XXIV DOMINGO COMUM B - TOMADA DE POSSE DOS NOVOS PÁROCOS DE BOBADELA, ERVEDAL DA BEIRA, LAGARES DA BEIRA, LAGEOSA, LAGOS DA BEIRA, MERUJE, OLIVEIRA DO HOSPITAL, SEIXO DA BEIRA E TRAVANCA DE LAGOS

Caríssimos irmãos!

No dia em que os novos párocos assumem o ministério nestas paróquias, temos a oportunidade de celebrar todos juntos a Eucaristia, num sinal visível do que é a Igreja, organizada em diferentes pequenas comunidades, mas todas elas membros do mesmo Corpo, que é a Igreja Local ou Diocesana, na comunhão da Igreja Universal.

Entre nós, a Igreja do presente, sempre a mesma fundada por Jesus Cristo, apresenta agora formas de estruturação muito diferentes. Custa a compreender as muitos fiéis o facto de cada paróquia já não ter o seu próprio pároco e o facto de partilhar muitas atividades com outras paróquias. Esta nova situação é fruto da diminuição do número de sacerdotes, da diminuição da população, mas também da necessidade de nos organizarmos humanamente melhor para a realização da missão da Igreja. Não estamos mais em tempo de resistências nem de bairrismos exacerbados, mas havemos de procurar, com os recursos que temos, potenciar a ação da Igreja no sentido da evangelização dos não crentes ou não praticantes e do crescimento da fé dos fiéis.

Damos graças a Deus por continuar a enviar trabalhadores para a Sua Messe, sacerdotes para a Sua Igreja, homens ungidos pela força do Espírito Santo para proclamar a Boa Nova, para celebrar os sacramentos da fé e conduzir o Povo de Deus no caminho do Reino dos Céus.

Os sacerdotes são mais necessários hoje do que nunca, apesar de muitas pessoas terem perdido o sentido da sua importância dentro da sociedade e até da Igreja. Na sociedade são necessários para manter viva a chama dos valores humanos e cristãos, tão facilmente esquecidos por uns e desprezados por outros. Na Igreja, são imprescindíveis enquanto chamados e enviados por Deus para conduzir as comunidades em nome do bispo, para presidir à Eucaristia e distribuir o perdão dos pecados em nome de Cristo, Cabeça da Igreja.

O facto de os padres serem poucos e não estarem, por isso, tão próximos das pessoas como gostaríamos, leva a um progressivo esquecimento de algumas dimensões fundamentais da existência humana, como são o valor e dignidade da vida, a fraternidade, a caridade e o sacrifício como atitudes de abertura aos outros, a família como comunidade de vida e amor segundo o modelo natural. Quanto mais desaparecem os sinais da fé sobrenatural no Deus Criador e Salvador– e os sacerdotes são um sinal visível da fé – mais crescem as crenças nas realidades naturais, que não criam nem salvam.

Dando continuidade à missão da Igreja, presente nestas terras desde há muitos séculos, os novos párocos vêm animados pela fé em Jesus Cristo, movidos pelo Seu Evangelho e disponíveis para vos ajudar a edificar as comunidades cristãs, que são as vossas paróquias. É convosco, homens e mulheres, famílias, cristãos ativos e responsáveis, que eles hão-de trabalhar incansavelmente, a fim de que vivais da fé no Senhor Jesus Cristo, acolhais no vosso coração o Seu amor, numa relação pessoal, séria e profunda, capaz de transformar as vossas vidas.

Acolhei-os como vossos irmãos e vossos amigos. Vêm em nome do bispo, que os envia, mas vêm acima de tudo, em nome do Senhor, que é o único que a todos nós sacerdotes e a todos vós, leigos, chama e envia a realizar a mesma missão, embora cada um segundo a sua vocação.

Ouvimos a Segunda Leitura, tirada da Epístola de São Tiago, afirmar que “a fé sem obras está completamente morta”. Esta é uma palavra muito importante para todos nós que aqui nos encontramos, padres e leigos, bem como para todos os membros das comunidades que representais. De facto, as obras da fé são muito diversificadas: passam, com certeza, pela edificação da nossa pessoa, inserida na comunidade humana; mas passam também pela construção de uma Igreja fiel, unida, missionária e santa, segundo os desígnios do Senhor; passam ainda pela prática da caridade na relação com os outros, o sinal mais visível da autenticidade da fé pessoal e comunitária.

Esta situação presente de carência de sacerdotes tem de levar-nos, caríssimos irmãos, a assumir a nossa parte na construção da Igreja. O Concílio Vaticano II ajudou-nos a compreender esta realidade da Igreja, com todas as suas vocações e carismas, na qual cada um procura escutar a voz do Espírito para ser-lhe fiel e dar o seu contributo em ordem à edificação do Reino de Deus.

O Evangelho segundo São Marcos oferecia-nos uma característica fundamental da dimensão cristã da vida e, portanto, do seguimento de Cristo: a oferta de si mesmo, o sacrifício da própria vida, a cruz. Segundo as palavras de Jesus dirigidas a Pedro após a sua profissão de fé, a grande obra da fé e, por isso, a grande obra dos discípulos consiste em renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz e segui-l’O.

As obras da fé têm a ver com uma atitude de vida, com um modo de estar no mundo, mais do que com fazer um conjunto de coisas e atarefar-se com a urgência de transformar o mundo. Se não temos Cristo no coração, se O não amamos como um amor pessoal, se O não seguimos decididamente como o Caminho, a Verdade e a Vida, não tomamos com Ele a nossa cruz, não realizamos as obras da fé.

A vida cristã está intrinsecamente ligada à cruz de Cristo. De um ponto de vista pessoal, porque é preciso vivê-la num gesto da aceitação ativa da realidade, por vezes, muito dura, que nos atinge; de um ponto de vista comunitário, porque a Igreja sofre hoje na sua carne a dureza do desinteresse de alguns dos seus filhos, do desprezo de muitos e da perseguição de outros.

Tomar a cruz de Cristo na Igreja de hoje significa tudo estar disposto a fazer para manter viva a unidade, o espírito de colaboração e comunhão no meio da escassez de pessoas e de meios.

Tomar a cruz de Cristo na Igreja de hoje significa ter de renunciar a muitos costumes e tradições locais a que nos habituámos para que resplandeça a força da fé e do testemunho cristão aos olhos do mundo.

Tomar a cruz de Cristo significa tomar consciência de que a Igreja de Cristo não é nossa, não nos pertence, mas somos nós que somos seus filhos, que lhe pertencemos, e é ela que nos acolhe como Mãe.

Peçamos ao Senhor, por isso, que nos dê a graça de a servirmos com muito amor, cada um segundo a sua vocação, e sempre disponíveis para perder a vida por causa do Evangelho.

 

Oliveira do Hospital, 16 de setembro de 2012

Virgílio do Nascimento Antunes

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