Santa Isabel de Portugal - Homilia de Dom Virgílio

SOLENIDADE DE SANTA ISABEL DE PORTUGAL
PADROEIRA DE COIMBRA
SANTA CLARA-A-NOVA - 2022

Caríssimos irmãos e irmãs!

Coimbra celebra de novo a festa da sua padroeira, Santa Isabel de Portugal, a nossa querida Rainha Santa. Sempre o povo acorreu para cantar os louvores de uma mulher, porque é santa e rainha, isto é, porque viveu com fidelidade a fé em Deus e porque se envolveu totalmente na transformação da sociedade do seu tempo. Foi mulher de fé e mulher e ação, a inspirar ao longo dos séculos os seus devotos para que acolham felizes essas duas dimensões inseparáveis da existência cristã inscritas a letras de ouro no seu testemunho.

É voz corrente que o mundo tem falta de grandes lideres e é, porventura, bem verdade. Sempre foram poucos os verdadeiros lideres da humanidade, que a inspirem, animem e fortaleçam na busca do bem e da verdade, porque isso implica sempre a clarividência nas ideias, acompanhada pelo testemunho da vida.

Na nossa linguagem cristã, falamos dos santos, homens e mulheres que, movidos pela força da fé, ousaram pôr a sua vida, sem reservas, ao serviço do maior bem de todos. Como escasseiam vozes e vidas alicerçadas em fé e humanidade, ficamos, frequentemente, reféns de correntes de opinião superficiais, de ondas de perspetivas e sonhos pelos quais ninguém está disposto a dar a vida. Muitos dos que podemos considerar grandes influenciadores de todos os tempos e também do nosso tempo, são portadores de visões parciais sobre tudo, quando não defensores de interesses particulares ou do aparente bem imediato de pessoas e povos.

Os santos têm horizontes mais vastos, veem mais longe, não pensam apenas num aspeto, não defendem apenas uma parte da humanidade nem somente uma dimensão da vida. Santa Isabel ocupou-se do seu coração de crente, mas centrou-se ainda mais no coração das pessoas e dos povos que serviu. Não se ficou por uma fé desencarnada da realidade, mas tornou a fé a motivação fundamental da sua existência: serviu a Deus, serviu a Pátria, serviu a sociedade de homens e mulheres a quem deu todo o amor que lhe ardia no peito.

 Precisamos de homens e mulheres que sejam bons influenciadores da humanidade em geral, mas também dentro das nossas pequenas comunidades locais, tanto na Igreja como na sociedade. Precisamos de pessoas íntegras em humanidade, de estrutura ética alicerçada nos valores mais nobres, apaixonadas pela defesa da justiça e disponíveis para dar a vida em favor do reconhecimento da igual dignidade de todos, sem exceção.

Quando olhamos para os jovens pensamos na urgência de pessoas e instituições que os ajudem a crescer integralmente e lhes forneçam experiências felizes de vidas bem realizadas e felizes; quando olhamos para o mundo recheado de situações de injustiça, guerra e morte, pensamos em quem possa mostrar uma cultura efetiva de justiça, de paz e de defesa da vida das pessoas e do planeta que nos foi dado para nele habitarmos; quando olhamos para a organização social económica e política, pensamos na relevância de arautos da defesa do bem de cada pessoa e do bem comum; quando olhamos para a Igreja, sentimos a urgência de apóstolos, de pastores, de testemunhas da fé, de obreiros da caridade e de santos.

Tivemos, hoje, a oportunidade de voltar a escutar o texto do capítulo 25 do Evangelho segundo São Mateus, que nos ilumina acerca do significado da Pessoa e da Mensagem de Jesus como influenciador à escala universal. Este seu discurso, entre muitos outros que o Evangelho nos transmite, manifesta a grandeza única da Sua condição humana e divina e oferece-nos a realidade a que aspiramos.

Por sua vez, o comentário da segunda leitura concretiza focando-se no âmago da sua Pessoa e Doutrina: “Nisto conhecemos o amor: Ele deu a sua vida por nós”. Imediatamente a seguir, na mesma frase, o Apóstolo acrescenta aquilo que deve ser a realidade mais profunda e identitária da nossa condição humana: “e nós devemos também dar a vida pelos nossos irmãos”.

Como discípulos de Jesus Cristo, não temos outro objetivo senão este de aprender d’Ele a dar a vida, uma expressão de significado denso e radical, que se tornou o sonho de toda a humanidade que se revê nas suas palavras e na sua atitude. Histórias de fidelidade e de infidelidade a este desígnio povoam a existência de multidões quase infinitas nestes dois mil anos de cultura cristã. A sedução por este Jesus continua e, quando se acolhe e desenvolve, muda realmente o rumo de vidas e o curso da história.

Mas, o texto do Evangelho de Mateus, pretendendo simplificar e traduzir aquilo que podia parecer-nos muito genérico, teórico e universal, concretiza com as referências de Jesus às situações concretas e quotidianas em que nos confrontamos com a obrigatoriedade de assumir uma atitude que defina o que queremos ser e como queremos agir.

A inevitabilidade da decisão pelo amor, que se traduz no dar a vida, está aí constantemente à nossa frente e à nossa porta, confrontamo-nos com ela a cada passo, aproxima-se de nós em cada pessoa que entra na nossa vida, atravessa-se-nos na vida familiar e social a cada momento. Não há como calar a voz da consciência quando grita forte dentro de nós, não há como fechar os olhos do coração quando a evidência da realidade fere a indiferença dos nossos sentidos.

Jesus não nos convoca, por isso, a um simples ideal de vida, mas chama-nos a dar a vida seguindo o seu exemplo, o que só é possível quando nos deixamos tocar por Ele na inteligência, na consciência e no coração.

Continuamos a celebrar a festa de Santa Isabel de Portugal porque reconhecemos nela alguém que elegeu a Deus como o seu ideal de vida, assumiu o seguimento de Jesus como a via que a conduziu aos irmãos, desejou concretizar quotidianamente o Evangelho como a manifestação do amor e pôs-se integralmente ao serviço. Influenciou o seu tempo e influencia o nosso tempo mostrando-se figura verdadeiramente proeminente na nossa cidade e na nossa Diocese de Coimbra. Situa-se, por isso, entre as figuras mais queridas da nossa comunidade, que também precisa de testemunhos inspiradores para o seu pensar e o seu agir.

A Rainha Santa é uma daquelas pessoas que superam qualquer caraterização que dela se faça e que pretenda enclausurá-la simplesmente na devoção dos crentes, porque o amor que acolheu e viveu atravessa todas as barreiras, mesmo as religiosas, porque tem uma dimensão universal. Desse modo, numa sociedade bem diferente da do seu tempo, ela apresenta-se ainda hoje como padroeira da nossa cidade de Coimbra e podemos colher a força eloquente e inspiradora do seu testemunho.

A Rainha Santa conheceu o Amor e não há nada nem ninguém mais transformador do coração, da mente, da vontade e da vida do que o Amor de Deus revelado em Jesus Cristo e infundido em nós pelo Espírito Santo.

Coimbra, 04 de julho de 2022
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

Oral

Genç

Milf

Masaj

Film

xhamster