Missa da Noite de Natal - Homilia de Dom Virgílio

SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR 2018
MISSA DA NOITE

Caríssimos irmãos e irmãs!

A luz do natal de Jesus brilha em toda a terra; continua e continuará a ser motivo de festa para a humanidade. O povo que anda nas trevas tem sempre a possibilidade de ver uma grande luz e para os que habitam nas sombras da morte há sempre a possibilidade de vislumbrar as luzes da vida. Esta afirmação da possibilidade de se renovar a luz e a esperança da humanidade constitui uma das maiores graças do natal que anualmente celebramos.

Enquanto cristãos, que acreditamos na incarnação de Jesus, o Filho de Deus, havemos de sentir-nos muito felizes na celebração do natal, pois recebemos a missão de manter viva a luz de Deus no meio do mundo e de alimentar a esperança que d’Ele vem para todos.

A Igreja que somos recebe esta luz e esta esperança a partir da fé e tem o dever de a guardar fielmente; por sua vez, tem também a missão de a oferecer continuamente ao mundo por meio da evangelização. A Igreja recebeu a luz de Cristo para se purificar e renovar a si mesma, e realiza a sua missão quando a apresenta à humanidade como fonte de salvação para todos.

A primeira parte do desafio consiste em acolhermos a mensagem do natal de Jesus como uma realidade que transforma e conduz a totalidade da nossa vida. Ela dá um sentido àquilo que somos e vivemos e oferece-nos como ideal a possibilidade de sairmos das sombras da mundanidade para nos elevarmos aos cumes da espiritualidade enquanto vocação maior da nossa humanidade. Abre-nos a Deus enquanto Criador e Senhor, ao mesmo tempo que nos faz olhar para os outros como irmãos que amam e precisam de ser amados.

A segunda parte do desafio consiste em anunciarmos com alegria o dom que recebemos, como um tesouro que se comunica e partilha. Quem se deixou tocar pela graça da feliz notícia da incarnação do Verbo de Deus, sente-se impelido a comunicar por palavras e obras a experiência de fé que se tornou vida em nós. Se a igreja deixasse de acolher e testemunhar a mensagem do natal de Jesus ficaria um imenso vazio, as trevas poderiam dominar a luz e as esperanças da humanidade poderiam ser submergidas pelo desânimo que tão facilmente se enraíza no coração dos homens.

A Igreja que nós somos tem por missão garantir um reduto de fé e de esperança no meio de um deserto vasto de incredulidade e desespero, frutos das demolidoras experiências negativas e pessimistas que afetam as pessoas e os povos. Moldados pelo espírito do natal, somos convidados a proclamar com alegria que o mal não tem a última palavra no decurso da história, pois pela fé podemos abrir-nos aos caminhos do amor e da justiça inscritos no nosso coração pelo ato criador e redentor do Deus que nos ofereceu o seu Filho como o Único Salvador.

Nesta noite de natal sugiro-vos, caríssimos irmãos e irmãs, dois dinamismos que ajudarão a uma maior vivência deste mistério que nos envolve.

Em primeiro lugar, convido-vos a celebrar o natal. Parecendo uma coisa banal, pois toda a gente de uma forma ou de outra celebra esta quadra festiva, como atualmente tende a chamar-se-lhe, é de grande alcance. A celebração está enraizada na nossa condição humana, na nossa cultura e na nossa fé cristã. É sinal de uma realidade assumida e ajuda a entrar no sentido mais profundo do mistério.

A celebração num sentido muito genérico, de matriz cultural e social própria das sociedades secularizadas, tem já a capacidade de provocar na comunidade humana uma busca de sentido e uma procura de horizontes. Frequentemente ficou-se por aí por não ter tido a possibilidade de encontro com a centralidade e verdade do mistério celebrado. Outras vezes trata-se de procurar mascarar os anseios existentes no coração humano, desejoso de se preencher com algo que ainda não pôde encontrar. Até o materialismo e o consumismo podem ser sinais das aspirações maiores que nos habitam sem que tenhamos a capacidade de as identificar ou a coragem para as reconhecer.

A celebração num sentido mais concreto, de cariz religioso e crente é essencial para manifestarmos uns aos outros a fé que recebemos como um dom e a certeza de que em Deus feito Homem se realizam as nossas esperanças, se preenchem os nossos vazios, se eleva a nossa frágil humanidade.

Diante da tendência generalizada de uma fé privada, relegada para o âmbito da consciência individual, somos convidados a celebrar o natal cristão na comunidade familiar e na comunidade crente.

A participação na celebração comunitária da Missa constitui o momento mais alto de todo o culto cristão e, por isso, também da celebração do natal. Por sua vez, a celebração familiar do natal cristão é um prolongamento da celebração da Eucaristia, quando valoriza o encontro, a partilha e o amor de toda a vida da casa. A oração familiar torna-se um sinal distintivo e claro do espírito de fé que anima as famílias cristãs e sem ela o encontro pode ficar reduzido a um comum jantar festivo.

Em segundo lugar, convido-vos a uma atitude de acolhimento, que manifeste o amor a Deus e o amor ao próximo. Jesus que veio para todos não pode ser celebrado por pessoas que se ignoram, que se excluem ou que se guerreiam por quaisquer motivos.

O acolhimento no seio familiar constitui o sinal mais forte do espírito cristão do natal. Tem continuidade no coração aberto a acolher os pobres, os desprotegidos, os migrantes e toda a pessoa, pelo simples facto de ser uma pessoa.

A comunidade cristã, por ser comunidade que acolhe Jesus, o Filho de Deus nascido em Belém, tem maior responsabilidade no que toca ao acolhimento como primeira atitude evangelizadora e pastoral.

A graça de Deus manifestou-se como fonte de salvação para todos os homens, como afirmava a Epístola a Tito. Que, pela via do acolhimento em nome do Senhor, sejamos os primeiros a abraçar a humanidade que Deus já abraçou por meio dos braços abertos de Jesus no presépio e na cruz.

Coimbra 24 de dezembro de 2018
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

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