Homilia na celebração de Abertura Solene do Ano Pastoral 2017-2018

ABERTURA SOLENE DO ANO PASTORAL DE 2017-2018
NA DIOCESE DE COIMBRA
HOMILIA DA MISSA DO XXV DOMINGO COMUM A
SÉ NOVA 2017-09-23

Caríssimos irmãos e irmãs!
A abertura solene do novo ano pastoral convoca-nos a todos para um novo começo na missão de nos aproximarmos de Cristo, a nossa vocação universal de cristãos. Escolhemos como frase chave do nosso Plano Pastoral para 2017-2020 a frase da Primeira Epístola de Pedro “aproximai-vos do Senhor” (1 Pd 2, 4), pois ser cristãos é estarmos em caminho para Aquele que é “o Caminho, a Verdade e a Vida”.
A Epístola aos Filipenses, que escutámos na primeira leitura, apresenta-nos a mesma verdade por meio da expressão, porventura ainda mais forte de Paulo, “para mim viver é Cristo e morrer é lucro”. Se Cristo é a nossa origem e o nosso fim, se Ele é tudo para nós, tanto faz viver sobre esta terra, como morrer, desde que estejamos n’Ele e com Ele.
Para estarmos com o Senhor, que é a nossa vida, precisamos de nos pôr a caminho, precisamos de partir constantemente de nós e das nossas ocupações e preocupações mundanas e de nos mover em direção a Ele, precisamos de nos mover interiormente para nossa aproximarmos d’Ele. A espiritualidade cristã nunca é uma realidade totalmente adquirida, nem uma realidade estática em que nos encontramos, mas é um dinamismo interior do Espírito de Deus em nós, que nos leva a estar sempre em caminho para o Senhor. 
A vida espiritual do cristão parte da certeza da fé no Senhor que vem ao nosso encontro e nos dá o Seu Espírito que nos há de mover para nos aproximarmos d’Ele, com decisão, com gozo interior, mas também com desprendimento e com o desejo renovado de estar com Ele.
A Primeira Leitura, partindo da certeza de fé que o Senhor vem ao nosso encontro, traduzia tudo o que é a resposta e o esforço humano, quando dizia: “procurai o Senhor”, “convertei-vos ao Senhor”. Aceitemos este desafio com todas as forças da nossa vontade humana, mas sempre confiados no eterno desejo que Deus tem de nos encontrar. 
Ao enviar-nos o Seu Espírito, Deus dá-nos a graça de que precisa a nossa humanidade para nos pormos a caminho e chegarmos à comunhão com Ele, àquilo que humanamente seria impossível. A vida no Espírito, a que chamamos espiritualidade, é o dom de Deus que nos capacita para o encontro vital que nunca mais pode parar até que repousemos eternamente na comunhão com Cristo. 
A vida no Espírito é, por isso, o caminho da conversão a que alude a Profecia de Isaías, quando diz; “converta-se ao Senhor”; é o caminho da conversão proclamado por Jesus no início da Sua vida pública, quando diz: “convertei-vos e acreditai no Evangelho”; e é o caminho da conversão proclamado ainda hoje pela Igreja em todas as suas ações de anúncio do Evangelho. É o que queremos nós, Diocese de Coimbra, quando propomos a toda a comunidade cristão um Plano Pastoral, baseado na expressão “aproximai-vos do Senhor”.

O convite de nos aproximarmos do Senhor, dirige-se, em primeiro lugar a nós: a mim como bispo, a ti como sacerdote ou diácono, a ti como consagrado, a ti como leigo. Frequentemente caímos no erro de procurar ser intermediários de Deus para fazer chegar este convite à multidão de homens e mulheres a quem se dirige sem que ele nos inclua e envolva, em primeiro lugar, a nós. 
Quem não se converte não pode levar os outros à conversão, quem não caminha no Espírito não pode ajudar outros a serem homens espirituais, quem não vive o Evangelho não pode ensinar a viver n’Ele. É enquanto pessoas, enquanto comunidades cristãs e enquanto Igreja que estão em estado permanente de conversão, que sempre se aproximam mais do Senhor e que sempre acolhem de modo renovado o Evangelho, que podemos realizar a missão que nos é confiada.
Os chamados agentes de pastoral, isto é, todos aqueles que receberam a graça de trabalhar ativamente na Igreja em favor da evangelização e da edificação do Corpo Santo de Cristo, são os primeiros a receber o dom da conversão, os primeiros a acolher a força do Espírito para se tornarem santos, os primeiros a deixar entrar o Evangelho no coração a fim de viverem de maneira digna do mesmo Evangelho. Trata-se efetivamente de uma graça que nunca agradeceremos suficientemente ao Senhor e trata-se, ao mesmo tempo, de uma missão, da mais nobre missão, a de cooperar com Cristo, na docilidade ao Espírito Santo, em favor do encontro salvador.
Aproximar-se do Senhor e dispor-se a ajudar outros a aproximarem-se do Senhor são um dom e uma missão, que nos consolam e nos enchem de alegria. Não precisamos de outra recompensa, pois o Senhor já nos deu tudo ao conceder-nos o maior dom, o Espírito Santo, e a maior graça, a participação na Sua própria missão. Nos dias difíceis, quando nos faltar o ânimo para continuar o caminho, quando nos confrontarmos com o aparente insucesso, quando forem grandes as dificuldades na missão, confiemos tudo ao Senhor e Ele cuidará de nós, guardará a Sua Igreja, abrir-nos-á os novos caminhos da esperança.

A parábola do Evangelho que escutámos ensina-nos que Jesus convida muitos trabalhadores para cooperarem com Ele na realização da Sua obra, o anúncio do Evangelho para a salvação da humanidade, a construção do Seu Povo Santo como sinal e realização do Reino de Deus no mundo. Ensina-nos ainda que a Igreja, sacramento de Cristo no mundo, convida homens e mulheres de todas as condições para trabalharem alegremente ao serviço da sua edificação em todos os tempos e lugares da história. Essas pessoas somos nós e são muitas outras que não esperam nenhuma outra recompensa senão a certeza de realizarem a sua vocação de discípulos evangelizadores. 
Diante de Deus, nenhum de nós é tão pobre que não tenha nada para dar e ninguém é tão rico que possa ficar fechado no seu bem estar, esquecendo o próprio Deus que chama e a humanidade que reclama mediadores para o encontro com a Palavra da Salvação. Enquanto Povo de Deus e em nome de Cristo e da Igreja que chama, sentimo-nos honrados e agradecidos por acolher o dom de cooperar na realização da obra maior, que não é humana, mas divina.

“Ide vós também para a minha vinha”. Esta é o campo imenso do mundo inteiro, é o campo minúsculo do lugar em que estou, o pequeno mundo das minhas relações pessoais, familiares ou sociais. Todo o lugar é espaço de evangelização enquanto comunicação da fé: de forma organizada por meio dos métodos oferecidos pela Igreja no seio da comunidade cristã; de forma espontânea por meio da palavra e do testemunho onde quer que se passem os nossos dias.
Em resposta aos novos tempos em que vivemos, somos convidados pela Igreja, de modo especial pela voz do magistério do Papa Francisco, a caminhar em duas frentes. 
Em primeiro lugar, a atualização dos meios, das formas e do ardor com que realizamos toda a ação pastoral, evangelizadora, catequética, litúrgica e caritativa. Não basta fazer ou realizar ações ou atividades, mas é imperioso ir com o ardor da fé, com a humildade do Espírito e com os métodos adequados ao modo de ser da humanidade do tempo presente, em cada um dos meios concretos aos quais nos dirigimos.
Em segundo lugar, os destinatários aos quais a Igreja dirige a sua ação evangelizadora, a que o Papa chamou as periferias, ou seja, as pessoas que estão nas margens da fé e da Igreja, mas também nas margens distantes da sociedade, em virtude das condições económicas, das diversas formas de exclusão, do estilo de vida que assumiram, das distâncias geográficas, do baixo nível cultural, da situação familiar, da situação de doença e perda de familiares ou de qualquer outra circunstância que as torna mais frágeis espiritualmente, psicologicamente, socialmente, economicamente ou eclesialmente. Se Jesus e o seu Evangelho fazem uma clara opção pelos mais pobres, as periferias segundo a linguagem do Papa Francisco, a Igreja tem de fazer uma clara opção pelos pobres, as nossas comunidades das paróquias e das unidades pastorais têm de fazer uma clara opção pelos pobres.
Diante das dificuldades de realizar a missão que nos foi confiada, convido-vos a interiorizar duas certezas: primeira - não há nenhuma comunidade cristã que não tenha capacidade evangelizadora, pois ela constitui a identidade da Igreja e é dom do Espírito Santo que vem em auxílio da nossa fragilidade; segunda - não há nenhuma porção da humanidade que não possa ser evangelizada, pois é o mesmo Espírito Santo que vai à frente e que prepara os corações para o anúncio que somos convidados a fazer.
Em nome de Cristo que me chamou a exercer o ministério pastoral gostaria, hoje, de repetir as palavras desafiadoras que escutámos na liturgia: convertei-vos ao Senhor para que possais dizer com fé: para mim viver é Cristo; e ainda, ide vós também trabalhar para a minha vinha, porque o Senhor é bom, guarda no coração os seus discípulos e chama-lhes os seus amigos.

Confiamos a Igreja Diocesana e todos os seus membros a Nossa Senhora, para que nos acompanhe em todas as suas necessidades e nos indique os caminhos a seguir para que o mundo creia e seja salvo. Ámen.

Coimbra, 24 de setembro de 2017
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

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