Ordenação de Presbiteros Jesuítas - Homilia de Dom Virgílio

ORDENAÇÃO DE PRESBÍTEROS DA COMPANHIA DE JESUS
XIV DOMINGO COMUM A
SÉ NOVA – COIMBRA

Caríssimos irmãos e irmãs!

A ordenação sacerdotal é sempre um momento alto da vida da Igreja. É uma nova esperança que se abre para que os fiéis sejam confortados, fortalecidos e animados na fé. Os cristãos sentem a necessidade de pastores que os ajudem a fazer o caminho árduo, mas feliz, do seguimento de Cristo e do testemunho no meio do mundo.

A celebração do Sacramento da Ordem teve várias roupagens ao longo da história da Igreja e a vivência do sacerdócio ministerial teve muitos contornos concretos. Tendo em conta todo o caminho que nos precede, nós não cessamos de procurar ir às fontes da fé, à Pessoa de Jesus Cristo, ao sentido mais profundo dos seus gestos e da sua vontade, pois aí encontraremos a possibilidade de ser a Igreja que Deus quer, os sacerdotes segundo o coração de Deus, os discípulos que seguem o Mestre.

Por sua vez, não cessamos de estar profeticamente atentos a tudo o que se passa e se vive à nossa volta, na comunidade humana e na Igreja, pois o sacerdócio ministerial que o Senhor concede à sua Igreja, é para ser vivido neste tempo de graça, que é o nosso. O Espírito Santo, de muitas formas, mas particularmente por meio do Magistério da Igreja, tem-nos levado a acolher os maiores desafios para o nosso tempo.

“Eu te bendigo, ó Pai, Senhor do Céu e da terra...”. Palavras de Jesus, que manifestam a gratidão infinita e o louvor que brotam do seu coração de Filho, que tudo recebeu do Pai. A resposta de Jesus ao amor do Pai é gratidão e é louvor dos lábios, do coração e da vida, que comporta o compromisso do entendimento, da vontade, da liberdade, ou seja o compromisso total de Si mesmo, como tão bem sintetizou Santo Inácio de Loyola.

A gratidão a Deus é uma das marcas mais fortes da vida do padre. Parece uma coisa simples, quando a reduzimos a um conjunto de palavras ou de frases ditas de louvor e de ação de graças ou até a uma única palavra carregada de sentido, um obrigado. As orações dos cristãos podem estar carregadas de palavras e vazias de compromisso.

As poucas palavras orantes de Jesus, “Eu Te bendigo, ó Pai”, são palavras de louvor agradecido, que levam consigo o reconhecimento do amor do Pai e o compromisso assumido de dar a vida, como suprema palavra de gratidão.

A gratidão de Jesus tem um conteúdo muito sério e profundo: é compromisso de realizar sempre e em tudo a vontade do Pai. Levou-O a oferecer a própria vida pelos irmãos, sem reservar nada para si. A escola dos discípulos seguiu pelo mesmo caminho: depois daqueles momentos fundantes da vocação de cada um, marcados pela alegria e até pelo entusiasmo de seguir Jesus, cresce o sentido da gratidão por tão grande dom, mas sempre acompanhado do desejo de viver o compromisso na fidelidade, que leva a dar a vida.

Muitas vezes nos interrogamos acerca do significado das expressões teológicas que falam da configuração do sacerdote com Cristo, Cabeça e Pastor da Igreja. Podemos ficar-nos pela consideração de aspetos espirituais, formais, orgânicos ou outros, que estão, com certeza incluídos no vasto leque de significados. Não podemos deixar de fora a força de amor agradecido de Jesus ao Pai, que se manifesta no compromisso de fidelidade plena: Pai, sempre e em tudo a Tua vontade.

Quando a gratidão e o louvor compreendem o compromisso, não se corre o risco de encerrar o padre ou os cristãos em geral, mas abrem-se sempre as portas do anúncio integral da Boa Nova, com palavras e com a vida. Trata-se de um compromisso que tem contornos muito concretos e que tem como horizonte de concretização a comunidade cristã na sua abertura universal ao mundo criado por Deus e à humanidade pela qual Cristo ofereceu a Sua vida.

Outra marca forte da vida do padre e da sua configuração com Cristo, é o serviço. Quem é chamado a tocar o coração de Deus, é igualmente chamado a tocar o coração da humanidade e a revelar aos pequeninos os caminhos do alívio e do descanso para as suas almas. Tocar o coração de Deus e tocar o coração dos homens é o serviço de Jesus e daqueles que O seguem e se configuram com Ele.

A capacidade de conhecera  humanidade com todos os seus cansaços e opressões, mas também com as suas alegrias e esperanças, supõe o discernimento adequado, verdadeiro dom do Espírito que recebemos, como referia a Epístola aos Romanos. A imposição das mãos e a unção com o óleo do Crisma garantem a força sacramental do Espírito Santo e enviam para o serviço aos irmãos, na humildade de quem acredita que tudo recebeu para tudo poder dar.

Ao apresentar a chegada do Rei justo e salvador, montado numa jumentinha, a destruir os carros de combate e os cavalos de guerra, a quebrar o arco da guerra e anunciar a paz às nações, o Profeta Zacarias está a traçar o modo de ser do Messias, o modo de ser dos discípulos e da própria Igreja que O acolhe.

Pode continuar a discutir-se acerca do modo como há de a Igreja de hoje realizar a sua missão ou acerca do estilo de padre de que ela tem necessidade para servir a causa do Evangelho. Iluminados pelo Espírito, chegamos sempre à conclusão de que a via do serviço que somos chamados a prestar à humanidade é a via do coração manso e humilde, mais uma vez, autêntica configuração com o coração de Jesus Cristo.

A humanidade de hoje busca tanto ou mais a Deus que a humanidade de outras épocas. Porventura de formas diferentes e dando outros sinais, que é preciso conhecer por meio do estudo, do diálogo e da relação humana fundada num amor autêntico a todos aqueles que Deus põe no nosso caminho.

É a esta humanidade, com características peculiares, que somos chamados a servir. Temos em conta os seus problemas de falta de sentido para a vida, as suas idolatrias, porventura o seu materialismo e os seus egoísmos, a secularização, mas temos em conta também as suas aspirações espirituais e os seus anseios mais profundos. Nada do que é humano e com todos os seus contornos atuais nos pode ser alheio, pois queremos ser padres deste tempo e sacerdotes, verdadeiros servidores da graça, no contexto em que nos encontramos.

Acreditamos que há uma palavra e uma resposta para os anseios de cada pessoa e de toda a humanidade, que tem um nome: a pessoa de Jesus Cristo. Conhecemos o caminho para O encontrar e para O propor: aquilo a que o Papa Francisco, na Evangelii gaudium, chamou “a suave e reconfortante alegria de evangelizar” (10).

Este é o nosso serviço manso e humilde: Evangelizar “o mundo do nosso tempo, que procura ora na angústia ora com esperança”, mas que espera sempre, “receber a Boa Nova dos lábios, não de evangelizadores tristes e descoroçoados, impacientes ou ansiosos, mas sim de ministros do Evangelho cuja vida irradie fervor, pois foram quem recebeu primeiro em si a alegria de Cristo”, como referira já o Papa Paulo VI na Evangelii Nuntiandi (80).

Estar na Companhia de Jesus significa acolher uma graça específica e assumir um modo particular de viver a gratidão e o louvor, de realizar o serviço da evangelização, ou seja, de entrar no coração de Deus e de entrar no coração da humanidade.

Acolhendo a riqueza e a complementaridade dos carismas que Deus concede à Sua Igreja, tendes a missão irrenunciável de ser padres à maneira dos apóstolos, comprometidos com um modelo de evangelização integral, que compreenda o seu caráter sacerdotal como serviço da fé e promoção da justiça, diálogo com a cultura e o cuidado da nossa casa comum (cf P. João Norton, site Ponto SJ).

Entrai, por isso, cada vez mais no coração de Deus, entrai no coração da humanidade e procurai, à maneira de Santo Inácio, acolher o amor e a graça de Deus, restituindo tudo no serviço aos irmãos, sabendo que isso vos basta.

Coimbra, 05 de julho de 2020
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

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