Missa Crismal 2023 - Homilia de Dom Virgílio

MISSA CRISMAL - 2023

Caríssimos irmãos e irmãs!
Na Missa Crismal, celebramos a graça do único sacerdócio de Cristo partilhado com todos os seus fiéis, membros do povo sacerdotal pelo batismo, e a graça do sacerdócio ordenado concedido a homens escolhidos para oferecerem ao Pai a única Palavra de vida e o único sacrifício salvador. Somos, deste modo, Povo eleito, Nação Santa, Povo Resgatado, que canta as maravilhas de Deus e se oferece na cruz em ato de comunhão com a Igreja e com o mundo a quem Ele ama infinitamente.
Na Missa Crismal contemplamos, por isso, a bondade de Deus, que nos deu Jesus Cristo, Aquele que nos ama e pelo seu sangue nos libertou do pecado e fez de nós um reino de sacerdotes para Deus, seu Pai. Não cessamos de lhe oferecer a glória e o poder pelos séculos dos séculos, com a nossa voz e com a nossa vida orantes, a manifestar o nosso amor a Jesus Cristo e a todos aqueles que Ele ama com um amor divino, a ponto de se oferecer por nós no alto da cruz.

Caríssimos irmãos, sacerdotes, pelo batismo entramos na corrente de sangue e água que brotou do lado aberto de Cristo e pelo sacramento da Ordem somos chamados sacerdotes do Altíssimo e Ministros do nosso Deus. Tudo o que recebemos vem do Senhor e tudo o que realizamos pertence ao Senhor e é ação sua em favor dos nossos irmãos.
Não encontramos honra maior do que ser servos de Deus, unidos a Cristo, o Servo de Deus, do que ser servos da humanidade, que Ele continua a servir em sinal de amor. Servir e amar são os nossos distintivos, são o que nos alegra, o que nos realiza e o que dá sentido à nossa vocação pessoal dentro deste grande povo chamado a seguir o Senhor.

Caríssimos irmãos e irmãs, fiéis em Cristo, rezemos pelos sacerdotes da nossa Igreja, rezemos todos os dias e com fé profunda pela sua dignidade e fidelidade, amparemo-los com a nossa estima e amor, pois querem ser no meio de nós sinal visível e atuante de serviço e de amor. Mesmo que a debilidade da sua condição tenha falhas e pecados, os sacerdotes são sempre meios humanos pelos quais podemos saborear a grandeza e a santidade dos dons divinos, disponíveis para todos nós nos sacramentos da Igreja.

A bênção do óleo dos catecúmenos, leva-nos a renovar a fé na ação de Jesus Cristo que quer chamar à fé e ao batismo toda a humanidade, por meio do anúncio do Evangelho.
Como nos alvores do cristianismo, conhecemos, hoje, o lugar do mandamento de Jesus que enviou os seus apóstolos e discípulos pelo mundo inteiro a realizar a obra da evangelização, a batizar e a ensinar os caminhos do encontro pessoal com Cristo, que transforma a vida das pessoas.
De forma renovada, o magistério da Igreja centra-se na atualidade no mesmo mandato de Cristo e pede-nos que não nos dispersemos em muitas realidades acessórias para promovermos, com todas as nossas forças, ações conducentes a levar os homens e mulheres do nosso tempo ao encontro com Ele.
Sabemos como é difícil compaginar a atenção à Igreja já constituída e a caminhar no nosso meio humano, cultural e social, com a atenção a todos os que são buscadores de Deus sem referências assumidas ou mesmo perdidos na pluralidade das ofertas de caminhos de salvação. Fortalecer a fé do povo de Deus e olhar com solicitude para uma humanidade que não conhece a Cristo, são os dois polos da nossa missão eclesial, que devem mobilizar a todos: leigos, consagrados e ministros ordenados.
A pergunta é inevitável: o que faço como cristão leigo, como consagrado, como diácono ou presbítero para ajudar a fortalecer na fé o Povo de Deus? Mas, ao mesmo tempo, o que faço para transmitir a fé que recebi e que a Igreja testemunha? Na presente situação em que vivemos na nossa Diocese, não podemos esquecer a urgência da mudança de atitude que o Papa Francisco nos sugere: “sonho com uma Igreja toda ela missionária... toda ela envolvida pela doce e reconfortante alegria de evangelizar... toda ela dedicada a oferecer a graça do encontro com Cristo”.

A bênção do óleo dos enfermos constitui para nós o desafio a dar continuidade à ação de Jesus Cristo que veio para cuidar de todos os que são atribulados no corpo ou no espírito. Nenhuma pessoa lhe foi indiferente, mas a sua predileção foi sempre pelos pobres, pelos doentes e pelos pecadores que precisam próxima e imediatamente da consolação humana e da consolação divina.
Jesus usou todas as modalidades de anúncio da Boa Nova que salva durante a sua vida pública narrada pelos Evangelhos. Nunca faltou o elemento fundamental que dá unidade a todo o encontro: olhou cada pessoa com misericórdia, encheu-se de compaixão, aproximou-se para dar a mão, tocou nas feridas dos que jaziam caídos, perdoou os pecados aos desanimados, deu pão aos famintos, esteve ao lado dos que sofriam e choravam... Jesus estava lá no momento certo, cuidou de cada um... Deixou-nos o óleo da consolação, do perdão e da cura no seu amor compadecido que dá novo sabor à vida e conduz à fé.
Quando nos falou de uma Igreja “hospital de campanha”, enviada ás periferias, o Papa Francisco colheu o essencial do Evangelho, que não reduz a Igreja a uma organização social, mas faz dela sinal do coração de Cristo, que se faz próximo de cada pessoa, que se compadece de cada um na sua situação, que não exclui ninguém, mas cuida de todos com coração.
O óleo da unção dos enfermos usa-se no sacramento da consolação, do perdão, da cura e da salvação dos fiéis, mas, para além disso, aponta aos cristãos e a toda a Igreja o modo como há de estar no mundo: a acolher, a cuidar, a reparar com a compaixão de Cristo, que chamou: Vinde a Mim, vós todos... vós cansados e oprimidos... Eu vos aliviarei. E Ele mesmo se aproximou, saiu, foi ao encontro, com coração, com amor, com misericórdia.

A consagração do óleo do Crisma, que de Cristo recebeu o nome, recorda-nos a nossa única vocação: sermos santos como Ele é santo. No batismo, somos ungidos para que, unidos a Ele, sejamos santos; na confirmação, somos ungidos para sermos santos no amor do Espírito Santo, que nos é dado, que nos inspira e guia como adultos na fé; na ordenação sacerdotal, somos ungidos para nos configurarmos pessoalmente com Cristo, o Santo de Deus, e servirmos a obra da santificação dos nossos irmãos por meio do anúncio do Evangelho, da celebração dos sacramentos e das obras da caridade.
Quando o Papa Francisco nos diz “Eu sou uma missão e por isso estou no mundo” (EG 273), está a confirmar-nos na certeza de que cada cristão é para os outros, é uma missão para os outros, e que toda a Igreja é para o mundo, é uma missão no meio deste mundo. Elemento central no nosso processo de conversão pessoal e eclesial é o sentido de missão que recebemos: como cristão, eu sou para os outros, a minha comunidade cristã é uma missão junto dos outros, a Igreja é sinal e luz para o caminho dos outros. A auto referencialidade de cada um de nós, da minha pequena comunidade ou da Igreja contradiz o testemunho de Jesus que se aniquilou a si mesmo tomando a condição de servo, que veio para dar a vida em abundância, que foi enviado para salvar o que estava perdido.
Ao longo deste ano, a nossa Diocese procurou ajudar-nos a ver melhor que, enquanto cristãos, somos uma missão, quando nos propôs três palavras: chamar, formar, enviar. Fortalecidos pelo Dom do Espírito Santo, somos chamados por Cristo, somos formados na escola de Cristo e somos enviados por Cristo para, como Igreja, transmitirmos a fé a todos, crianças, jovens e adultos.

Queremos hoje, caríssimos irmãos sacerdotes, renovar os compromissos assumidos com Cristo e a sua Igreja no dia da nossa ordenação. Precisamos da graça do Senhor e precisamos da oração dos fiéis, que acolhemos com humildade.
Que o Espírito Santo nos fortaleça para a missão recebida e que nenhum de nós com a amizade dos seus irmãos sacerdotes desanime no meio das dificuldades do caminho ou das noites escuras. Que as incompreensões e críticas nos ajudem a purificar o coração e a vida e nos incentivem a caminhar na santidade de Cristo e no serviço à Igreja.
Que nada nos possa separar do amor de Deus infundido nos nossos corações e que o Senhor que nos chamou, continue a formarmos e a enviar-nos com a juventude e a decisão daquele primeiro momento em que nos alcançou e nos fez seus para sempre.

Coimbra, 06 de abril de 2023
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

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