III DOMINGO DO ADVENTO - A ORDENAÇÃO DE DIÁCONOS NA SÉ NOVA DE COIMBRA

Irmãos e irmãs!

A nossa Diocese de Coimbra vive hoje a alegria da proximidade do Natal do Senhor e da renovada esperança da salvação prometida, à qual se junta a alegria pelo dom da ordenação dos dois diáconos a caminho do presbiterado.

Ao aproximarmo-nos do natal do Senhor compreendemos melhor o que significa a afirmação do profeta Isaías: “Aí está o vosso Deus”. Esta é a grande certeza que nos anima enquanto cristãos: o Senhor está entre nós, veio ao nosso encontro para que nunca nos sentíssemos sós.

Nas presentes circunstâncias, marcadas pelo desalento, pelo sofrimento causado pela falta de trabalho, pela carência dos meios normais de subsistência, pela pobreza ou por qualquer outra fragilidade, torna-se mais difícil acreditar que o Senhor está no meio de nós. Tornam-se mais sentidas as palavras animadoras do profeta, quando diz: “tende coragem, não temais”.

Este domingo constitui um primeiro grande desafio para todo o cristão que vive na sua carne as dificuldades atuais ou, pelo menos, conhece as dificuldades vividas por muitos dos seus irmãos e irmãs: manter a alegria e a esperança baseadas na fé e na certeza de que Deus aí está, onde quer que haja um homem ou uma mulher vítima da situação que entre nós se está a viver.

Um segundo desafio vai no sentido de trabalhar ativamente para ser o rosto de Deus junto dos mais débeis no corpo ou no espírito, no sentido de ser para eles mão amiga e generosa, que sente os sofrimentos como seus e se dispõe a partilhar com amor. Como dizia o texto de Isaías, Deus “vem para fazer justiça e dar a recompensa”, ou seja precisa de nós como enviados com a missão de denunciar as injustiças e desenvolver um mundo mais justo para todos.

“Ele próprio vem salvar-nos”, concluía o oráculo profético, assegurando-nos que o Senhor, nosso Deus, quer salvar todos os que se sentem perturbados e perdidos, por meio da fé como atitude de confiança e de esperança n’Ele, e por meio da nossa ação solidária e amorosa.

“Fortalecei as mãos fatigadas e robustecei os joelhos vacilantes”, dizia-nos ainda o Senhor, apontando a missão de todos os que já conheceram a presença de Deus no meio do seu Povo, já viram brilhar a luz da sua salvação e se alegraram com a sua salvação. Todos nós, fortalecidos por Deus na nossa fragilidade e robustecidos na nossa fé, acolhemos a tarefa de ser testemunhas da força de Deus junto dos nossos irmãos, por meio do anúncio corajoso do evangelho que vence todas as situações de fadiga e todos os momentos de cansaço. Todos nós recebemos a missão de ser mensageiros da alegria cristã baseada na fé em Deus e alicerçada na caridade para com os irmãos.

“Vou enviar à tua frente o meu mensageiro para te preparar o caminho” era a palavra proferida a propósito de João Batista o mensageiro e precursor da vinda do Senhor. É também a palavra proferida para cada um de nós e para toda a Igreja, mediadora do encontro salvador com Deus, em cada tempo e lugar da história. Eu e vós, Igreja de Cristo, somos a comunidade profética que está no mundo para mediar o encontro dos homens com o Deus Salvador, por meio do testemunho da alegria cristã, por meio da caridade sincera e por meio da ação evangelizadora.

 

Estamos, caríssimos irmãos, diante da centralidade da dimensão diaconal de todo o Povo de Deus, essencial à vida da Igreja e de todos os que aceitam o desafio de ser seus filhos e discípulos de Jesus Cristo.

Ser diácono lembra à Igreja que ela é serva de Deus e serva dos homens; ser diácono significa ser servo à maneira de “Jesus Cristo que no meio dos seus discípulos se apresentou como servo” e que, servindo a vontade do Pai, serviu também aos homens com alegria.

Quando Jesus colocou uma toalha à cintura, se ajoelhou diante dos seus discípulos e lhes lavou os pés durante a última ceia, deu-nos a regra fundamental do nosso agir enquanto cristãos e enquanto Igreja, fez do serviço da caridade a atitude unificadora de toda a nossa vida. Sacerdotes, diáconos, consagrados ou leigos, temos em comum uma única vocação: a do serviço a Deus, do serviço à Igreja, que é, ao mesmo tempo, serviço aos irmãos.

A homilia ritual da ordenação dos diáconos refere as áreas fundamentais do exercício deste serviço que é próprio do ministério que o diácono é chamado a exercer e que dá o tom a toda a ação diaconal da Igreja: “os diáconos, fortalecidos com os dons do Espírito Santo, têm por missão ajudar o Bispo e o seu presbitério no serviço da palavra, do altar e da caridade, mostrando-se como servos de todos”.

Como servidores da palavra, acolhemo-la e proclamamo-la como Palavra de Deus, que orienta os passos dos homens nos caminhos da salvação; como servidores do altar, louvamos o Senhor e convidamos todos os homens a louvá-lo com a sua vida; como servidores da caridade, levamos aos homens o amor de Deus expresso em gestos de proximidade e solidariedade.

Quando o Papa Francisco, na Exortação Apostólica A Alegria do Evangelho, nos fala de uma “Igreja em saída”, está a referir-se a esta atitude de serviço que há-de caraterizar o nosso modo de ser Igreja, como uma Igreja para os outros, uma Igreja da evangelização ou uma Igreja missionária. No fundo, trata-se de uma Igreja da diaconia ou de uma Igreja do serviço.

Convido, por isso, cada cristão a acolher este forte apelo de mudança de perspetiva e de atitude: que deixemos de nos sentir o centro da Igreja para ser seus servos; que deixemos de ser o centro da comunidade paroquial, do serviço ou do movimento em que trabalhamos, para ser seus servos; que deixemos de ser o centro do mundo para ser seus servos.

Convido a Igreja Diocesana a acolher o forte apelo do Papa, que nos pede que sejamos Igreja serva, quando diz: “Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro... Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida” (EG 49).

 

Que Maria, a serva do Senhor e serva da humanidade, nos ensine a ser Igreja alegre na diaconia da palavra, do altar e da caridade. Ámen

 

Coimbra, 15 de dezembro de 2013

Virgílio do Nascimento Antunes

Bispo de Coimbra

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