Peregrinos da Esperança :: Nota Pastoral do Bispo de Coimbra para o ano pastoral 2024-2025

NOTA PASTORAL DO BISPO DE COIMBRA
ANO PASTORAL DE 2024-2025

 

PEREGRINOS DA ESPERANÇA

Terminámos o Plano Pastoral Diocesano que orientou o melhor das nossas energias no triénio de 2021-2024, sob o tema: «Diocese de Coimbra. Jovem levanta-te! Cristo vive.». Como temos feito em relação aos planos pastorais anteriores, este será um ano de avaliação do Plano cessante e de reflexão sobre o próximo Plano Pastoral.

Todo o trabalho feito no decorrer do Plano que termina, no entorno dos jovens, permanece em aberto e há de dar muitos frutos, dos quais esperamos que o Sínodo dos Jovens seja simultaneamente um fruto amadurecido e semente de muitos outros. Por isso queremos dedicar-lhe este ano também especial atenção.

Celebramos o Jubileu 2025. Na comunhão da Igreja diocesana com a Igreja universal e o Santo Padre, este seria sempre um polo dinamizador da nossa reflexão e ação celebrativa! Mas a feliz coincidência de recair sobre um ano intercalar entre planos pastorais diocesanos dá-nos a oportunidade de o podermos celebrar de um modo mais intenso e dedicado, assumindo-o como “centro” do ano pastoral 2024-2025 na Diocese de Coimbra.

I. JUBILEU DE 2025

1. JUBILEU E ANO DA ORAÇÃO

“Peregrinos da esperança” foi o tema escolhido pelo Papa Francisco para o Jubileu Ordinário do ano de 2025.

Na Bula de proclamação do Jubileu, intitulada “A esperança não engana” (Rm 5, 5), o Papa oferece algumas linhas de reflexão sobre a teologia da esperança e as orientações fundamentais que a Igreja deve ter em conta ao longo do ano celebrativo. 

Convido todos a lê-la e a meditá-la, a fim de nos sintonizarmos com o Papa e com a Igreja, que nos abre as portas da esperança no meio de tantas realidades que facilmente a podem matar em cada um de nós, na Igreja e na comunidade humana.

Acima de tudo, somos convidados a renovar a fé em Jesus Cristo, que é a nossa única esperança que não engana, porque, sendo Filho de Deus, que morre e ressuscita, nos abre à esperança no tempo presente e aos horizontes de esperança da vida eterna.

Preparamos este tempo de graça ao longo do Ano da Oração, que está em curso, e que nos leva a entrar na relação de amor que Deus propõe a toda a humanidade. 

A oração nasce da atitude crente e realiza-se na aceitação filial dos laços de amizade que Deus nos oferece. Esta atitude filial, expressa-se na escuta da Palavra inspirada da Escritura; nas palavras de louvor, gratidão e súplica que dirigimos a Deus; no silêncio contemplativo de cada dia; na vida segundo o Espírito, que inclui ações de caridade e testemunho dos valores evangélicos; na reunião da assembleia cristã que celebra os mistérios da fé e que culmina na Eucaristia.

O caminho que temos disponível para alimentar a esperança que Jesus nos dá, é este da oração, que faz sintonizar o nosso coração com Ele e com o Seu amor. 

A oração alimenta também a nossa fé, como relação de confiança inabalável no Senhor, que não se limitou a pronunciar palavras e discursos orientadores, mas que por nós morreu, dando-nos o sinal maior do Seu cuidado pela humanidade. 

A oração alimenta ainda a caridade, pois quem sintoniza com Deus que é amor, acolhe o anseio de viver no amor, que se manifesta no extremo cuidado com os outros.

 

2. A ESPERANÇA NÃO ENGANA

2. 1. O TEMA DO JUBILEU

O tema do Jubileu 2025 – a esperança não engana - foi retirado da Epístola aos Romanos, capítulo 5, versículo 5, que continua dizendo: “porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”.  Este versículo faz parte de um texto mais longo, Rm 5, 1-11, em que São Paulo nos assegura que o amor de Deus é a razão de ser da nossa esperança.

1*Portanto, uma vez que fomos justificados pela fé, estamos em paz com Deus por Nosso Senhor Jesus Cristo. 2Por Ele, tivemos acesso, na fé, a esta graça na qual nos encontramos firmemente e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus. 3Mais ainda, gloriamo-nos também das tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência, 4a paciência a firmeza, e a firmeza a esperança. 5Ora a esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.
6*De facto, quando ainda éramos fracos é que Cristo morreu pelos ímpios. 7Dificilmente alguém morrerá por um justo; por uma pessoa boa talvez alguém se atreva a morrer. 8Mas é assim que Deus demonstra o seu amor para connosco: quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por nós. 9E agora que fomos justificados pelo seu sangue, com muito mais razão havemos de ser salvos da ira, por meio dele. 10Se, de facto, quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com Ele pela morte de seu Filho, com muito mais razão, uma vez reconciliados, havemos de ser salvos pela sua vida. 11Mais ainda, também nos gloriamos em Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem agora recebemos a reconciliação”.

O Apóstolo Paulo conhece a realidade humana, marcada pela debilidade e pelo pecado e conclui que pela nossa simples humanidade, por nós próprios, não podemos justificar-nos diante de Deus, não podemos reconciliar-nos com Ele e não podemos salvar-nos. Tudo isso só pode acontecer pela fé em Jesus Cristo, porque Deus pôs o Seu Espírito nos nossos corações, na nossa vida, que nos dá a garantia de estarmos em Deus, de partilharmos desde já a vida eterna e de podermos esperar, no julgamento no futuro, a salvação que nos alcançou.

Segundo a Escritura, por causa do nosso pecado, cancelamos as nossas relações com Deus e só encontramos a paz do coração, a graça de uma relação amiga e amorosa com Ele, quando, pela Sua graça, Ele nos justifica e nos reconcilia consigo.

Por sua vez, Paulo afirma que é por meio da morte e ressurreição de Jesus, pelo seu mistério pascal, que a humanidade encontra a reconciliação com Deus, pois aí reconhece o amor de Deus e aí encontra a vida que perdera. Na morte e ressurreição de Jesus a humanidade encontra a esperança que não confunde nem engana, pois não é uma realidade simplesmente construída por nós, mas é dom e graça que Deus nos concede porque nos ama.

No fundo, acolhemos de Deus, por meio de Jesus Cristo, a esperança que não engana e que supera toda a nossa debilidade e pecado, que reata em nós os laços de amor com Deus que nos amou primeiro, e nos permite viver esperançosos apesar de todas as tribulações, que são reais e inevitáveis enquanto peregrinamos sobre a terra.

É essencial para nós, cristãos, conhecermos a origem da nossa esperança: ela funda-se na glória de Deus e não nas nossas ilusórias glórias humanas, pois a glória de Deus é a manifestação do seu único e eterno amor por nós.

Na Epístola aos Romanos, um texto muito denso do ponto de vista doutrinal e da argumentação teológica, que clarifica o que é a justificação pela fé, Paulo fala-nos de três dos seus efeitos em nós, cujas consequências havemos de retirar para a nossa vida cristã.

- Estamos em paz com Deus: “uma vez que fomos justificados pela fé, estamos em paz com Deus por Nosso senhor Jesus Cristo” (5, 1). Estar em paz com Deus é, para nós, cristãos, uma graça, que nos permite viver com tranquilidade a relação que Ele nos oferece, uma relação de amizade, de amor e de confiança, sem mérito da nossa parte, pois somos pecadores.

- Vivemos na esperança da glória de Deus: “Por Ele, tivemos acesso, na fé, a esta graça na qual nos encontramos firmemente e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus” (5, 2). Pelos nossos pecados não teríamos acesso à glória de Deus, mas pela fé que Ele nos concedeu e graças à morte e ressurreição de Jesus, entrámos já na glória, a nossa vocação última, que se consumará no fim dos tempos.

- Partilhamos a vida de Cristo Ressuscitado, a nossa salvação: “Se, de facto, quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com Ele pela morte de seu Filho, com muito mais razão, uma vez reconciliados, havemos de ser salvos pela sua vida” (5, 10). Daqui nasce a nossa confiança inabalável na salvação que Deus nos oferece e que aceitamos na esperança e como um compromisso na vida presente.

Embora nesta perícope não se faça alusão explícita ao batismo, no contexto da Epístola aos Romanos não pode ignorar-se, pois por meio da água e do Espírito temos acesso à fé e tornamo-nos participantes da morte e ressurreição de Jesus.

Desta nova condição nasce o imperativo ético da vida do cristão: “Pelo Batismo fomos, pois, sepultados com Ele na morte, para que, tal como Cristo foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, também nós caminhemos numa vida nova” (6, 4). A resposta do cristão à graça recebida no batismo torna-se a expressão real e existencial da vida nova que em Cristo já lhe foi dada.

Se retomarmos as três dimensões atrás referidas, podemos resumir dizendo que os batizados podem já viver em paz com Deus, podem já viver na esperança e podem já partilhar a vida do Ressuscitado, que se consumará na escatologia final. 

A vida do cristão é, assim, um testemunho vivo da esperança fundada no amor de Deus, fundada em Deus, que é amor, não como uma obrigação decorrente da Lei, mas como uma resposta livre à graça recebida.

2.2. ALGUMAS DIMENSÕES DO JUBILEU

2.2.1. A CONVERSÃO

A experiência do Povo Bíblico foi marcada pelos contínuos apelos de renovação, que fazem renascer nele a esperança. Mesmo no meio das situações pontuais ou contínuas de desorientação e pecado, Deus nunca faltou ao Seu Povo com novas propostas de conversão, que lhe permitem dar continuidade a um processo de mudança de vida e de reconfiguração das estruturas religiosas e sociais. 

Periodicamente, quando as condições de subsistência de Israel, enquanto Povo de Deus, estavam ameaçadas pela falta de fé, de amor, de esperança, de justiça, Deus propõe um ano jubilar; quando estavam postos em causa os fundamentos da revelação e o Povo se recusava a acolher e pôr em prática a Lei de Deus, a Lei da Aliança, Deus intervém por meio dos profetas com novos convites à fidelidade; quando se aproximava a ruína por causa da injustiça e do pecado, Deus concede um ano de remissão e de graça, que permite recomeçar tudo de novo como se fosse uma nova criação.  

A renovação que Deus oferece tem impacto nas várias dimensões que afetam a vida das pessoas: na vida pessoal e comunitária, nas instituções públicas e privadas, na mente e no coração individuais, na organização social e política, na economia e nos meios de sustentação das famílias, na vida religiosa e no culto que se rende a Deus.

Ao longo dos séculos, a Igreja deu continuidade a esta prática jubilar, inspirada no Antigo Testamento, na consciência de que Deus continua sempre a dar novas oportunidades de graça e conversão ao seu Povo. Tendo em conta que o Antigo Testamento é promessa que constitui o início da revelação e aponta para o futuro, é a partir da novidade de Jesus Cristo, o Messias prometido, que cumpre a revelação plena e cria o Novo Povo de Deus, que vivemos hoje o jubileu.

Toda a graça nos vem por meio de Jesus Cristo, que por nós morreu e ressuscitou. Ele é a fonte da água-viva que nos redime e salva. Ele é a nossa esperança e a nossa salvação. Deste modo, o jubileu constitui sempre uma nova oportunidade que a Igreja nos concede de voltarmos a Cristo como o centro absoluto da nossa vida de cristãos, peregrinos da esperança no meio do mundo.

Não há jubileu sem adesão a Jesus Cristo; sem exame de consciência que leve ao reconhecimento do pecado, à sua confissão e ao perdão de Deus; sem renovação da vida pessoal e comunitária na Igreja. Todo o caminho jubilar, tal como é proposto pela Igreja, tem como finalidade ajudar no processo de conversão, que faz parte do programa de Jesus, quando, no início do Seu ministério público, proclamou: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho.” (Mc 1, 15).

2.2.2. A RENOVAÇÃO DA FÉ, DA ESPERANÇA E DO AMOR

O Jubileu de 2025 surge num momento da história da Igreja marcado por um forte alheamento dos batizados em relação à fé cristã. As circunstâncias em que a Igreja caminha são muito diferentes das do passado recente e o impacto da fé cristã é, hoje, visivelmente menor, tanto nos cristãos como na comunidade humana em geral. 

A participação dos cristãos na vida das comunidades foi abalada, como demonstra o recente recenseamento da prática dominical da nossa Diocese, e os valores humanos e evangélicos são facilmente substituídos por contravalores forjados pela nossa sociedade.

O grande desafio consiste em fortalecer as comunidades cristãs por meio do anúncio do Evangelho em ordem à fé e em dar a conhecer a verdadeira face da Igreja como a comunidade dos que creem em Jesus Cristo e pautam pela Sua Pessoa e mensagem a sua própria vida. Juntamente com as habituais e fundamentais práticas da Igreja, temos a urgência da evangelização e da catequese, com os métodos, as linguagens e o ardor que nos propôs o Papa São João Paulo II, quando nos falou da nova evangelização.

O Jubileu de 2025 surge também num momento da história humana marcado pela derrocada da esperança. O sinal mais evidente a nível global são as guerras atuais, juntamente com as injustiças, as perseguições por motivos religiosos, culturais e sociais. Ao nível pessoal pode juntar-se a falta de sentido para a vida, que nasce de um materialismo enraizado nos hábitos e nos corações, e na crescente debilidade da espiritualidade cristã de caráter sobrenatural. As crises sociais são igualmente um sinal da urgência de esperança, pois surgem sobretudo como resultado de injustiças portadoras de desespero.

É preciso ajudar a humanidade a encontrar portas de saída para os seus desesperos e isso não acontecerá se nos fechamos nas possibilidades humanas e nos afastamos dos fundamentos que vão para além de nós.

O Jubileu de 2025 vem em auxílio de um imenso deficit de amor, e de justiça. Este binómio, absolutamente inseparável, constitui o caminho da humanidade. Não é por acaso que são duas das palavras mais marcantes da revelação bíblica e mais presentes na linguagem quotidiana comum.

A mensagem dos profetas do Antigo Testamento centra-se no amor e na justiça enquanto realidades que, quando presentes, são fonte de bem-estar, mas que, quando ausentes, são fonte da ruína de pessoas e povos. Por sua vez, Jesus, segundo as palavras reproduzidas pelos Evangelhos, centra-se no amor e na justiça, que são humanas e divinas e nos conduzem a Deus e aos irmãos, que nos dão possibilidades de construção do futuro feliz que desejamos.

Jesus ensina que o amor a Deus é um ato de justiça, pois é resposta Àquele que nos amou primeiro e nos ama sempre; que o amor aos irmãos é um ato de justiça, porque somos todos iguais em dignidade, somos todos filhos e herdeiros; o amor à Criação com tudo o que a compõe é um ato de justiça para com o Criador e para com todas as criaturas nascidas da Sua bondade infinita.

2.2.3. A PEREGRINAÇÃO

A Sagrada Escritura apresentou sempre a peregrinação como uma imagem do percurso da vida humana, começando por Abraão, que sai da sua terra a caminho do lugar que Deus lhe indicasse, continuando com o Povo de Deus a caminho do Egipto ou no regresso pascal em direção à Terra Prometida, anualmente em direção a Jerusalém e ao monte Sião. 

A peregrinação tem sempre uma dimensão geográfica, pois é percurso, é caminhada, mas tem sempre igualmente uma dimensão interior, que é a mais significativa: leva a pôr-se a caminho em direção a Deus e aos irmãos, permite realizar um percurso espiritual e íntimo, um percurso do coração em ordem a refazer as ideias, os sonhos, os valores e objetivos, a fé, a esperança e o amor.

Hoje, estão em voga as peregrinações com um significado cultural e religioso aos lugares mais significativos da tradição antiga ou da atualidade. São sempre uma ocasião de silêncio, de oração, de reflexão sobre o sentido da vida, de gratidão e de louvor a Deus ou simplesmente de introspeção humana. Ocorrem também peregrinações com um sentido exclusivamente desportivo ou como puro lazer e exercício físico e mental.

A peregrinação cristã tem sempre um significado humano e espiritual. Corresponde ao desejo de encontro com Deus e simboliza toda a busca da renovação interior por meio da conversão ao Deus vivo e verdadeiro, que, em Jesus Cristo se fez peregrino com os homens e continua a acompanhar os seus percursos felizes ou dolorosos, sempre em busca da esperança que Ele dá.

Somos um povo a caminho, levando connosco as marcas da nossa debilidade e pecado, mas à procura da renovação, tarefa de toda a vida. Neste quadro se insere a peregrinação jubilar, seja aos lugares designados pela Igreja Universal, concretamente a Roma e à Porta Santa, seja nas Igrejas Locais às igrejas jubilares, de acordo com as propostas Diocesanas.

A nossa peregrinação jubilar é uma imagem da caminhada da vida cristã. Vamos alimentados pela Palavra de Deus, em ambiente orante, desejando alcançar o lugar designado, mas sempre com os olhos postos na eternidade. 

A peregrinação cristã inclui a oração, o exame de consciência, a confissão e o perdão dos pecados e culmina normalmente com a celebração da Eucaristia, o sacramento da graça, do amor e da salvação de Deus realizada por Cristo. Deve ter uma adequada preparação espiritual, uma alegre e feliz realização, pois jubileu é alegria do reencontro, e um forte desejo de conversão, é um sinal da esperança que pode sempre renascer em nós no meio da caminhada de uma vida com Cristo e com a Igreja.

3. RENOVAÇÃO DA ESPERANÇA

Na Bula que proclama o Ano Santo, “A Esperança não engana”, o Papa Francisco convida a Igreja a renovar os sinais de esperança no nosso mundo e elenca um conjunto de sinais dos tempos que precisamos de ter em conta para lhes dar novo rosto. 

Aproveitemos o Jubileu para olhar para os diferentes aspetos que tocam a vida da humanidade e aos quais os cristãos não podem ficar indiferentes. São, por isso, realidades que temos de encarar no programa do Ano Santo Jubilar, tanto a nível diocesano como nas comunidades paroquiais, nos serviços e nos movimentos.

Convido as comunidades cristãs, nomeadamente através do Conselho Pastoral da Unidade Pastoral e da Equipa de Animação Pastoral, a retomarem a Bula do Ano Santo entre os números 8 e 15, a fim de prepararem o programa local da vivência do Jubileu. 

Assumo para a nossa Diocese a proposta de programarmos diversas ações de evangelização, de catequese, celebração, e oração, com momentos culturais, festivos e litúrgicos, que incluam o conhecimento destes sinais dos tempos e ajudem as pessoas e as comunidades a assumi-los como missão jubilar:

- O trabalho em favor da paz e contra a guerra. Tudo começa no coração humano e um coração convertido promove a paz (nº 8).

- Face à perda do desejo de transmitir a vida, promover o desejo dos jovens de gerar novos filhos e filhas, bem como uma cultura do cuidado pela vida humana em todos os seus estádios (nº 9).

- Ajudar a refazer a esperança dos que sofrem, nomeadamente aos “presos que, privados de liberdade, além da dureza da reclusão, experimentam dia a dia o vazio afetivo, as restrições impostas e, em não poucos casos, a falta de respeito” (nº 10).

- Oferecer sinais de esperança aos doentes que se encontram em casa ou nos hospitais, por meio da proximidade e do carinho (nº 11).

- Ajudar os jovens a um feliz caminho de esperança por meio de um novo impulso da comunidade em seu favor (nº 12).

- Promover o acolhimento e o respeito pela dignidade dos migrantes, dos refugiados e deslocados. Trabalhar para que se criem condições de trabalho, de instrução, de saúde e de integração, que ajudem a renascer neles muitas esperanças perdidas (nº 13).

- Valorizar o tesouro que são os idosos para a família, para a sociedade e para a Igreja, como transmissores da fé e da sabedoria de vida. Criar condições na comunidade humana e civil para que sejam sinais de esperança para todos (nº 14).

- Promover os pobres, que são milhões de homens, mulheres, e crianças, em todos os lugares, a clamar por justiça e melhores condições de vida. Eles são quase sempre os últimos e as vítimas, que precisam de ser considerados, amados e ajudados pela sociedade e pela Igreja (nº 15).

O Papa Francisco junta ainda dois apelos em favor da esperança, que devemos também incluir nos nossos programas:

- O cuidado pelos bens da terra, criados por Deus, que são para todos, mas que não chegam a todos. O Papa refere explicitamente os problemas da falta de água e alimentação para uma parte considerável da humanidade, a par de despesas incalculáveis com a indústria da guerra e outras nocivas para a humanidade e para o planeta (nº 16).

- A propósito da celebração dos 1.700 anos do Concílio Ecuménico de Niceia, que ocorre em 2025, acolhemos a urgência do anúncio da fé cristã e da construção da unidade da mesma fé na comunhão e no amor de Deus Santíssima Trindade (nº 17).

4. PROPOSTAS PARA A VIVÊNCIA DO JUBILEU

De acordo com a tradição multissecular, a Diocese de Coimbra propõe algumas atividades jubilares, que devem envolver o maior número de pessoas, tanto das instituições católicas como de outras que queiram associar-se por se identificarem com os objetivos do Ano Santo, para que este tempo de graça e misericórdia proclamado pela Igreja seja bem acolhido pelos fiéis.

4.1. PEREGRINAÇÃO

A Sé Nova, será a Igreja jubilar na nossa Diocese de Coimbra e a peregrinação jubilar constituirá o centro do Ano Santo e o lugar privilegiado para a indulgência, pois “todo o pecado, mesmo venial, traz consigo um apego desordenado às criaturas, o qual precisa de ser purificado, quer nesta vida quer depois da morte, no estado que se chama Purgatório” (nº 23).

Haverá uma peregrinação à Sé Nova de cada um dos 9 arciprestados da Diocese de Coimbra, coordenadas pelos arciprestes e em data a marcar oportunamente. 

A concentração dos peregrinos será no Seminário Maior de Coimbra e a caminhada culminará com a entrada solene na Igreja Jubilar, a Catedral, seguida da celebração solene da Eucaristia e da Indulgência prevista para esta ocasião.

Convido a uma piedosa preparação desta peregrinação por meio da realização de um tríduo, nas unidades pastorais, nas paróquias ou noutros lugares de culto, seguindo a temática do Jubileu, em que possa participar grande número de fiéis e que pode ser organizado na semana ou nas semanas precedentes da seguinte forma: 

1º - oração mariana;

2º - adoração do Santíssimo Sacramento;

3º - celebração penitencial com confissões.

Haverá ainda outras peregrinações especialmente dirigidas a agentes pastorais dos diversos setores da vida das comunidades cristãs, cuja organização fica a cargo dos secretariados, serviços diocesanos e movimentos, no que diretamente se inscreve no seu âmbito.

Poderão ainda realizar-se peregrinações jubilares de iniciativa pessoal, familiar ou de qualquer outro grupo humano. Alguns quererão realizar a peregrinação ao longo de uma jornada ou fazer uma caminhada mais extensa a partir do lugar de residência ou de um lugar sagrado mais significativo.

Propomos ainda a peregrinação jubilar a grupos humanos e etários, a associações e instituições civis que queiram participar deste ano de graça oferecido por Deus a todos. Neste caso, a sua programação e realização deve acordar-se com o Vigário Episcopal para a Pastoral que, juntamente com o Secretariado Diocesano da Coordenação Pastoral, ajudará a estabelecer as datas e os programas mais adequados.

4.2. EVANGELIZAÇÃO, CATEQUESE E OUTRAS AÇÕES

A graça do Jubileu deve chegar a toda a gente. Nesse sentido, é importante que se programem realizações variadas, que possam ir ao encontro das pessoas em diferentes situações face à fé cristã. 

Tem grande importância a proposta de evangelização sob a forma de primeiro anúncio, usando os meios e as linguagens próprias da tradição da Igreja e com recurso às novas modalidades acolhidas por ela. 

As propostas de evangelização devem ser variadas e dirigidas a pessoas em todas as situações. Devem privilegiar o encontro, o debate, o aprofundamento teológico, os variados instrumentos de crescimento espiritual, como a oração, a meditação, a contemplação, a leitura orante da Palavra de Deus.  Estas propostas devem ser um auxílio para que as pessoas aceitem repor a questão de Deus nas suas vidas, se abram à fé e à espiritualidade cristã e evangélica, conheçam a Igreja direta e pessoalmente e se integrem nela com alegria. 

De forma simples, mas cheia de ardor, por um lado, e respeitadora da liberdade pessoal, por outro, temos a missão de propor o encontro com Cristo e de proporcionar os meios adequados para a reflexão e tomada de decisão de cada um.

A catequese orientada particularmente para os jovens e os adultos – uma vez que a catequese infantil está organizada em todas as comunidades – constitui o caminho para o aprofundamento da fé e, juntamente com a liturgia, o auxílio maior para a integração na comunidade cristã.

Todas as comunidades devem, por isso, investir muitos dos seus esforços e recursos na catequese, procurando fazer a diferença entre um estilo de comunidade de conservação e uma forma de ser comunidade ativa, dinâmica e propositiva.

Além da formação dos catequistas, tarefa prioritária, havemos de ter em conta que o testemunho é a melhor catequese e de valorizar o acompanhamento pessoal e à medida da disponibilidade e das possibilidades de cada um.

Havemos ainda de ter em consideração uma grande faixa populacional que, entre nós, se identifica mais ou quase exclusivamente com a dimensão social e cultural do cristianismo. 

As ações culturais e artísticas de matriz cristã congregam frequentemente crentes e não crentes, pois a via da beleza está inscrita na nossa identidade humana comum. Noutros casos, e para aqueles que não se identificam com a fé cristã, as manifestações culturais e artísticas em linguagem clássica ou numa linguagem contemporânea constituem uma oportunidade de maior conhecimento das raízes da nossa visão do mundo, de simples fruição e lazer, de elevação do espírito. 

Em muitos casos e para muitas pessoas, estas manifestações culturais e artísticas são mesmo o único meio privilegiado de pré-evangelização.

 

II. PLANO PASTORAL DIOCESANO

1. AVALIAÇÃO DO TRIÉNIO

Chegados ao final do triénio em que tivemos um Plano Pastoral Diocesano intitulado “Jovem, levanta-te! Cristo vive”, segundo o qual nos focámos na renovação e aprofundamento da pastoral dos jovens, entramos, agora num tempo de avaliação.

Este ano, a par com a vivência do Jubileu da Esperança, somos chamados a avaliar o trabalho realizado, o que fizemos ou deixámos de fazer, os sucessos e insucessos. 

Pedimos ao Conselho Pastoral Diocesano, aos Conselhos Pastorais de Arciprestado e de Unidade Pastoral, às Equipas de Animação Pastoral da Unidade Pastoral, ao Serviço Diocesano da Juventude, aos Serviços Locais da Juventude, ao Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil, ao Serviço Pastoral do Ensino Superior, aos grupos e movimentos juvenis, que se detenham profundamente sobre o anterior Plano Pastoral e sobre os seus objetivos, que retirem conclusões sobre o passado e projetem o futuro com mais confiança.

Embora tenha terminado o triénio, o trabalho com os jovens deve continuar ainda com mais empenho, determinação e confiança, tendo em conta a avaliação feita.

2. NOVO PLANO PASTORAL

Este ano assumimos também a tarefa de preparar o Plano Pastoral Diocesano para o próximo triénio de 2025-2028. 

Os órgãos de participação e comunhão diocesanos e locais, juntamente com os secretariados e serviços diocesanos serão chamados a dar o seu contributo. Deverão, por isso, programar a avaliação atrás referida e fazer um verdadeiro discernimento no Espírito acerca do tema e das linhas de força que deverá ter o próximo Plano Pastoral

O Secretariado Diocesano da Coordenação Pastoral dará, a seu tempo, indicações mais concretas para a avaliação e para a elaboração, respetivamente. 

Em verdadeiro espírito de sinodalidade, desejamos que a participação nesta fase da vida da Diocese se alargue quanto possível à pluralidade dos fiéis, para que façamos caminho juntos e juntos sejamos construtores da Igreja na fidelidade ao Espírito Santo.

III. O SÍNODO DOS JOVENS

Nos três últimos anos, de 2021-2024, o Plano Pastoral Diocesano centrou-se nos jovens e propôs uma renovada pastoral juvenil a todas as instâncias da Diocese. Tivemos em conta o contexto da preparação e realização da Jornada Mundial da Juventude, Lisboa 2023 e estamos a procurar compreender e valorizar o seu impacto na vida dos jovens e na pastoral juvenil.

No início do ano pastoral de 2023-2024 ficou decidida a realização de um Sínodo Diocesano dos Jovens, que terá lugar nos anos futuros. Esta iniciativa surge com a intenção de dar continuidade ao trabalho do anterior triénio pastoral, de potenciar a experiência rica da Jornada Mundial da Juventude e de trazer um novo entusiasmo à ação pastoral diocesana dos jovens e com os jovens.

A criação do Serviço Diocesano da Juventude e do Serviço Local da Juventude a nível da unidade pastoral (esta ainda em curso), significaram o início de uma renovação das estruturas organizativas da Diocese e são sinal da forte convicção de que precisamos de um novo impulso e de uma atenção especial e efetiva aos jovens.

A designação do Instituto Universitário Justiça e Paz como a “Casa dos Jovens” da cidade e da Diocese de Coimbra, pretende congregar todos os serviços e movimentos juvenis num mesmo lugar de referência. Os jovens encontram-se em múltiplos lugares e situações: estão nas paróquias, estão nos movimentos, são estudantes do ensino secundário, são estudantes do ensino superior e universitário, são portugueses e são estrangeiros. 

Todos os jovens precisam da mesma atenção e do mesmo cuidado; todos precisam de ser escutados, acompanhados e incluídos pela Igreja, que tem a missão de ser casa de portas abertas para os acolher.

A igreja da Sé Velha, que acolhe a réplica da Cruz Peregrina da Jornada Mundial da Juventude, é outro polo da solicitude da Igreja pelos jovens. 

A celebração da Missa dominical, às 19 horas, e outros momentos de oração e de evangelização devem ser bem acolhidos e unir a comunidade juvenil na oração e no louvor a Deus.

Tendo os jovens como foco principal, o Sínodo é uma ação que deve envolver as comunidades cristãs, pois eles não são uma realidade à parte na vida e na pastoral da Igreja. Os jovens são membros da única Igreja, constituída por muitas pessoas, de vocações e idades diferentes, partilhando a mesma fé e integrados de forma viva na comunhão do mesmo Corpo de Cristo. 

Em conformidade com as alusões já feitas na Carta Pastoral que introduziu o ano pastoral de 2023-2024, o Sínodo dos Jovens incluirá alguns elementos fundamentais:

- escuta alargada dos jovens, que leve a conhecer melhor a sua realidade, as suas esperanças e anseios, os seus medos e deceções, as suas possibilidades e dificuldades de integração na Igreja e na sociedade;

- discernimento acerca do que o Espírito Santo diz à Igreja e aos jovens, em ordem à abertura de caminhos de futuro;

- elaboração de propostas relativas à vocação e missão dos jovens na comunidade cristã, na sociedade e no mundo;

- sintetização das conclusões do Sínodo em ordem à elaboração do plano da pastoral dos jovens da Diocese de Coimbra.

De acordo com o programa e as modalidades definidas pela Equipa Sinodal dos Jovens, desejamos que o Sínodo seja um instrumento do Espírito para nos ajudar a conhecer os jovens e a descobrir os melhores caminhos para que sejam o presente e o futuro da Igreja, sempre em renovação.

Desejamos, por isso, que os dinamismos do Sínodo cheguem a muitos jovens, que haja uma grande colaboração das comunidades cristãs e que eles se abram à participação sincera e se sintam felizes por fazerem parte deste projeto. 

Além do apoio institucional, peço às comunidades que incluam a oração pelo Sínodo e pelos jovens nas celebrações litúrgicas e nos outros momentos catequéticos e orantes. Peço ainda que o mesmo aconteça a nível pessoal e familiar.

***

Confiamos o ano pastoral de 2024-2025 à Virgem Santa Maria, na certeza de que intercede por nós junto de Seu Filho Jesus Cristo. 

A nossa peregrinação jubilar em ordem à conversão e a nossa disponibilidade para edificar a Igreja que caminha na Diocese de Coimbra serão a nossa resposta aos apelos do Deus rico de misericórdia, que quer salvar toda a humanidade.

Que Deus nos abençoe e faça prosperar a Sua Igreja na santidade e na paz.



Coimbra, 03 de setembro de 2024
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

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