Imaculada Conceição 2022 - Homilia de Dom Virgílio

SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO DA VIRGEM SANTA MARIA
Capela de São Miguel da Universidade de Coimbra – 22.12.08

Caríssimos irmãos e irmãs!

A Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria, nossa padroeira, leva-nos a pensar na humanidade que somos chamados a construir com o contributo do conhecimento, da ciência e da fé. Ao aceitar ser Mãe do Filho de Deus, Maria reconheceu elevada a sua humanidade e sentiu-se serva da construção de um mundo maior e melhor do que podia imaginar se contasse somente com a debilidade da sua natureza. Os maiores sonhos da humanidade têm concretização na Virgem Maria, que nos mostra onde podemos chegar e como é grande a nossa vocação segundo o plano de Deus.

Como sugestão para a nossa reflexão, tomamos hoje três verbos importantes na Sagrada Escritura, que nos orientam no percurso da nossa vida e que sugerem três interrogações, que queremos dirigir a todos, mas especialmente aos jovens, que são o centro da nossa academia de Coimbra: quem és, onde estás, o que fizeste?

O Livro do Génesis, em tom poético e teológico, começa com a busca da resposta à pergunta: quem sou eu? Afirma que cada um é um ser humano - adam, é uma pessoa, é homem ou mulher, em relação com os outros – Caím e Abel; cada um é uma pessoa em relação com o universo – o jardim que lhe foi dado para habitar e transformar; cada um é uma pessoa em relação com Deus – o Criador. Cada um tem um nome, uma identidade, uma vocação e uma missão.

O Evangelho de São Lucas, concretizando e aplicando a Maria, situa-a entre as criaturas de Deus, a mais bela das criaturas segundo a teologia – a Imaculada, mas uma criatura aberta aos outros, ao mundo e a Deus.

Com as nossas caraterísticas próprias, cada um de nós tem o seu nome, a sua identidade única entre todas as criaturas humanas. A tarefa de se descobrir e conhecer na sua identidade mais profunda continua a ser a vocação e missão fundamental de todos nós, pois da resposta nasce uma orientação de vida, que pode conduzir todo o nosso percurso do nascer até ao morrer. No processo do seu amadurecimento, os jovens precisam de se confrontar com esta questão e de ser ajudados a encontrar respostas ao longo da vida, num processo que tem momentos fortes e que os levará a encontrar o seu lugar de realização.

A segunda pergunta do Livro do Génesis, “onde estás?”, remete para cada momento presente da existência, que é sempre contextualizada no meio social, cultural e religioso. Não somos pessoas isoladas no meio do mundo e há sempre um vasto mar de relações que nos faz perceber donde vimos e para onde queremos ir. As raízes têm grande importância e os sonhos constroem-se a partir delas, mas na certeza de que queremos ir mais longe e crescer em humanidade. Não se pode sonhar ser melhor pessoa e criar uma humanidade nova sem conhecermos o que somos e onde estamos.

No dizer do Evangelho, O Anjo Gabriel, mensageiro de Deus, foi enviado ao lugar em que Maria se encontrava, a uma cidade da Galileia chamada Nazaré e na situação concreta de estar desposada com um homem chamado José. O Mensageiro de Deus entrou onde ela estava e aí lhe dirigiu a palavra, que a perturbou, pois anunciava uma novidade inesperada e que a levava mais longe do que podia supor.

Os jovens do nosso tempo encontram-se numa situação muito concreta, que lhes dá a possibilidade de olharem para o mundo complexo e, por vezes, desumano, mas que lhe oferece imensas oportunidades de crescimento. Têm também a possibilidade de desejar mais, de sonhar com um mundo melhor e de se porem a caminho como nunca, dadas as circunstâncias desafiantes deste tempo que é o seu.

A Universidade pode ter um papel fundamental na vida dos jovens, não só por os tornar aptos pelo conhecimento e pela ciência que lhes proporciona, mas sobretudo pela possibilidade que lhes faculta de olharem para si, para o mundo e para os outros como a casa que desejam edificar. Mesmo que muitas realidades lhes pareçam distantes, não podem perder o sonho, pois as capacidades humanas iluminadas e fortalecidas pela força do Espírito de Deus podem levá-los muito longe.

A terceira pergunta do Livro do Génesis, “que fizeste?”, apela a uma contínua avaliação da própria vida, a uma revisão do passado, que os faz persistir em continuar a abrir caminhos iniciados ou a mudar de rumo após o reconhecimento do fracasso. Pode também formular-se a mesma pergunta usando o tempo presente, “que fazes?”, levando a decisões conscientes, responsáveis e livres em cada momento, sem adiar nada do que se pode hoje fazer. Pode ainda formular-se no futuro “que farás?”, conjugando ao mesmo tempo a realidade com o desejo e o sonho, próprios de quem nunca está disposto a parar ou a desistir.

O Evangelho oferecia-nos a resposta de Maria que, nom meio de todas as interrogações que povoam o seu espírito, nunca desiste de se deixar surpreender pela novidade do presente e do futuro de Deus: “Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”.

Havemos de ajudar os jovens a envolverem-se no presente da comunidade humana como irmãos e servos dos outros a partir da bondade da sua humanidade; e havemos de os ajudar também a sonhar o futuro como servos de Deus a partir da sua fé. A sociedade, a escola, a Igreja, cada uma de acordo com a sua identidade, assumirão a missão de lhes proporcionar os meios para estarem presentes nas realidades diárias e para deixarem crescer os seus sonhos sem nunca se resignarem diante das dificuldades e problemas que os cercam. Ajudar os jovens a manter a esperança e a trabalhar por ela, é missão de pessoas e instituições, unidas e complementares na edificação de uma humanidade nova.

A Virgem Santa Maria é-nos hoje apresentada como grande exemplo das nossas vidas, porque acredita que, sendo criatura humana, está no seu lugar e disponível quando Deus vem ao seu encontro e a leva a acolher a realização do impossível a seus próprios olhos. A partir da sua condição quer fazer parte do plano de Deus que faz grandes coisas e a leva a olhar para a vida com a esperança que não morre. Partilha o que é e o que tem para que todos tenham acesso a Cristo Salvador.

Que a Jornada Mundial da Juventude que estamos a preparar nos leve a transmitir aos jovens o sonho de um presente e um futuro melhores, que eles podem construir com a ajuda da ciência em que são formados e da fé em Deus que está ao seu alcance.

A Imaculada Conceição, padroeira de Portugal e da nossa Universidade de Coimbra, seja a nossa melhor inspiração, ore a Deus por todos nós e nos ampare para nos levantarmos e nos partirmos apressadamente para onde quer que a missão nos levar.

Coimbra, 08 de dezembro de 2022
Virgílio do Nascimento Antunes
Bispo de Coimbra

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