Ordenações 2018 - Homilia de Dom Virgílio

SOLENIDADE DO NASCIMENTO DE SÃO JOÃO BATISTA

HOMILIA DA MISSA DAS ORDENAÇÕES

SÉ NOVA – 2018.06.24

 

Caríssimos irmãos e irmãs!

Esta festa das ordenações na solenidade do nascimento de São João Batista traz um novo alento do Espírito de Deus à nossa Igreja Diocesana de Coimbra. Ajuda-nos a tomar consciência de que a fé vem de Deus, a Igreja é de Deus e a obra de levar a salvação até aos confins da terra também pertence a Deus.

Alegra-nos a certeza de que, em todos os tempos e lugares, o Senhor suscita pessoas e meios adequados para a realização da missão confiada à Igreja. Suscitou o pequeno resto de um povo de Israel destroçado, para restaurar as tribos de Jacob e reconduzir os sobreviventes de Israel à sua pátria e ao seu Deus; suscitou-lhes um rei segundo o seu coração e disponível para fazer sempre a sua vontade – dele havia de nascer Jesus, o Salvador; de uma família sem esperança de descendência, suscitou João Batista, o profeta que anuncia a presença de Jesus no meio do seu povo, o grande sinal de que Deus é misericordioso.

À luz da fé que foi derramada nos nossos corações, alegra-nos, por isso, a certeza de que Deus pode e quer restaurar o povo que nós somos e reconduzir a Igreja e a humanidade às fontes da salvação e da vida. À luz da fé cristã, na Igreja de Cristo não há lugar para pessimismos nem para otimismos, que são fruto da confiança ou da desconfiança nas capacidades humanas, mas há sempre lugar para a confiança em Deus e para a esperança na realização da sua magnífica obra.

A vocação de todos os batizados a seguir Cristo, e as vocações específicas geradas pelo Espírito Santo na Igreja, constituem a resposta dos fiéis ao chamamento divino, que não cessa de nos oferecer motivos para a esperança. Uma Igreja, povo de Deus, que segue Jesus como o seu Mestre e Senhor, enriquecida por todas as vocações, alimentada pela Palavra e pela Eucaristia, conduzida pelo Espírito Santo, é constituída por Deus como verdadeira luz das nações e está disponível para levar a sua salvação até aos confins da terra. Esta Igreja Diocesana que nós somos reconhece as suas debilidades, mas vê sobretudo as suas imensas potencialidades, sempre que, como Igreja carismática, caminha confiada na presença do Espírito que lhe foi dado.

Por sua vez, quando a Igreja se torna frouxa na fé e no amor, fechada sobre si mesma, mais humana que divina, sem espiritualidade assente na Palavra e na Eucaristia, quando não vive do Espírito, ela deixa de ser luz para as nações e perde a única força que lhe pertence, a do testemunho por meio da fé, do amor e do serviço que quer prestar a toda a humanidade.

Ao ouvir a narração dos acontecimentos que envolvem o nascimento de João Batista, avivamos a fé na realização dos desígnios e Deus em nosso favor. Acreditamos que Ele nos oferece a possibilidade de ver nascer vida nova nas nossas comunidades porventura envelhecidas na fé, acreditamos que nos dará todas as vocações necessárias para que sejamos uma Igreja evangelizada e evangelizadora, acreditamos que as comunidades se podem organizar de forma humanamente adequada e espiritualmente iluminada para comunicarem a alegria de estar com Cristo e de viverem na comunhão de fé, de esperança e de amor com Deus e com os irmãos.

Caríssimos irmãos e irmãs!

Qualquer vocação cristã encontra a sua razão de ser e o seu sentido no contexto da Igreja, Povo de Deus, na qual o Espírito Santo concede a abundância dos seus dons em ordem ao bem de todos. A vocação sendo um dom pessoal, tem sempre como horizonte a vida da comunidade cristã e o bem de toda a humanidade que Deus quer salvar por meio de Jesus Cristo, o Único Salvador.

A própria vida que recebemos do Criador já traz em si mesma a marca do dom que se recebe para se dar. De forma mais visível, a vocação ao ministério ordenado realiza a atitude central que há de animar todo o batizado: como Cristo e em união sacramental com Cristo, ser para Deus e ser para os outros. Assumir uma vocação cristã é, por isso, fruto de uma forma de assumir a vida à luz da fé, que põe o chamado numa tensão generosa e decidida de dar a vida para que outros tenham a vida em abundância.

Não admira, portanto, que a fé em Jesus Cristo esteja no centro de qualquer resposta vocacional dentro da Igreja. Não admira também que a chamada crise de vocações sacerdotais tenha na sua origem uma imensa crise de fé que atingiu as nossas comunidades eclesiais. O caminho para o crescimento vocacional passa sempre por um potenciar todos os dinamismos de enraizamento e aprofundamento de uma fé sólida, responsável, consequente.

Temos diante de nós, enquanto Igreja Diocesana, a grande missão de proporcionar às comunidades, às famílias e, de modo particular, às crianças e aos jovens percursos de descoberta da fé e caminhos de encontro com Deus. Somente esta experiência sentida poderá ajudar os jovens a interrogarem-se seriamente acerca do seu caminho de vida em Igreja.

Salvo as exceções que o Espírito quiser suscitar, as vocações sacerdotais só podem surgir em contexto de vivência da fé como uma realidade determinante do todo que é a pessoa e do estilo de vida que se sente impelida a seguir.

Peço, por isso, a toda a comunidade diocesana, que em toda a sua ação pastoral, em todos os seus dinamismos litúrgicos, catequéticos e espirituais, tenha sempre presente uma intencionalidade vocacional. A catequese infantil, a pastoral juvenil e universitária, a pastoral familiar, hão de investir seriamente os seus recursos na oferta de percursos de fé, sempre com uma intencionalidade vocacional. A chamada pastoral das vocações a nível diocesano, encarregar-se-á de acompanhar os jovens em ordem ao discernimento da vocação específica de cada um, de modo que todos aqueles que Deus chamar encontrem a ajuda eclesial e espiritual para perseverarem com coragem e alegria nesse caminho.

Caríssimos amigos que hoje recebeis a graça do sacramento da Ordem no grau do Diaconado ou do presbiterado!

Em nome desta assembleia cristã e de todo o Povo de Deus, convido-vos a acolher com humildade o dom de Deus que hoje vos é concedido. Agradecei ao Senhor no íntimo do vosso coração porque olhou para vós com misericórdia e amor, a ponto de vos chamar a participar da sua missão de levar ao mundo o Evangelho da salvação e de celebrar unidos a Ele e em sua memória os mistérios da fé.

A Igreja alegra-se com o vosso sim generoso e confiante. Espera que sejais pastores segundo o coração de Deus e que exerçais o ministério como um verdadeiro serviço. Tende consciência de que sois portadores de um tesouro, mas em vasos de barro, para que sempre ponhais o Senhor no centro do vosso serviço e nunca penseis em vós como senhores de coisa alguma.

Todos esperamos que leveis o Evangelho nos lábios e no coração, na certeza de que a conversão pastoral tem de estar sempre precedida pela conversão pessoal ao Senhor que vos convida a uma feliz história de amizade e serviço. A conversão a Cristo e à sua Igreja há de levar-vos a acolher, por uma lado, e a ir ao encontro, por outro, de cada pessoa e de cada comunidade como aqueles por quem Jesus ofereceu a sua vida ao Pai.

O Povo de Deus espera que sejais pastores apaixonados, cujo coração se comove de amor e de misericórdia por cada pessoa, justa ou pecadora, de todas as condições, mas com uma predileção especial, tal como Jesus, o vosso mestre, pelos mais pobres e pelos que vivem nas periferias da humanidade, da fé ou da própria Igreja.

Amai a Cristo e amai a sua Igreja, a Igreja presente neste lugar e neste tempo; amai a humanidade com as suas grandezas e misérias; levai a boa nova da esperança aos desanimados e o conforto aos que sofrem. Que nunca sejais meros administradores do sagrado, nem simples gestores da Igreja, mas sinais vivos da fé e condutores do povo Santo de Deus.

Recordai-vos sempre que o pastor dá a vida pelo seu rebanho e tudo está disposto a fazer para que encontre pastos verdejantes e águas cristalinas.

Que sempre e em tudo possais trabalhar na comunhão da Igreja e que nunca cedais à tentação de romper com a unidade da Igreja, para que, segundo a oração de Jesus ao Pai, todos sejamos um só rebanho sob a condução do Único Pastor.

Deixai-vos conduzir pela mão da Virgem Santa Maria, a quem confiamos o vosso ministério e a vossa vida.

Coimbra, 24 de junho de 2018

Virgílio do Nascimento Antunes

Bispo de Coimbra

 

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