa, de morte e ressurreição. Nunca mais a Igreja deixou de oferecer o pão e o vinho que, por obra do Espírito Santo presente nos seus sacerdotes, se transformam no Corpo e Sangue do Senhor. Deste modo, o sacrifício salvador realizado uma vez por Jesus, torna-se sacramentalmente presente em todos os tempos da história.

A Igreja sempre considerou a Eucaristia como o maior tesouro da sua vida e da sua fé. A celebração em si mesma, a presença real do Senhor, a comunhão sacramental, a adoração eucarística, continuam a ser o centro do culto cristão e a fonte donde dimana para todo o Povo de Deus a graça divina, como alento que o conduz à fé, à esperança e ao amor.

 

Nesta mesma celebração da Missa da Ceia do Senhor, recordamos a lei fundamental de Jesus, a lei do amor e do serviço, como caminho de toda a sua vida que deverá ser também o caminho da nossa vida.

Ao curvar-se diante dos seus discípulos para lhes lavar os pés, Jesus ultrapassa tudo o que era pensável e aceitável dentro da cultura do seu povo: assume a condição do dos servos e dos escravos, os únicos que lavam os pés aos seus senhores. “Se Eu, que sou Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros”.

Não há, a partir desse momento, outra lei para os seus discípulos, para os cristãos senão amar os irmãos de forma incondicional, a ponto de lhes lavar os pés, segundo a linguagem sugestiva usada por Jesus e tendo em conta a cultura do seu tempo. Significa isso que, o amor, bem entendido numa perspetiva humana e cristã, não se entende se está encerrado por qualquer lei que lhe trace qualquer tipo de condições. O amor de Jesus foi até à morte e, por isso, pode chamar-se, de fato, amor, pois é bem diferente de qualquer um dos seus sucedâneos preconizados nos tempos que correm.

Os discípulos de Jesus, frágeis na sua humanidade e pessoas sempre em construção, não chegarão à perfeição do amor de Deus revelado em Jesus, mas pede-lhes a sua fé que desejem crescer sempre mais no amor, doação, entrega, serviço, sacrifício de si mesmos. Este desejo de crescer no amor é o sinal maior da autenticidade da fé, pois é pelo amor maior que mais se identificam com Jesus, o Seu Mestre e Senhor.

O mundo em que estamos tem um grande problema ou, podemos mesmo dizer o seu maior problema, que podemos denominar por falta de amor a par com compreensões e expressões erradas sobre o amor. Basta pensar nas relações matrimoniais a prazo ou até que possa durar, na paternidade como um direito dos pais e não tanto dos filhos, no voluntariado como busca de consolações pessoas, nas vocações eclesiais como um meio de realização pessoal... Sempre que não passamos da fixação no nosso eu e procuramos submeter-lhe o tu dos outros, mesmo que com boas intenções, estamos a dar lugar aos sucedâneos do amor que não se coadunam com a nossa vocação humana e cristã fundamental, que é sermos dom para os outros.

Na união da instituição da Eucaristia com o gesto do lava pés, Jesus mostrou-nos a totalidade da sua vida imersa no amor: dá o seu corpo e o seu sangue, dá a sua vida, nada reserva para si mesmo, tudo é para os outros; exprime de forma concreta o que isso significa dia após dia, quando se curva diante dos seus discípulos, ou seja, da humanidade, dos homens e mulheres, seus irmãos, o seu próximo.

 

A Igreja convida-nos a olhar para a Virgem Maria como o tipo e o modelo da Igreja que assume na sua história pessoal um estilo verdadeiramente eucarístico no que respeita à fé, à esperança e ao amor.

 

Maria é a mestra do conhecimento de fé, pois não se apoia nas certezas humanas, mas na Palavra do Deus Salvador. Não vê, não entende, não se apoia em mais nada senão na Palavra do Anjo, Palavra de Deus que lhe anuncia a incarnação do Verbo de Deus no seu seio virginal. De fato, apoiar-se inteiramente na Palavra de Deus é atitude de fé. Não tem mais nada em que se apoiar para acreditar na Eucaristia. Basta-lhe a palavra de Jesus: Isto é o Meu Corpo; isto é o Meu Sangue.

Ela antecipa a fé da Igreja, pois acredita que Aquele que se gerou no seu seio é o Filho do Deus Altíssimo: crê e adora a Deus em Jesus feito carne, em Jesus que se oferece ao Pai, em Jesus, que é o Senhor ressuscitado e vivo, presente na Igreja pelo sacramento da Eucaristia.

 

Maria é a Mãe da santa esperança, pois não espera nada das suas capacidades e forças humanas, que entende como pobres e fracas. Tudo espera de Deus que é fiel às suas promessas feitas de geração em geração e à promessa da vinda do Messias, Aquele que há de libertar Israel de todas as suas culpas.

Ela é mulher de esperança quando recebe o anúncio do Anjo, pois aguarda a concretização da promessa de Deus. Apesar da perturbação e das perguntas, ela guarda todas as coisas no seu coração, ou seja, medita silenciosamente na fé acerca do que, pelo poder de Deus, há de acontecer.

Quando acompanha Jesus na sua paixão até à morte de cruz, Maria sofre as dores da Mãe, mas espera com a fé da Filha de Sião. E, na manhã do primeiro dia da semana, vê realizada a sua esperança, podendo alegrar-se intensamente, tal como tinha sido profetizado pelo Anjo da Anunciação que a saudara com as palavras: salvé, alegra-te, Maria.

O Pentecostes e o dom do Espírito à Igreja completará essa esperança da presença do Salvador no meio do Seu povo. A Eucaristia é para ela e para toda a Igreja o sacramento da esperança em Deus, que é fiel às suas promessas.

 

Maria é ainda o modelo de amor ou de caridade que a Igreja deve viver, alicerçada na Eucaristia, o Sacramento da Caridade.

A sua vida é um hino à obediência à vontade de Deus – faça-se em mim segundo a Tua Palavra! Nesse sentido a vida de Maria é um sacrifício contínuo, pois a obediência à vontade de Deus realiza-se no sacrifício de si mesma.

Na visitação, em Belém, em Nazaré, no templo de Jerusalém, no Cenáculo, no Calvário, junto ao sepulcro, na espera do Pentecostes, a vida de Maria é um dom de amor. Ela é toda de Deus e é toda para Jesus e para os irmãos, nada reservando para si, a ponto de aceitar ser oferecida por Jesus à Igreja como Mãe.

Maria manifesta o seu amor a Deus e à Igreja pelo serviço pobre e humilde que realiza ainda hoje. Ao aproximar Deus da humanidade trazendo Jesus ao mundo, realiza o eterno desígnio do Pai: que todos se salvem pelo conhecimento do nome de Jesus. Essa é também a missão de serviço da Igreja e de todos nós, que se realiza no acolhimento, na evangelização e na caridade.

 

Que a Virgem Maria nos leve a crer, a esperar e a amar a Deus e aos irmãos, tal como Jesus nos ensinou com a sua morte e ressurreição e como Jesus nos ensina na Eucaristia e no lava pés que hoje fazemos em sua memória.

 

Coimbra, 13 de abril de 2017

 

Virgílio do Nascimento Antunes

Bispo de Coimbra

 


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