Queridos irmãos e
irmãs,
Queridas famílias!
Obrigado a todos
aqueles que deram um testemunho.
Obrigado a todos aqueles que nos
alegraram com a arte, com a beleza, que é o caminho para chegar a
Deus. A beleza nos leva a Deus. E um testemunho verdadeiro nos
leva a Deus, porque Deus também é a verdade. É a beleza e a
verdade. E um testemunho dado como serviço é bom, nos faz bem,
porque Deus é bondade. Isso nos leva a Deus. Tudo aquilo que é
bom, tudo o que é verdadeiro e tudo o que é belo leva-nos a Deus.
Porque Deus é bom, Deus é belo, Deus é a verdade.
Obrigado a
todos, por aqueles que nos transmitiram aqui uma mensagem e pela
vossa presença, que é também um testemunho. Um verdadeiro
testemunho de que a vida familiar vale a pena. De que uma
sociedade cresce forte, cresce boa, cresce bela e verdadeira
quando se edifica sobre o fundamento da família.
Uma vez, um
menino me perguntou – vós sabeis que as crianças perguntam coisas
difíceis –, ele perguntou: «Padre, o que Deus estava a fazer antes
de criar o mundo?». Garanto-vos que não fácil responder. E eu disse-lhe o que vos digo agora:
antes de criar o mundo, Deus amava,
porque Deus é amor! Mas tal era o amor que Ele tinha em Si mesmo –
esse amor entre o Pai e o Filho no Espírito Santo era tão grande,
tão transbordante – não sei se isso é muito teológico, mas me
entendereis – era tão grande que não podia ser egoísta. Tinha que
sair de si mesmo para ter a quem amar fora de si. E assim, Deus
criou o mundo.
Então Deus fez esta maravilha onde vivemos. E,
como estamos um pouco desnorteados, estamos a destrui-la.
Mas a
coisa mais bela que Deus fez – diz a Bíblia – foi a família. Ele
criou o homem e a mulher. E entregou-lhes tudo. Entregou-lhes o
mundo: «Sede fecundos e multiplicai-vos, cultivai a terra, fazei-a dar
fruto, fazei-a crescer». Todo o amor com que fez esta maravilhosa
Criação a entregou para uma família.
Vamos voltar um pouco. Todo o
amor que Deus tem em Si, toda a beleza que Deus tem em Si, toda a
verdade que Deus tem em Si mesmo, entrega-a para a família. E uma
família é verdadeiramente família quando ela é capaz de abrir os
braços e receber todo esse amor.
É evidente que o paraíso
terrestre não existe mais, que a vida tem seus problemas, que os
homens – pela astúcia do demónio – aprenderam a dividir-se. E todo
esse amor que Deus nos deu quase se perde. E logo em seguida, teve
lugar o primeiro assassinato, o primeiro fratricídio. Um irmão
mata o outro irmão: a guerra.
O amor, a beleza e a verdade de
Deus, e a destruição da guerra. E é entre essas duas posições que
nós caminhamos hoje. Cabe a cada um escolher, cabe a cada um decidir o
caminho a percorrer.
Mas voltemos ao início. Quando o homem e
a sua
esposa se equivocaram e se afastaram de Deus, Deus não os deixou
sozinhos. Tanto era o amor. Tanto era o amor que começou a
caminhar com a humanidade, Ele começou a caminhar com o Seu povo,
até que chegou o momento maduro e deu a demonstração do maior
amor: Seu Filho. E para onde mandou Seu Filho? Para um palácio, a
uma cidade, para construir uma empresa? Enviou-o a uma família.
Deus entrou no mundo numa família. E pôde fazê-lo porque essa
família era uma família que tinha um coração aberto ao amor, que
tinha as portas abertas.
Pensemos em Maria, jovenzinha. Não tinha
como entender: «Como isso pode acontecer?». E quando
lhe explicaram, ela obedeceu. Pensemos em José, cheio de
esperanças de formar um lar, e encontra esta surpresa que não entende.
Aceita, obedece. E na obediência de amor desta mulher, Maria, e
deste homem, José, dá-se uma família em que veio Deus. Deus sempre
bate às portas dos corações. Ele gosta de fazê-lo. Vem do seu
interior.
Mas sabeis do que Deus mais gosta? Bater às portas das
famílias. E encontrar as famílias unidas, encontrar as famílias
que se amam, encontrar as famílias que fazem crescer os seus filhos e os
educam e seguem em frente com eles, e criam uma sociedade de
bondade, verdade e beleza.
Estamos na festa das famílias. A
família tem uma carta de cidadania divina. Está claro? A carta de
cidadania que a família tem foi Deus que lhe deu para que no seu
seio crescesse cada vez mais a verdade, o amor e a beleza.
Certamente, alguns de vós podeis dizer-me: «Padre, o senhor fala
assim porque é solteiro». Na família há dificuldades. Nas famílias
discutimos. Nas famílias, às vezes, «voam os pratos». Nas famílias
os filhos dão dor de cabeça. Não vou falar das sogras. Mas nas
famílias sempre, sempre, existe a cruz. Sempre. Porque o amor de
Deus, o Filho de Deus, também nos abriu este caminho. Mas nas
famílias também, depois da cruz, há ressurreição, porque o Filho
de Deus nos abriu esse caminho. Por isso, a família é – perdoai-me
a palavra – uma fábrica de esperança; esperança de vida e
de ressurreição, porque foi Deus quem abriu esse caminho. E os
filhos. Os filhos dão trabalho. Nós, como filhos, démos trabalho.
Às vezes, em casa, vejo alguns dos meus colaboradores que vêm
trabalhar com olheiras. Eles têm um bebé de um mês, dois meses. Eu
lhes pergunto: «Não dormiste?». Respondem: «Não, chorou a noite
toda».
Na família há dificuldades, mas essas dificuldades são
superadas com amor. O ódio não supera nenhuma dificuldade. A
divisão dos corações não supera nenhuma dificuldade. Só o amor é
capaz de superar a dificuldade. Amor é festa, o amor é a alegria,
o amor é seguir em frente. Não quero continuar a falar, porque
está ficando muito longo, mas eu queria marcar dois pequenos
pontos sobre a família com os quais queria que se tivesse um
cuidado especial. Não só queria. Temos de tomar um cuidado
especial. As crianças e os avós.
As crianças e os jovens são o
futuro, são a força, aqueles que levam as coisas para frente. São
aqueles em quem colocamos a esperança. Os avós são a memória da
família. São aqueles que nos deram a fé, transmitiram-nos a fé.
Cuidar dos avós e cuidar das crianças é a demonstração de amor,
não sei se maior, mas – eu diria – mais promissora da família,
porque eles prometem o futuro. Um povo que não sabe cuidar das
crianças e um povo que não sabe cuidar dos avós é um povo sem
futuro, porque não tem nenhuma força e nenhuma memória para seguir
em frente.
Pois bem, a família é bela, mas custa, traz problemas.
Na família, às vezes, há inimizades. O marido briga com a mulher,
ou olham-se mal, ou os filhos com os pais. Dou-vos um conselho:
nunca termineis o dia sem fazer as pazes na família. Numa família
não se pode terminar o dia em guerra. Que Deus vos abençoe. Que
Deus vos dê forças. Que Deus vos incentive a seguir em frente.
Cuidemos da família. Defendamos a família, porque nela o nosso
futuro está em jogo. Obrigado.
Que Deus vos abençoe
e rezai por
mim, por favor.
Queridos irmãos e irmãs, Queridas famílias! Quero
agradecer, antes de mais nada, às famílias que tiveram a coragem
de partilhar connosco a sua vida. Obrigado pelo vosso testemunho!
É sempre um presente poder ouvir as famílias partilharem as suas
experiências de vida; toca o coração. Sentimos que nos falam de
coisas verdadeiramente pessoais e únicas, mas que de certa forma
nos dizem respeito a todos. Ouvindo as suas experiências, podemos
sentir-nos envolvidos, interpelados como esposos, como pais, como
filhos, irmãos, avós.
Enquanto as ouvia, eu pensava como é
importante partilhar a vida das nossas casas e ajudar-nos a
crescer nesta tarefa linda e desafiadora que é «ser família».
Encontrar-me convosco faz-me pensar num dos mistérios mais belos
do cristianismo. Deus não quis vir ao mundo senão através duma
família. Deus não quis aproximar-se da humanidade senão através
duma casa. Para Si mesmo, Deus não quis outro nome senão o de
«Emanuel» (cf. Mt 1, 23): é o Deus connosco. E este foi, desde o
princípio, o seu sonho, o seu propósito, a sua luta incansável
para nos dizer: «Eu sou o Deus convosco, o Deus para vós».
É o
Deus que, desde os primórdios da criação, afirmou: «Não é
conveniente que o homem esteja só» (Gn 2, 18). E nós podemos
continuar dizendo: não é conveniente que a mulher esteja só, não é
conveniente que a criança, o idoso, o jovem estejam sós; não é
conveniente. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe,
unir-se-á à sua mulher e os dois serão uma só carne (cf. Gn 2,
24). Os dois serão uma só morada, uma família. E assim desde
tempos imemoriais, no mais fundo do nosso coração, ouvimos estas
palavras que tocam fortemente o nosso íntimo: não é conveniente
que tu estejas só.
A família é o grande dom, o grande presente
deste «Deus connosco» que não quis abandonar-nos à solidão de
viver sem ninguém, sem desafios, sem morada. Deus não Se limita a
sonhar, mas procura fazer tudo «connosco». O sonho de Deus
continua a realizar-se nos sonhos de muitos casais que têm a
coragem de fazer, da sua vida, uma família. Por isso, a família é
o símbolo vivo do projecto de amor que um dia o Pai sonhou.
Querer
formar uma família é ter a coragem de fazer parte do sonho de
Deus, a coragem de sonhar com Ele, a coragem de construir com Ele,
a coragem de unir-se a Ele nesta história, de construir um mundo
onde ninguém se sinta só, onde ninguém se sinta supérfluo ou sem
lugar. Nós, cristãos, admiramos a beleza de cada momento familiar,
vendo nele como que o lugar onde, gradualmente, aprendemos o
significado e o valor das relações humanas.
Aprendemos que amar
alguém não é apenas um sentimento forte, mas uma decisão, um
discernimento, uma promessa (cf. E. Fromm, A arte de amar).
Aprendemos a gastar-nos por alguém, e aprendemos que isto vale a
pena. Jesus não era um «solteirão», muito pelo contrário. Desposou
a Igreja, fez dela o seu povo. Gastou-Se por aqueles que ama,
entregando-Se completamente para que a sua esposa, a Igreja,
pudesse sempre experimentar que Ele é o Deus connosco, com o seu
povo, com a sua família.
Não podemos
compreender Cristo sem a sua Igreja, tal como não podemos
compreender a Igreja sem o seu esposo, Cristo Jesus, que Se
entregou por amor e mostrou-nos que vale a pena fazê-lo. Gastar-se
por amor não é, em si, uma coisa fácil. Como se verificou com o
Mestre, há momentos em que este «gastar-se» passa por situações de
cruz. Momentos, em que parece que tudo se torna difícil. Penso em
tantos pais, tantas famílias a quem falta trabalho, ou têm um
trabalho sem direitos que se torna um verdadeiro calvário.
Quanto sacrifício
para se conseguir o pão de cada dia! Obviamente estes pais, quando
chegam a casa, não podem dar o melhor de si aos seus filhos pelo
cansaço que trazem. Penso em tantas famílias que não têm um tecto
sob o qual se abrigar, ou vivem em sítios sobrelotados que não
possuem o mínimo de condições para poder estabelecer laços de
intimidade, de segurança, de protecção contra tantos tipos de
adversidade. Penso em tantas famílias que não têm acesso aos
serviços básicos de saúde. Famílias, que para os problemas de
saúde, especialmente das crianças ou dos idosos, dependem dum
sistema que não os trata com seriedade, transcurando a angústia e
submetendo estas famílias a grandes sacrifícios para poderem
responder aos seus problemas sanitários.
Não podemos imaginar
uma sociedade sadia que não dê espaço concreto à vida da família.
Não podemos pensar um futuro para uma sociedade que não encontre
uma legislação capaz de defender e garantir as condições mínimas e
necessárias para que as famílias, especialmente aquelas que estão
a começar, possam desenvolver-se. Quantos problemas se resolverão,
se as nossas sociedades protegerem e garantirem que o espaço
familiar, especialmente o dos jovens recém-casados, encontrará a
possibilidade de ter um trabalho digno, uma habitação segura, um
serviço de saúde que acompanhe o crescimento da família em todas
as fases da vida.
O sonho de Deus
continua irrevogável, continua intacto e convida-nos a trabalhar,
a comprometer-nos a favor duma sociedade pro família. Uma
sociedade, onde «o pão, fruto da terra e do trabalho do homem»,
continue a ser partilhado em cada casa alimentando a esperança dos
seus filhos. Ajudemo-nos para que este «gastar-se por amor»
continue a ser possível. Nos momentos de dificuldade, ajudemo-nos
uns aos outros para aliviar o peso. Façamos de modo que uns sejam
apoio dos outros, as famílias apoio doutras famílias.
Não há famílias
perfeitas, mas isto não nos deve desencorajar. Pelo contrário, o
amor aprende-se, o amor vive-se, o amor cresce «moldando-se»
segundo as circunstâncias da vida que cada família concreta
atravessa. O amor nasce e desenvolve-se sempre entre luzes e
sombras. O amor é possível em homens e mulheres concretos que
procuram fazer dos conflitos, não a última palavra, mas uma
oportunidade. Oportunidade para pedirmos ajuda, oportunidade para
nos questionarmos em que devemos melhorar, oportunidade para
descobrirmos o Deus-connosco que nunca nos abandona.
Este é um grande
legado que podemos dar aos nossos filhos, uma óptima lição: é
verdade que cometemos erros; é verdade que temos problemas; mas
sabemos que estas coisas não são a realidade definitiva. Sabemos
que os erros, os problemas, os conflitos são uma oportunidade para
nos aproximarmos dos outros e de Deus. Nesta noite, reunimo-nos
para rezar, para o fazer em família, para fazer das nossas
famílias o rosto sorridente da Igreja. Para nos encontrarmos com
Deus que não quis outra forma para vir ao mundo senão por meio
duma família. Para nos encontrarmos com o Deus-connosco, o Deus
que está sempre no meio de nós.
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