Assembleia Continental do Sínodo dos Bispos (5 a 9 de fevereiro)

Assembleia Continental do Sínodo dos Bispos
(5 a 9 de fevereiro)

Contributo da Equipa Sinodal da Diocese de Coimbra

 

Que intuições ecoam, de modo mais intenso, com as experiências e as realidades concretas da Igreja? Que experiências vos parecem novas e iluminadoras?

Destacamos particularmente seis intuições, experienciadas pela comunidade ainda que não esgotadas:

1. A cultura sinodal

A comunidade eclesial manifesta a alegria de se descobrir sinodal, aberta à participação construtiva de todos, sem exceção. A sinodalidade faz parte da natureza da Igreja que, por isso, a há de expressar como modo de ser e de agir nos diversos domínios da vida eclesial, nas suas estruturas e movimentos. Este é o caminho a aprofundar, acolhendo as mudanças que implica na vida da igreja, interna e externamente, na forma como se entende a si mesma e como se relaciona com o mundo. Importa cultivar uma cultura sinodal, que começa em cada membro da comunidade e é transversal a todas as áreas.

Do processo sinodal já realizado, constata-se uma vontade apaixonada de ser Igreja, um desejo de participar, um grande amor à construção comunitária, uma disponibilidade autêntica.

2. “Alarga a tua tenda”, sinal de alegria e de esperança

A metáfora da tenda proporciona um olhar sobre a Igreja contemporânea entre a dolorosa experiência da realidade (desconfiança e indiferença) e a esperança (anúncio do Evangelho).

O contexto remete-nos para o êxodo, o caminho, o deserto. A dinâmica eclesial traduz-se em fazer caminho, o caminho da promessa, e assumir a provisoriedade duma tenda que se monta e desmonta durante a viagem, tantas vezes em lugares adversos e inóspitos. Substituída a tenda pelo arranha-céus, já não nos sentimos peregrinos…

Como Igreja, Povo de Deus e chamados à novidade do Evangelho, sentimos que Deus montou a sua tenda no meio de nós (cfr. Jo 1, 14). O Espírito de Deus acompanha a missão e as suas vicissitudes. Somos tenda com a lonas que protegem, com cordas que sustentam a unidade da tenda em equilíbrio, com estacas que fixam a estrutura. Ainda que as lonas da tenda apresentem a fragilidade de alguns buracos, rasgões e remendos, experimentamos a alegria da presença amorosa de Deus.

3. Acolher a diversidade sem perder a identidade

Acolher a diversidade e manter a unidade é uma tensão de tensões a assumir, pois não são incompatíveis; a diversidade não tem de ferir a unidade, mas de expressar a pluralidade. Importa vencer a tentação de querer uniformizar para respeitar diferenças e especificidades legítimas e para manifestar uma Igreja onde abundam dons e carismas.

4. Acolher cada pessoa na sua realidade concreta sem ficar no abstrato

A afirmação da radical igualdade e dignidade de todos os batizados fundamenta a perspetiva de abertura da Igreja a todos e onde todos têm lugar. Em geral, na sensibilidade dos cristãos há “um reclamar do acolher a todos”. Acolher, sem preconceitos, com base na escuta do outro, sem o querer mudar; “reconhecer o outro como sujeito do meu caminho”. Possibilitar que todos e cada um encontrem na Igreja o seu lugar.

Esta atenção que o outro merece aponta para novas atitudes, especialmente, com aqueles que fizeram opções de vida que os afastam duma comunhão mais plena com a Igreja, entre outros, os divorciados recasados, as famílias monoparentais, as pessoas LGBTQIA+.

5. Levar o Evangelho a todos

A missão da Igreja é evangelizar, dar a conhecer a novidade Jesus Cristo como projeto de salvação para todos. Este é o desafio do ser Igreja, ao estilo de Jesus, em todos os lugares e de todos os tempos.

Numa sociedade secularizada, globalizada, fragmentada e tão diversificada como a atual, evangelizar a cultura, numa perspetiva de rasgar novos caminhos, tem de ser a opção. Fruto dum certo conformismo desresponsabilizante, entre os cristãos, nem sempre se sente a necessidade de evangelizar; ainda que nem sempre se perceba que caminho fazer ou que metodologias usar, é urgente que tanto a comunidade, como cada batizado, assumam a evangelização como tarefa prioritária, no testemunho e na diaconia.

6. Diálogo ecuménico e inter-religioso

Tendo presente a vontade de fazer caminho juntos, constata-se o clima dialogante e muito positivo entre as diferentes religiões e confissões cristãs.

 

Que tensões ou divergências substanciais surgem como particularmente importantes? Quais são as questões ou interrogações que deveriam ser enfrentadas e tomadas em consideração nas próximas fases do processo?

Consideramos, sumariamente, sete tensões, verdadeiros desafios à Igreja contemporânea:

1. Na liturgia

Há uma tensão crescente entre sensibilidades pré e pós-conciliares.

2. Na ação pastoral

Constatamos uma tensão entre fidelidade doutrinal e acolhimento acrítico e indiscriminado de tudo o que o outro proponha e a quem Deus também oferece os seus dons.

3. Em temas fraturantes

Em temas fraturantes associados à identidade sexual e de género, à abordagem da sexualidade e da afetividade, à educação da sexualidade, há tensões diversas.

4. No ministério ordenado

Ainda se verificam tensões na relação entre o ministério ordenado e o laicado, no reconhecimento da especificidade e lugar de cada um.

5. Condição da mulher

Devido ao caldo cultural de séculos e ainda presente, o lugar e o papel da mulher ainda não estão totalmente definidos e assumidos.

6. Clericalismo e anticlericalismo

Verificamos alguma tensão entre um anticlericalismo “de rosto simpático” subjacente, mas persistente e um clericalismo defensivo e justificativo, a requerer uma postura de verdade e autenticidade.

7. Diálogo ecuménico e inter-religioso

No diálogo ecuménico e inter-religioso, há um certo alheamento da grande maioria católica para esta questão (nalguns casos até uma certa rejeição) que contrasta com uma vontade de aproximação de muitos outros.

Quais são as prioridades, os temas recorrentes e os apelos à ação que podem ser partilhados com outras igrejas locais no mundo?

Elencamos seis prioridades na reflexão e ação da Igreja:

1. Proporcionar o encontro pessoal com Jesus Cristo e com o Evangelho;

2. Dar relevo à consciência pessoal bem formada sobre a formulação jurídica;

3. Dialogar com a cultura e com o pensamento contemporâneo, em temas como inteligência artificial, robótica, papel das mulheres, LGBTQIA+, recasados;

4. Considerar a possibilidade de ordenar presbíteros homens casados;

5. Formar leigos e clérigos na sinodalidade; concretamente, rever a formação proporcionada pelos seminários que não preparam, adequadamente, para a missão no mundo atual;

6. Aprofundar o diálogo ecuménico com iniciativas que possam ir além da semana de oração pela unidade dos cristãos.

Coimbra, 10 de janeiro de 2023

 

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