Ordenação de Presbitero da Companhia de Jesus - Homilia de Dom Virgílio

ORDENAÇÃO DE PRESBÍTERO DA COMPANHIA DE JESUS
XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM C

Caríssimos irmãos e irmãs!

A Igreja alegra-se especialmente neste dia com a ordenação de presbítero do Samuel Afonso. Uma vocação cristã é um imenso dom de Deus para cada pessoa e para toda a comunidade; uma vocação específica, seja ela laical, de consagração ou ao ministério ordenado, é um fruto da bondade de Deus que serve a humanidade por meio dos seus filhos e filhas, chamados a receber a graça que santifica e a estar no meio dos irmãos “como quem serve”.

Alegra-se a Companhia de Jesus, uma feliz inspiração para o seguimento de Jesus e para a evangelização do mundo. Ao ver um dos seus membros acolher o dom do sacerdócio ministerial, sente-se a dar continuidade ao envio dos discípulos que Jesus realizou e que Santo Inácio e os seus companheiros acolheram de forma fiel e santa.

Este mesmo lugar em que nos encontramos, evoca essa longa e rica história de uma instituição, mas mais ainda de uma multidão de homens tocados pelo amor de Deus e ardentes no desejo de anunciar o Evangelho a todos os povos da terra. Essa missão realizou-se nas circunstâncias próprias dos tempos que nos precederam, foi lugar de santificação e martírio, foi semente de muitos novos cristãos e abertura de caminhos de fé e de esperança para pessoas e povos.

Torna-nos felizes reconhecer que fazemos parte desta cadeia de missão enraizada em Jesus Cristo, a Boa Nova de Deus, que cruzou os séculos e as latitudes, mantendo-se atual e capaz de nos convocar e enviar ainda a nós, hoje, com “novo ardor, novos métodos e novas expressões”. Esta expressão cunhada pelo Papa João Paulo II quando nos propunha a “nova evangelização”, recolhe as experiências marcantes dos nossos antepassados na missão, que sempre sentiram o apelo à atualização espiritual e pastoral. Mais ainda, projeta-nos sobretudo a nós para as vias da renovação pessoal e institucional, que nos conduzam a propor a Pessoa de Jesus Cristo e o Seu Evangelho como verdadeiramente relevantes para as pessoas do nosso tempo.

Sabemos que o centro absoluto desta missão evangelizadora é Jesus Cristo, o Salvador, acreditamos na ação do Espírito Santo, que realiza em nós e entre nós a obra de Deus, mas sentimos também que a fidelidade, a santidade, a inteligência e a abertura do mensageiro à renovação do ardor, dos métodos e das expressões de anúncio, são profundamente relevantes.

Um novo presbítero dentro da Igreja de hoje, será um homem profundamente marcado pela experiência do encontro com Jesus Cristo, a fazer um caminho humilde de fé e, ao mesmo tempo, numa atitude verdadeiramente solidária com a humanidade que o capacite sinceramente para lhe propor a possibilidade de encontrar em Cristo a força e o sentido da sua vida.

Caríssimos irmãos e irmãs!

Num tempo em que voltamos à reflexão e discernimento sobre o ministério sacerdotal e sobre o modo como ele há de enquadrar-se e realizar-se na Igreja, damos graças a Deus por não nos deixar acomodar e nos chamar sempre à renovação por meio do Seu Espírito que acompanha o aprofundamento do sentido da fé e o crescimento do sentir eclesial do Povo de Deus.

Jesus envia os seus discípulos a anunciarem a Boa Nova do Reino, a serem portadores da paz a todas as casas, ou seja, a todas as pessoas e realidades que anseiam por essa feliz notícia. Esse envio vocacionado para o anúncio, está, por isso, nos fundamentos da condição cristã de todo o Povo de Deus e configura especialmente a ação dos apóstolos e discípulos, totalmente voltados para essa missão.

São enviados “à Sua frente a todas as cidades e lugares aonde Ele devia ir”, como referia o Evangelho de Lucas. Trata-se, por isso, de pessoas que aceitam a condição de portadores de uma mensagem, que não são a mensagem, mas sim os mensageiros. Jesus, o Cristo, que é a Pessoa e a Mensagem a anunciar, chama e envia os seus amigos a abrir caminho. Feliz enquadramento para a totalidade da nossa condição de discípulos e de enviados, de cristãos e de pastores, unidos à Pessoa e à Missão do Bom Pastor.

As referências às dificuldades do caminho – cordeiros no meio de lobos – são bem realistas, uma vez que o mundo, que nós também somos, tem sempre alguma relutância quando se trata de se abrir a caminhos que desconhece e, sobretudo, quando a motivação fundamental é a fé no que não vê ou quando supõe a transformação radical da vida a partir da conversão.

A referência à pobreza e ao desapego dos mensageiros – não leveis bolsa, nem alforge nem sandálias – e à confiança na Providência Divina, alude aos caminhos de conversão interior que somos convidados a percorrer para que o testemunho seja credível. Dar a vida por Aquele que envia e dar a vida por aqueles a quem somos enviados, é sinal da presença de Cristo, que deu a vida por todos, é sinal da atitude de serviço que conduziu a vida de Jesus e que conduzirá a nossa, é sinal do amor de Deus infundido nos nossos corações, a única força que transforma e salva o mundo.

A graça concedida aos discípulos orienta-se para a missão e o dom espiritual para continuarem a luta contra o mal. Jesus adverte os seus discípulos quando os vê chegar cheios de alegria a narrar os feitos realizados com o poder que lhes foi dado. Ao proferir a exortação “alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão escritos nos Céus”, desloca a motivação da missão para bem longe das satisfações pelo poder recebido e exercido: “os vossos nomes estão inscritos nos Céus”.

Para os discípulos de Jesus, sejam eles leigos, consagrados ou ministros ordenados, não há poder que não seja serviço e só pode ser acolhido e vivido como tal. Aqui se proclama claramente que qualquer ministério e especialmente o ministério sacerdotal é serviço, é oferta feliz de si mesmo, é amor recebido e partilhado, verdadeiramente portador da alegria de Deus, que se cruza com as alegrias da humanidade.

Na Segunda Leitura, Paulo recordava-nos onde se encontra a chave do amor e da alegria que perpassa a nossa existência de cristãos - na cruz de Nosso senhor Jesus Cristo. A sua contemplação e a sua presença acolhida na fidelidade quotidiana, nas coisas grandes e pequenas, dão-nos a garantia da autenticidade desse amor e dessa alegria.

A cruz de Cristo é a nossa esperança e a única realidade em que podemos gloriar-nos, pois é sinal da vida oferecida, é a marca da nossa configuração com o amor a Cristo e com o amor à humanidade.

Santo Inácio de Loiola continua a oferecer aos seus companheiros de hoje o testemunho desta grandeza do binómio inseparável que são o amor e o serviço, pois ressoa sempre aos nossos ouvidos a palavra que o fez sair só e a pé para “em tudo amar e servir”. É o evangelho de Jesus traduzido na sua vida e na vida daqueles que assumem a vocação cristã como seus fiéis continuadores, para maior glória de Deus.

Coimbra, 3 de julho de 2022
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

 

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