Dia de Natal 2022 - Homilia de Dom Virgílio

SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR 2022
MISSA DO DIA

Caríssimos irmãos e irmãs!

Nesta altura do ano, cantamos sempre: É Natal! Cristo nasceu! Com razão, porque a vinda de Jesus Cristo ao nosso mundo é uma iniciativa de Deus, que se realiza de acordo com a sua Palavra, que realiza este acontecimento sem igual.

Com o nascimento de Jesus em Belém e depois dele é sempre Natal: “nasceu-vos, hoje, na cidade de David, um Salvador, que é Cristo Senhor”. Esta certeza da fé não se pode apagar da memória viva da humanidade nem perde a sua validade para todos os tempos, porque o facto de o Verbo vir ao mundo e habitar junto de nós não depende de nós, mas de Deus. Desde esse momento central da história, Deus mora no meio da humanidade, oferece-se a cada pessoa e pode entrar na sua vida, permanece entre nós como o Emanuel, o Deus-connosco.

O Natal pode, sim, cancelar-se nos calendários políticos, sociais, culturais e ideológicos, mas continua sempre vivo na memória viva dos crentes a influenciar a sua vida e a abrir-lhe horizontes de eternidade, porque é um acontecimento da história da salvação.

A celebração do Natal, por sua vez, está sujeita a todas as convulsões da história humana e tem assumido diferentes formas ao longo dos tempos. Cada vez mais se acentuam entre nós as divergências entre o modo de celebrar crente e cristão e o modo de celebrar social e desprovido de fé.

Também nós somos vulneráveis e vemos as formas de celebrar encontrarem alternativas, umas que procuram manter o espírito originário e outras que se afastam dele e que o contradizem claramente. Numa sociedade secularizada, é normal que assim seja, mas é mau que deixemos perder no nosso coração, na nossa casa de família e na nossa comunidade cristã o essencial da sua celebração. Nessa altura perde-se a riqueza do acontecimento fundante e nós próprios corremos atrás das últimas novidades.

Procuramos que as nossas razões e o nosso modo de celebrar o Natal correspondam à realidade em que acreditamos pela fé, ou seja, que o Natal é a festa de encontro com Jesus, o Filho de Deus, que se faz homem para nos salvar.

 

Se para alguém o Natal é todos os dias, como frequentemente se diz, é para nós, os cristãos. É Natal todos os dias porque o Emanuel é o Deus que está connosco, que permanece e que funda as nossas vidas.

 “O Verbo fez-se carne e habitou entre nós”, não temporariamente, mas para sempre, desde que haja lugar para Ele na hospedaria que é o nosso coração sedento de graça e de verdade, ansioso por receber “a luz verdadeira que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem”.

Viver o Natal todos os dias significa estar com Jesus, o Cristo e Filho de Deus, todos os dias, fazer d’Ele o alimento que nos nutre na fé, a força de amor que nos move e a razão da nossa esperança contra todas as esperanças.

O Natal, para além de um acontecimento querido por Deus, de uma celebração que nós precisamos de realizar e de uma fé diária que assumimos na vida, traz-nos também uma riqueza imensa de mensagens inspiradoras para a definição dos ideais que nos movem como pessoas e dentro da sociedade.

Todos os textos bíblicos da celebração litúrgica desta quadra festiva nos declaram que Jesus veio para nós. Deus voltou-se para o seu povo com olhar de misericórdia, viu a sua situação, compadeceu-se dele e enviou o seu Filho como consolador e salvador. Esta é a novidade da revelação cristã, que encontra a sua realização plena no mistério pascal de Jesus Cristo, também por nós e para nós.

Neste gesto amoroso de Deus encontramos a inspiração fundamental a dar o sentido às nossas vidas: como Jesus veio para nós, nós temos a missão de nos pormos a caminho para os outros. A Virgem Maria, a primeira crente e a mais santa de todas as criaturas entendeu que essa era a sua vocação e inspiração logo que, cheia do Espírito Santo, aceitou pôr-se a caminho para levar Cristo aos outros e para ser ela mesma serva dos outros. Levantou-se e partiu apressadamente, diz o Evangelho, porque é urgente ir ao encontro dos outros, viver para eles e levar-lhes como dom, Jesus, o Salvador.

Acolhamos, irmãos e irmãs, esta atitude de Deus que nos envia Jesus, que vem para nós; acolhamo-la como a grande inspiração do nosso Natal com o desejo de que se torne a inspiração do Natal de toda a humanidade:

Quando nos pomos a caminho dos outros, não há lugar para a guerra e tornamo-nos construtores de paz. Pedimos o dom da paz para o mundo, concretamente para a Ucrânia, onde o sofrimento e a morte são as manifestações maiores do fechar-se sobre si mesmos de pessoas ou de povos.

Quando nos pomos a caminho dos outros, não há lugar para o desespero no sofrimento, mesmo que ele seja grande e terminal, pois juntos havemos de encontrar forças e meios para que a esperança e o amor à vida prevaleçam; quando somos para os outros não há lugar para qualquer forma de apressar a hora da morte, pois fomos criados para a vida.

Quando nos pomos a caminho dos outros, encontramos juntos os caminhos para vencer as injustiças de toda a ordem, sejam a violência física ou psicológica, sejam os problemas da pobreza, sejam a intolerância para com o nosso próximo.

Pormo-nos a caminho dos outros como Jesus desceu à terra por nós, é o nome do amor, como força imperecível que recebemos de Deus e que queremos se torne o nosso único ideal de vida, o nosso Natal de todos os dias.

Coimbra, 25 de dezembro de 2022
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

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