PROCLAMAI A ALEGRIA DO EVANGELHO

Nota Pastoral do Vigário Episcopal para a Pastoral
para o Dia da Igreja Diocesana de 2014

 PROCLAMAI A ALEGRIA DO EVANGELHO. 

 ​INTRODUÇÃO

 

O Papa Francisco enviou-nos, este ano, a bela exortação apostólica EvangeliiGaudium que tem sido lida, com agrado, por muita gente que se situa dentro e fora da Igreja católica. Algumas das linhas de força que ele sublinha, nesta exortação, já as tínhamos presentes no nosso plano pastoral e, por isso, sentimo-nos bem confirmados no caminho a seguir. 

De um modo particular, sublinho alguns temas, muito queridos ao Papa Francisco, como sejam a construção de comunidades de discípulos - missionários, quefaz parte da visão programática da Diocese de Coimbra, o acompanhamento dos processos de crescimento a todos os níveis, individual e comunitário, a importância do kerigma, não só como o primeiro ato do processo evangelizador, mas como algo que deve percorrer toda a vida da Igreja e todo o processo de formação cristã, a interligação entre kerigma e questão social, que me parece tão inovadora e a merecer boa reflexão, para não separamos a evangelização das questões sociais e criarmos dois mundos à parte e, finalmente, a importância da conversão pastoral, tantas vezes abordada pelo Papa, para que se passe da teoria à acção renovadora.

Ao introduzir todos estes temas, o Papa começa com uma exortação à alegria da proclamação do Evangelho. Diz ele: «A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Aqueles que se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria» (EG,  1). E o Papa diz que deseja com esta exortação convidar os fiéis a uma nova etapa evangelizadora marcada por esta alegria.

Ao ler estas palavras do Papa Francisco, sobre a alegria, não pude deixar de me lembrar de uma Exortação apostólica de Paulo VI que já algumas vezes meditara e que trata também o mesmo assunto da alegria. Foi a 8 de Dezembro 1975 que este Papa publicou a Evangelii Nuntiandina opinião de muitos, o mais importante documento sobre a evangelização produzido pelo magistério da Igreja até agora. No nº 2 da EN, o Papa Paulo VI escreveu: “Ao concluir-se esta memorável Assembleia, eles (os padres Sinodais) decidiram confiar ao Pastor da Igreja universal, com grande confiança e simplicidade, o fruto de todo o seu labor, declarando que esperavam do Papa um impulso novo, capaz de suscitar, numa Igreja ainda mais arreigada na força e na potência imorredoiras do Pentecostes, tempos novos de evangelização.” 

Em cada época, o Espírito Santo, que conduz a Igreja, chama-a a despertar para a novidade, pois Ele é quem “faz novas todas as coisas”(Ap 21,5). Interessante ainda que, o mesmo Papa Paulo VI, anteceda a EN, com outra exortação, publicada em Maio do mesmo ano, no dia de Pentecostes, também sobre a alegria cristã, com o nome Gaudete in Domino. Dizia ele numa alocução das quartas- feiras nesse mês de Maio: “Porque não havemos de comunicar a toda a Igreja peregrina no mundo, pelos caminhos duros e atolados da experiência moderna, este sentimento, este fruto do Espírito Santo, este dom do alto, ao qual chegamos percorrendo a nossa querida e misteriosa Via Sacra?” E acrescenta: “esta alegria não depende exclusivamente da posse das condições necessárias para o bem-estar da vida temporal, mas brota da fonte primeira da alegria, Deus, felicidade infinita, e que ninguém nos pode tirar.” E conclui: “Procurámos assim lembrar a todos nós, que, se somos verdadeiramente cristãos e católicos, devemos estar imersos numa alegria sempre nova e verdadeira: a alegria que nos vem da graça do Espírito Santo, e deve provir do duplo esforço de renovação e reconciliação, que constitui o primeiro fim do programa do Ano Santo» (alocução do papa Paulo VI na audiência de quarta feira, 21 de Maio, de 1975). 

Ligando estes dois convites, o do Papa Francisco e, há umas décadas atrás, o do Papa Paulo VI, e ainda, tendo presente a carta pastoral do Bispo de Coimbra, no ano da fé, em que ele insistia muito na necessidade de viver a fé com alegria e com entusiasmo (a palavra alegria aparece 21 vezes, nesta carta, e entusiasmo, 14 vezes), parece que sempre que a Igreja nos lança, de uma forma solene, o desafio para uma Nova Evangelização, ou para tempos novos de evangelização, nos lembra também a necessidade de renovarmos a alegria de sermos cristãos e o entusiasmo pelo anúncio do Evangelho. E não pode ser de outra forma, pois evangelizar não é doutrinar, mas é testemunhar aquilo que Deus fez por nós, “libertando-nos do pecado, da tristeza e do vazio interior”, segundo as palavras do Papa Francisco. Como poderíamos fazer este anúncio com uma cara de tristeza?! Além disso, o primeiro e principal agente da evangelização é o Espírito Santo, e aquele que nos dá a alegria, como um fruto, é também o mesmo Espírito. Assim, sempre que evangelizamos, levados pelo desejo da salvação dos homens, não podemos deixar de experimentar a alegria antes, durante e depois do acto evangelizador. 

Por isso, o Secretariado de Coordenação Pastoral achou que no dia da Igreja Diocesana, deste ano de 2014, que é celebrado em arciprestado, houvesse algo que nos levasse, a todos, a uma reflexão comum, sobre a alegria da proclamação do Evangelho. Foi confiado ao Vigário Episcopal para a pastoral, a responsabilidade de fazer uma reflexão sobre o tema em questão. E à medida que pensava nisto, ia vendo a pertinência para nós, pastores e fiéis, de refletirmos na alegria com que, quotidianamente, damos testemunho do Evangelho. Tentamos dar o melhor de nós mesmos para realizar a Visão da Diocese, através do Plano, para 3 anos, que nos foi apresentado. Em várias paróquias, desenvolvem-se percursos kerigmáticos, para proporcionar o encontro pessoal com Cristo, através do primeiro anúncio (1º objectivo). Estas e outras comunidades tentam criar o dinamismo de discipulado-missionário na comunidade cristã, através da catequese de adultos, do lançamento de pequenos grupos de LectioDivina e de outros meios (2º objectivo). Mas pode correr-se o risco de fazer tudo isto, mais como um peso que nos sobrecarrega, do que com a manifestação da alegria por podermos anunciar Aquele que nos faz viver. A alegria no coração e no rosto é o que dará credibilidade ao nosso anúncio e é “Um dos melhores sintomas da fé” (nº1 da carta pastoral do Bispo de Coimbra, para o ano da fé). 

Possa, pois, esta reflexão ajudar-nos a renovar o dom da alegria, pois esta é como uma planta que se cultiva. Não nasce de geração espontânea. É, como o amor, fruto de decisões livres que se tomam a cada momento.

I

Das Fontes da Salvação, saciai-vos na alegria

1. Onde está a Fonte da alegria?

Nos Actos dos Apóstolos vem uma frase de Jesus que não se encontra nos evangelhosdesta forma concisa: “Há mais alegria em dar do que em receber” (Act20,35). Esta é a experiência da alegria de Jesus, pois ela é o fruto do dom mútuo das pessoas divinas da Santíssima Trindade. Deus é a alegria perfeita e completa. Ele habita num transbordamento de alegria, porque Deus é amor, e o amor é a fonte da alegria. Mas Deus não quis guardar a sua alegria para si mesmo, pois n’Ele tudo é dom transbordante. Ele quis partilhar a Sua alegria connosco. No capítulo 15 de S. João, Jesus, o Verbo eterno, utilizando a alegoria da videira e dos ramos, chama-nos a participar desse amor inefável que existe entre as pessoas divinas e, assim, a partilhar também da Sua alegria perfeita. “Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu, que tenho guardado os mandamentos de meu Pai, também permaneço no seu amor. Disse-vos estas coisas para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa (Jo15, 10-11). -“Estas coisas”, às quais Jesus se refere, são a necessidade da união com Ele, através do cumprimento dos mandamentos, para entramos, através d’Ele, na alegria verdadeira da Santíssima Trindade. A recusa do amor de Deus e a desobediência ao Seu mandamento do amor, fecha-nos em nós mesmos e, como consequência, extingue a nossa alegria. Quando isto acontece, e é um risco, certo e permanente, que correm também os crentes, “deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem. (…) muitos caem neste risco, transformando-se em pessoas ressentidas, queixosas, sem vida” (EG, nº 2). Não é a isto que somos chamados, mas à plenitude da alegria pela vivência da caridade. Mas o pecador que volta para Deus, arrependido, será, como o filho pródigo, perdoado, restabelecido na alegria de ser filho. 

O Papa Francisco dava início à sua exortação fazendo um belo convite a todos: «Convido todo o cristão, em qualquer lugar e situação em que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de O procurar dia a dia sem cessar. Não há motivo para alguém poder pensar que este convite não lhe diz respeito, já que da alegria trazida pelo Senhor ninguém é excluído”(EG nº 3). 

A alegria maior de quem trabalha no anúncio do Evangelho é poder ver o rosto feliz e transbordante daqueles que realizam este encontro pessoal com o Senhor, pela primeira vez, ou o renovam, depois de se terem deixado enganar pelas seduções do mundo e, a Ele voltam, arrependidos. É a alegria da ressurreição que acontece. E aí, damo-nos conta de quanto o homem tem necessidade de Deus, para viver plenamente a sua vocação humana.

2. Quando nos afastamos da fonte, secamos.

Infelizmente, o mundo contemporâneo parece desconhecer ou afastar-se cada vez mais desta fonte. À imagem da Samaritana do Evangelho, que Jesus esperava junto ao poço de Jacob, também a humanidade de hoje tem sede de felicidade, de plenitude, e de realização, mas, porque não é capaz de encontrar a verdadeira fonte da salvação, para se saciar na alegria que não passa, esta permanece-lhe escondida. Assim, os homens de hoje lançam-se numa corrida desenfreada, e sem sucesso, na procura da felicidade que julgam encontrar na experimentação imediata do prazer, ou no gozo do conforto material que o desenvolvimento técnico nos permite. Diz-nos o Papa, «o risco do mundo actual, com a sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada” (EG nº 2). Também hoje ressoa certeira a profecia de Jeremias dirigida a Israel: “O meu povo cometeu um duplo crime: abandonou-me a mim, nascente das águas vivas e construiu cisternas rotas, que não podem reter as águas» (Jer 2, 13). Estas cisternas rotas, porém, são-nos apresentadas com uma beleza atraente e sedutora. A publicidade, na qual se investem rios de dinheiro, serve para nos seduzir, qual fruto atraente da árvore do paraíso. Esta sedução e engano, atrai-nos também a nós, cristãos, quer sejamos pastores, ou fiéis leigos, anestesiando-nos e retirando-nos a coragem e o entusiamo para nos lançarmos, decididamente, na busca do caminho que conduz à verdadeira fonte da alegria.

 II

As alegrias naturais

Não queria, com isto, que se pensasse que as alegrias naturais que a vida nos proporciona seriam de rejeitar, dando assim uma impressão que o cristianismo seria contra os prazeres bons da vida. Não é essa, de todo, a visão da fé, já que Deus é o criador de todas as coisas belas e boas. Por isso, não se trata de depreciar os prazeres humanos e as alegrias sensíveis ligadas ao funcionamento do nosso organismo e do nosso ser social e cultural. Precisamos de as acolher com reconhecimento e gratidão em relação ao criador para aceder à verdadeira alegria espiritual. É autêntica a alegria que nos vem de um trabalho bem sucedido, de uma colheita frutuosa, de sentir a família reunida num dia de festa, de um passeio com os amigos e da contemplação da beleza da natureza. É saudável e legítima a alegria que vem do deslumbramento de um belo concerto de música, da leitura agradável de um maravilhoso romance ou da contemplação extasiada de uma admirável obra de arte, de uma soberba paisagem natural que se avista do cimo de uma montanha. É bela e querida por Deus, a alegria de estar com a pessoa amada e de fazer, com ela, planos para o futuro. É bom e belo estar com os amigos, num banquete de alegria e fraternidade, como Jesus fez tantas vezes. É agradável participar numa festa onde há música, alegria, danças, foguetes e outras manifestações culturais. Nestas ocasiões, sentimos, mais profundamente, que a vida é bela e que é bom viver. Ficamos, por vezes, tão agarrados a elas que as absolutizamos,como se a alegria consistisse apenas na fruição de todas essas coisas boas e belas, ainda que, por experiência, saibamos que duram um momento e passam. A Bíblia, previne-nos que tenhamos cuidado, em não absolutizar aquilo que é relativo e transitório. Ela lembra-nos a precariedade destas alegrias humanas: «De tudo quanto os meus olhos desejaram, nada lhes recusei: não privei o meu coração de nenhuma alegria, pois o meu coração sentiu alegria em todas as minhas canseiras e este foi quinhão que me ficou de todo o meu esforço. E voltei-me para todas as obras que as minhas mãos tinham feito e para o esforço que me custou fazê-las: e eis que tudo era ilusão e correr atrás do vento e que nada havia de proveitoso debaixo do Sol» (Ecl 2,10-11). Desde que tenhamos esta consciência de que todas estas alegrias humanas, embora boas, não são um fim em si mesmas, então recebamo-las com gratidão e procuremos não nos afastar do caminho que conduz à alegria que não passa. Quando, por várias contingênciasnão nos for possível vivê-las, saibamos que, mesmo assim, a alegria é possível, mas temos de a buscar noutra fonte.

 III

A Alegria da proclamação do Evangelho

 1. A alegria de Jesus em proclamar o Evangelho.

Jesus não nos fala da Sua alegria. Apenas diz aos discípulos que lhes disse «estas coisas» “para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa”. A alegria era um estado permanente de Jesus e os evangelhos levantam--nos o véu, para nos deixarem ver onde Jesus encontrava a Sua alegria. Em primeiro lugar, como já dissemos acima, a alegria de Jesus, vem da Sua união com o Pai, no seio da Santíssima Trindade, isto é, da comunhão admirável com o Seu desejo e vontade que Ele conhece em perfeição, pois “ninguém conhece o Pai senão o Filho e ninguém conhece o Filho senão o Pai (Mt 11,27)! Por isso, a alegria de Jesus tem a ver com aquilo que Ele sabe encher o coração do Pai, que é a salvação dos homens. 

Jesus comparava a Sua alegria, à do pastor que encontra a ovelha perdida e que, depois, a coloca aos ombros, com ternura, convidando todos, à alegria por ter encontrado a sua ovelha (Lc 15, 4-6). 

Comparava-a também, à alegria própria de um banquete de bodas (Jo 3, 29), onde Deus vem fazer festa com os homens e transformar as suas angústias e tristezas na alegria abundante.

 

Depois do regresso dos 72 discípulos, em missão, dois a doischeios de alegria, porque até os demónios lhes obedeciam e a missão parecia ter sido um sucesso, Jesus diz-lhes que se devem alegrar sobretudo porque são amados por Deus, «porque os vossos nomes estão inscritos no céu» (Lc 10, 20), isto é, porque o Pai vos ama com imensa ternura. A vossa maior alegria deve estar na certeza e confiança desse amor. E nesse instante, “Jesus estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e bendisse a sabedoria do Pai, por ter revelado o Seu plano aos humildes”(cf Lc 10,21). Jesus sabe quanto o Pai ama os homens e sabe para que foi enviado: Para que os homens tenham, n’Ele, a vida eterna e reencontrem o caminho para o Pai. Por isso, as maiores alegrias de Jesus estão ligadas a esta realização da vontade do Pai. Sempre que Ele vê que o plano do Pai se está a cumprir pelo anúncio, e que os homens se estão a abrir ao Seu amor, Jesus sente-se feliz.  

Junto ao poço de Jacob, Jesus vive um momento intenso de alegria ao ver a Samaritana a abrir-se ao dom de Deus, a água viva (Jo 4). No final, os discípulos, chegam com mantimentos e querem que Ele coma, mas Ele responde-lhes: «Tenho um alimento que vós não conheceis». E depois explica-lhes que «o meu alimento é fazer a vontade do Pai e realizar a sua obra». A alegria daquela obra de salvação que estava a acontecer, no diálogo com a Samaritana, era para Ele muito mais importante do que o alimento para o corpo. O que O alimentava, em verdade, era a alegria de ver o Pai feliz, pois “há mais alegria no céu por um só pecador que se converte do que por noventa e nove justos que não precisam de arrependimento”(Lc 15,7).

Jesus ofereceu-se para ir ficar em casa de Zaqueu e este recebeu-O cheio de alegria. Lá, enquanto uns murmuravam, porque Ele se tinha ido hospedar em casa de um pecador, Jesus vivia a alegria intensa de ouvir dizer da boca de Zaqueu: «Senhor,vou dar metade dos meus bens aos pobres e, se defraudei alguém em qualquer coisa, vou restituir-lhe quatro vezes mais» (Lc 19,8). Com que exultação interior Jesus deve ter dito a Zaqueu: «Hoje veio a salvação a esta casa, por este ser também filho de Abraão; pois, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19, 9-10).

Na Sua oração sacerdotal, Jesus revela como que o Seu segredo: “Esta é a vida eterna: que te conheçam a ti, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem Tu enviaste.» (Jo 17,3). Jesus viveu toda a Sua vida polarizado por este desejo de realizar a obra que o Pai Lhe tinha confiado, a salvação de cada homem, de todos os homens. «Esta é a vontade do Pai, que eu não perca nenhum daqueles que Ele me deu” (Jo 6,39). «Eu manifestei a tua glória na terra, levando a cabo a obra que me deste a realizar» (Jo17,4). A alegria perfeita de Jesus é a realização cabal do plano do Pai. As suas últimas palavras na cruz, embora cheias de sofrimento físico, são a manifestação de uma grande alegria interior: “Tudo está consumado” (Jo19,20).

2. A alegria dos discípulos em proclamar Jesus, o Evangelho de Deus.

Se a alegria de Jesus estava na Sua união de vontade com o Pai e na realização do Seu plano de amor, que é a salvação dos homens, a alegria dos discípulos está na sua união de vontade com Jesus e, n’Ele, com o Pai. 

Na Sua oração sacerdotal, Jesus pede, para os discípulos, que eles “tenham em si a plenitude da minha alegria” (Jo17,13). Os discípulos viverão essa plenitude, na medida em que viverem unidos a Jesus, também na paixão por fazer a vontade do Pai e realizar a Sua obra, isto é, na medida em que se encherem de zelo, até ao ponto de darem a vida pelo anúncio do Evangelho que, para eles, agora, é o anúncio de Jesus, morto e ressuscitado, pois Ele é o próprio Evangelho em Pessoa. (cf Mc1,1) 

A alegria dos discípulos vai consistir no anúncio de Jesus e em verem as pessoas abrir-se à fé n’Ele. Vão ter muitas ocasiões de se alegrar, pois verificarão, continuamente, que o anúncio do Evangelho que proclamam é sempre ocasião de alegria para os que o recebem. 

O eunuco convertido e baptizado por Filipe segue o seu caminho, cheio de alegria, porque abriu o coração ao Senhor pela fé (cf Act 8,26-40). A narrativa não se refere à alegria de Filipe, mas não é difícil imaginar quanto se deve ter alegrado pela conversão deste homem.  

O carcereiro, depois de baptizado com toda a família, levou os apóstolos para sua casa, pôs-lhes a mesa e entregou-se, com a família, à alegria de ter acreditado em Deus (cf Act 16, 25-34).

Os pagãos que escutam Paulo e Barnabé “encheram-se de alegria e glorificavam a palavra do Senhor.” (Actos 13, 48). E Paulo, o apóstolo, apesar de ter de sofrer muito por causa do anúncio do Evangelho, “transborda de alegria no meio de todas as suas tribulações”(cf 2 Cor7, 4), porque a sua alegria vem da união com o Senhor, pelo Espírito Santo, e da certeza que está a realizar a missão que lhe foi confiada: Anunciar aos gentios a Boa Nova da salvação. 

Na Samaria, Filipe começa a anunciar Cristo. Ao verem o poder da sua Palavra e os milagres que realizava, «houve grande alegria naquela cidade» (Act 8,8).

Quando, diante da recusa dos judeus em abraçar a fé, Paulo e Barnabé, decidem voltar-se para os pagãos, estes ficaram cheios de alegria e abraçaram a fé (cf Act 13,48). Porém, os judeus movem uma perseguição contra Paulo e Barnabé, expulsam-nos da cidade, mas eles «estavam cheios de alegria e do Espírito Santo» (Act 13, 52). Na Samaria, Filipe começa a anunciar Cristo. Ao verem o poder da sua Palavra e os milagres que realizava, «houve grande alegria naquela cidade» (Act 8,8).

Esta «alegria no Senhor» (Fil 3,1, 4,4) enche a vida da comunidade cristã, que testemunha ao mundo a presença de Deus no meio dela. Viviam o mandamento novo, como lhes foi deixado, «frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração. E o Senhor aumentava, todos os dias, o número dos que tinham entrado no caminho da salvação» (Act 2 46-47).

Esta alegria não só permite viverem unidos nos mesmos sentimentos, alegrando-se com os que se alegram, e chorando com os que choram, mas estabelece cada um, desde já, a viver na esperança: «Sede alegres na esperança», pede Paulo (Rom 12,12), que o Deus da esperança vos encha de toda a alegria e paz na fé, para que transbordeis de esperança, pela força do Espírito Santo (Rom 15,13).

IV

O paradoxo da alegria cristã.

​​O Papa Francisco diz-nos: «reconheço que a alegria não se vive da mesma maneira em todas as etapas e circunstâncias da vida, por vezes muito duras. Adapta-se e transforma-se, mas permanece sempre pelo menos como um feixe de luz que nasce da certeza pessoal de, não obstante o contrário, sermos infinitamente amados. Compreendo as pessoas que se vergam à tristeza por causa das graves dificuldades que têm de suportar, mas aos poucos é preciso permitir que a alegria da fé comece a despertar, como uma secreta mas firme confiança, mesmo no meio das piores angústias» (EG nº6).

Ora, esse é o segredo da fé cristã. Ela possibilita que todas as provações esofrimentos sejam uma ocasião de aprofundamento da alegria. 

Na carta pastoral, para o ano da fé, anteriormente citada, o Bispo de Coimbra, referiu-se, várias vezes, à alegria que a fé gerava e, acerca deste paradoxo da fé cristã, escrevia: «No meio de todas as dores e penas da vida, quem crê em Jesus Cristo Ressuscitado tem razões para se alegrar interiormente, por conhecer já, na esperança, o futuro que o espera: todo o luto, sofrimento e morte passarão e chegará a glória que Deus preparou para os seus filhos (cf. Ap 21, 4).

A alegria cristã baseia-se na esperança que nasce do mistério pascal de Jesus Cristo, Aquele que passou pela morte, mas ressuscitou para a glória e nos abriu as portas da vida eterna.» (carta pastoral sobre o ano da fé, de 15 de Agosto de 2012, nº 1)

O Novo Testamento está cheio deste ensinamento que nasce da experiência dos crentes. «É por isso que exultais de alegria, se bem que por algum tempo, tenhais de andar aflitos por diversas provações” (1Ped 1, 6). Assim, o cristão, de modo particular o apóstolo, está cheio de consolações e transborda de alegria no meio de todas as tribulações (2 Cor 7, 4); Os Tessalonicenses, por exemplo, acolheram a Palavra entre muitas tribulações na alegria do Espírito Santo (1 Tess 1, 6), e onde se esperava ver alguém triste e abatido encontra-se um discípulo “sempre alegre”(2 Cor 6, 10).

Outro paradoxo da alegria cristã, é que o cristão se apoia numa alegria que permanece para além das alegrias limitadas que desiludem e passam: Ele vive na alegria como se não estivesse alegre (1 Cor 7, 30). Os discípulos devem mesmo alegrar-se pela morte do Senhor porque isso é condição para a sua exaltação e para eles permanecerem no Pai. «Se me tivésseis amor, havíeis de alegrar-vos por Eu ir para o Pai (Jo 14, 28). A tristeza do crente, por causa da aparente ausência do Senhor, transforma-se sempre em alegria. «Vós haveis de estar tristes mas a vossa tristeza converter-se-á em alegria» (Jo16, 20-22). Os sofrimentos vividos pela comunidade convidam à solidariedade com todos os que são despojados: «A fogueira que se ateia numa comunidade para a pôr à prova não deve estranhar-se (1 Pd 4,12), pois os mesmos sofrimentos atingem muitos outros irmãos espalhados pelo mundo. (1Pd 5,9) «Alegrai-vos, pois assim como participais dos sofrimentos de Cristo, assim também rejubilareis de alegria na altura da revelação da sua glória. Se sois ultrajados pelo nome de Cristo, bem-aventurados sois vós, porque o Espírito de glória, o Espírito de Deus, repousa sobre vós (1 Pd 4, 13-14). 

Muitos santos da Igreja, nos seus escritos espirituais, mostram-nos esta dimensão paradoxal da alegria cristã. Na noite escura da fé, os sentimentos não se alegram com a presença sentida do amado, mas no fundo da alma, a alegria permanece. É, porém, uma alegria diferente. Santa Teresinha do Menino Jesus escrevia: “Eu vivo uma alegria refinada, a alegria de não sentir nenhuma”. Essa alegria era aceite, pois Teresinha sabia que passava por aí o caminho do seu mestre para a fazer progredir no amor. Os exemplos de Jesus, da comunidade cristã primitiva, e da tradição espiritual da Igreja mostram-nos o caminho a percorrer para vivermos, dia a dia, na alegria que ninguém nos pode arrebatar.

Tudo começa por um grande sim a Deus, pois não podemos viver da alegria do Evangelho, passando pelas provações e dificuldades, sem estarmos profundamente unidos à Sua vontade. A alegria cristã tem aqui a sua origem, no ajustamento amoroso e alegre da nossa vontade à vontade do Pai. Referenciado sempre ao amor de Deus, o cristão não deve ceder à tristeza, pois ela fecha-nos sobre nós mesmos, enquanto a alegria incessante nos abre a Deus e ao Seu desejo, que é sempre o de amar. 

V

Para uma pastoral da alegria

1.Os pequenos grupos 

A narrativa dos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35) serve-me de base para reflectir sobre uma pastoral que pode transformar as tristezas e as desilusões em alegria e esperança.

​​Jesus, que se põe a caminho com os discípulos, sem que eles O reconheçam, pergunta-lhes: «Que palavras são essas que trocais entre vós pelo caminho?»Pararam, com ar muito triste. Isto diz tudo sobre a situação interior dos discípulos de Emaús. Pelo desenrolar da narrativa, vemos como a tristeza de Cléofas e do outro discípulo, se vai transformar em alegria. Jesus tinha-lhes dito antes da Sua morte, “Em verdade, em verdade vos digo: haveis de chorar e lamentar-vos, ao passo que o mundo há-de gozar. Vós haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há-de converter-se em alegria” (Jo 16). O que levou Cléofas e o outro discípulo a passar da tristeza a uma tão grande alegria? O texto deixa-nos ver que foram quatro ingredientes que os ajudaram a esta transformação. Em primeiro lugar, o poderem caminhar com alguém que, não só soube escutar os motivos da sua tristeza e desalento, mas, além disso, as provocou, porque sabia que era importante eles exteriorizarem aquilo que causava o seu desânimo e tristeza. Em segundo lugar, Ele não só os escutou, mas soube fazer luz sobre sua situação. A partir da lei e dos profetas, explica-lhes, que a morte de Jesus, causa da sua tristeza, não é um desastre, uma catástrofe, um fim infeliz de uma vida, mas é o começo de algo grande e inaudito que «nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais passou pela mente humana o que Deus preparou para aqueles que o amam» (1 Cor2,9). Enquanto Ele lhes explica as Escrituras, é como se uma luz iluminasse a escuridão que os habitava e, pouco a pouco, a sua tristeza e desalento se convertesse, primeiro, em esperança, e depois, em alegria. 

​​Cheios de confiança, n’Aquele que os fazia sair da desilusão e da tristeza, quando Ele faz menção de se ir embora, eles têm a ousadia de Lhe suplicar: «Ficai connosco, porque o dia está a terminar e vem caindo a noite» (Lc 24, 29). Aceitou e pôs-se à mesa com eles. “Tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e entregou-lho. Nesse momento abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-n’O” (Lc 24, 31.) O terceiro ingrediente, que os faz passar da tristeza à alegria, é o poderem partilhar da Sua presença, comungar d’Ele mesmo, vivo, ressuscitado, vencedor da morte. Ele está ali, a dar-se a eles. Agora reconhecem-n’O. É certo que, logo depois, desaparece, mas agora já não importa. Percebem que Ele quer que O vejam, doravante, n’Aquele pão partido, sinal sacramental do Seu Corpo entregue, para dar a vida ao mundo. Agora a sua alegria é imensa. Fortalecidos por ela, partem, fazendo o caminho em sentido contrário, para Jerusalém, para levar a notícia aos outros discípulos. E este é o 4º elemento; a evangelização. É o anúncio feito na alegria de quem tem uma experiência de salvação para partilhar. A Evangelização faz-se na alegria da fé e, como resultado, faz crescer ainda mais essa alegria. Penso que estão aqui os quatro ingredientes fundamentais que poderão ajudar os discípulos de hoje a passar da lamúria, da tristeza, do desânimo, da dor, para a esperança e a alegria.

E onde podemos encontrar isto? Num grupo pequeno, de discípulos, que se reúnem com frequência, e onde há espaço para a partilha das experiências alegres ou tristes que compõem a sua vida. Não chega, porém, essa partilha. É sempre necessária a palavra que ilumina e esclarece a vida e ajuda a ver o sentido daquilo que vivemos, para que surja a esperança e a alegria: É essa palavra que nos faz descobrir: «Deus estava aqui e eu não sabia (Gén 28 16). Depois deste caminho percorrido, ficaria ainda incompleto se não se celebrasse a fé, comungando a presença do Senhor vivo que fortalece a nossa caminhada e nos restaura as forças lançando-nos no zelo da evangelização. O processo evangelizador está incompleto sem adesão aos sinais, aos sacramentos, onde o crente se encontra com o Cristo vivo anunciado na Palavra escutada.

Para mim, foi sempre importante o encontro semanal com um grupo de cristãos onde partilhamos a vida, os sucessos e insucessos, as alegrias e as tristezas, as esperanças e as angústias, mas, ao mesmo tempo, na oração, escutamos a Palavra que nos ilumina e nos fortalece. O Cristianismo é, por essência, comunitário, e por isso a fé, vivida individualmente, sem a Igreja, sem os outros, não é fé cristã, não tem poder para transformar as tristezas em alegrias. Além disso, só há verdadeiramente experiência cristã, isto é, abertura à fé, se acontece a correlação entre a minha experiência humana aprofundada na partilha e no diálogo e a experiência cristã fundamental, tal como nos vem nos Evangelhos e na Tradição viva da Igreja. “Ouvir dizer, sem experiênciahumana, é apenas uma informação intelectual ou um fideísmo beato. Mas também só a experiência humana, por mais aprofundada que seja, não se torna experiência de fé ou experiência cristã, se não houver correlação com a experiência cristã fundamental, ou seja a Palavra de Deus, isto é, se não houver anúncio. Quando esta correlação acontece, então os pequenos grupos tornam-se lugares de maturação da fé, de conversão das tristezas em alegrias. Acredito profundamente na importância dos pequenos grupos, para o crescimento na maturidade da fé. Se a Visão que tenho para a paróquia de que sou responsável, é levar a que a maioria dos cristãos se possa inserir nalgum pequeno grupo, onde avance na maturidade cristã, também penso que a Diocese será uma Igreja a crescer numérica e espiritualmente, todos os dias, na medida em que crescerem continuamente os pequenos grupos de catequese de adultos, ou outros, que realizem dinâmica semelhante.

Que com o lançamento dos vários volumes do catecismo de adultos, que está em curso na nossa Diocese, se multipliquem pequenos grupos de discípulos que, ajudados uns pelos outros, vão descobrindo o rosto de Cristo ressuscitado a caminhar com eles, para que, como os discípulos de Emaús, as suas tristezas sejam transformadas em alegria incontida que conduz ao dinamismo da evangelização. 

Conclusão

A Nova Evangelização a que o Espírito Santo nos convida e em que creio estarmos comprometidos todos, pastores e fiéis, na nossa Diocese, deve ser nova nas suas expressões, nos seus métodos e no seu ardor. Ela supõe uma nova alegria vinda de uma renovação do Espírito de Pentecostes. Como diz o Papa Francisco:”… um evangelizador não deveria ter constantemente uma cara de funeral. Recuperemos e aumentemos o fervor do espírito, «a suave e reconfortante alegria de evangelizar, mesmo quando for preciso semear com lágrimas! …) E que o mundo do nosso tempo, que procura , ora na angústia ora com esperança, possa receber a Boa-Nova dos lábios, não de evangelizadores tristes e descoroçoados, impacientes ou ansiosos, mas sim de ministros do Evangelho cuja vida irradie fervor, pois foram quem primeiro recebeu em si a alegria de Cristo» (EG, nº10).

​​Não temos razões para a tristeza, porque o Senhor está connosco, Ele venceu a morte e deu-nos a vida imortal. Nada nos poderá separar do Seu amor que é vencedor (Rom8,39). Renovemos, pois, a nossa alegria “nas fontes da salvação”, sobretudo, alimentando-a pela participação fiel e amorosa na Eucaristia, em que comungamos o Corpo do Senhor, fortificando a nossa união com Ele no amor; e também através do louvor quotidiano, reconhecendo alegremente as suas maravilhas na nossa vida, vivendo num espírito agradecido que gera alegria e esperança.  

O pecado é um grande obstáculo à alegria. Ele é um parasita que corrói a alma, gerando a tristeza e conduzindo ao desânimo, fechando-nos em nós mesmos. Temos sempre a possibilidade da celebração do sacramento da penitência, onde experimentamos a alegria do abraço do Pai. 

Outro impedimento forte da alegria é o ressentimento acumulado ou o ódio acalentado. Para voltar a experimentar a saudável alegria precisamos de fazer o caminho do perdão, que liberta e cura a alma. 

Geram ainda alegria em nós, os pequenos sacrifícios de amor, que nos levam a sair do nosso eu, para ir ao encontro dos doentes, dos pobres e dos que não conhecem Deus. A Evangelização é um grande acto de caridade que “cobre a multidão dos pecados”(1Pd 4,8; Prov 10,12, Tg 5,19-20). Este zelo pela salvação dos homens faz-nos sair de nós mesmos e ir ao encontro dos irmãos para os escutar, para os animar na esperança, para os exortar a abrirem-se a Deus e à alegria de O conhecerem. Muitas vezes, tenho experimentado, que sempre que saio para ir ao encontro das pessoas, mesmo que não tenha tido, visivelmente, sucesso algum naquilo que fiz, isso me deu uma alegria enorme, só pelo facto de ter saído. Aplica-se, assim, o salmo que diz… «À volta vêm a cantar, trazendo os molhos de espigas» (Sl 125). 

Outra causa de alegria são as boas relações de comunhão no Corpo de Cristo: boas relações entre padres e Bispo, entre os padres entre si, no presbitério, entre padres e fiéis, na comunidade cristã. A alegria deve sentir-se na comunidade cristã. Precisamos de trabalhar todos para fazer crescer a comunhão fraterna. «Vede como é bom e agradável que os irmãos vivam unidos! (…) É como o orvalho do Monte Hermon, que escorre sobre as montanhas de Sião!», diz-nos o salmo 133. Esta fraternidade cristã é necessária, sobretudo nos nossos dias, em que o paganismo leva as pessoas a fecharem-se no individualismo. Desejar entrar na Nova Evangelização, passa também por transformar as relações, na paróquia, e noutras comunidades cristãs, para que sejam lugar da vivência da amizade verdadeira, da confiança, da festa e da alegria. Os pequenos grupos da paróquia, são aqui fundamentais para cultivarem essa amizade e comunhão. São eles que poderão possibilitar à comunidade inteira, esse rosto fraterno,que se tornará visível, pouco a pouco, na grande assembleia. As pessoas procuram, hoje,comunidades onde experimentem a fraternidade, a amizade e a alegria. Esse é um sinal de que somos discípulos. Perguntemo-nos: Na nossa comunidade cristã vive-se  acomunhão fraterna, a amizade e a alegria de estarmos juntos?  É nos pequenos grupos que se estabelecem estas relações fraternas e, depois, atingem toda a comunidade. Por isso, lancemo-nos na preparação de animadores, que possam liderar pequenos grupos de catequese de adultos, que se espalhem por toda a paróquia e onde se formarão discípulos-missionários.

Viver na alegria é fruto, também, de uma decisão e de uma escolha. Nós podemos em cada dia decidir viver na alegria ou na tristeza. Não controlamos as circunstâncias da nossa vida, mas podemos escolher a maneira de reagir às diferentes situações. Diz o livro de Ben SiráAnima a tua alma e consola o teu coração e afasta a tristeza para bem longe de ti, porque a tristeza faz morrer a muitos e não tem nenhuma utilidade (Sir 30,23).

Várias vezes me aconteceu ser levado pela tentação de me deixar cair na tristeza e nas lamúrias por circunstâncias adversas. Quando me dei conta de que estava a ser levado, ajudou-me fazer actos de fé e de confiança e entrar no louvor, com os salmos, cantando-os mesmo sozinho. Quando afirmamos, decididamente, a nossa fé e a nossa confiança em Deus, afastamos para longe de nós “os demónios” da tristeza, e recuperamos a alegria que nos abre a Deus e aos outros. É difícil não resvalarmos para a tristeza, diante de situações adversas, mas quando nos damos conta, podemos reagir, renunciando a permanecer na tristeza, através de vários dos caminhos que tentei apontar.

Que Maria, a Senhora da alegria e do Magnificat, que passou pela dor e pelo Calvário, mas experimentou a alegria da ressurreição, na manhã de Páscoa, nos faça entrar na alegria plena que encheu a sua vida e que Jesus prometeu aos Seus discípulos. 

Coimbra, 13 de Maio de 2014
P. Jorge da Silva Santos
(Vigário Episcopal para a Coordenação Pastoral)

 

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