Homilia da Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo

SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO
COIMBRA, SÉ NOVA, 2014

 

Irmãos e irmãs!

A Igreja agradece, hoje, de um modo muito especial a Deus, o envio do seu Filho Jesus Cristo e o cumprimento da promessa que fez aos seus discípulos, quando, antes de subir ao Céu, lhes disse: “Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos”.
A Eucaristia é precisamente o sacramento da presença real de Jesus na Igreja e por meio dela se cumpre a sua promessa, ao longo de todos os tempos, em todos os lugares e para todo o Povo que a celebra na fé.
O Evangelho que escutámos assegura-nos precisamente desta realidade central da nossa fé, quando Jesus nos dizia: “Quem come a Minha Carne e bebe o Meu Sangue permanece em mim e Eu nele”. A iniciativa do Pai consistiu em enviar o seu Filho ao mundo, o Pão que desceu do Céu; Jesus veio, entregou-se por nós e deixou-nos o memorial da Páscoa para que o celebrássemos na esperança da sua última vinda; a nós, cabe-nos acolhê-lo na fé por meio do Sacramento da sua presença e permanência entre nós, no Pão da vida eterna.
À iniciativa do Deus fiel, que cumpre a sua promessa, deve corresponder a nossa atitude de povo fiel, acolhendo-o em nós, para que permaneçamos n’Ele e vivamos por Ele. A nossa fidelidade à fé, à doutrina, à Igreja, é consequência do desejo que temos de ser fiéis a Deus e ao seu projeto salvífico, ao serviço do qual Jesus foi fiel até ao fim.

Quando o Livro do Deuteronómio usou as imagens da água e do maná dados por Deus ao seu povo, que caminhava na dura prova dos quarenta anos do deserto, estava a anunciar a bondade e o amor do mesmo Deus, que fortalece sempre o seu povo com os dons necessários para o seu caminho. No contexto de profecia que é todo o Antigo Testamento, anunciava-se já o maior, ou o único dom de Deus ao seu Povo, o seu Filho Jesus Cristo.
O Pão e o Vinho, as duas espécies usadas na Eucaristia, que se transformam em Corpo e Sangue do Senhor, constituem o sinal ou sacramento real e eficaz de Cristo, o dom de Deus e o nosso alimento para a caminhada terrena em direção à meta, a vida eterna.
Havemos de acreditar que ser cristão é estar em Cristo, permanecer em Cristo, ser homens em Cristo. E isso não é possível se não participamos no seu mistério mais profundo, que é a sua Páscoa, cujo memorial celebramos na Eucaristia.
A nossa fé cristã é, portanto, uma fé eucarística, como a Igreja é uma Igreja eucarística e a nossa espiritualidade é fundamentalmente uma espiritualidade eucarística, porque nela se atualiza no hoje da nossa história a presença de Cristo, a salvação de Cristo e o dom de Cristo.
Neste sentido, a celebração dominical da Eucaristia, a comunhão eucarística e o culto eucarístico fora da missa por meio da adoração ou da visita ao Santíssimo Sacramento, constituem os meios fundamentais pelos quais manifestamos a centralidade deste mistério na vida da Igreja e na nossa vida pessoal.
A pastoral da liturgia e, concretamente, a pastoral da Eucaristia merecem, por isso, um lugar primeiro na ação que havemos de desenvolver nas nossas comunidades, particularmente na catequese familiar e paroquial para todas as idades.

A Primeira Epístola do Apóstolo S. Paulo aos Coríntios introduzia outro tema fundamental da identidade da fé e da Igreja, que nasce da Eucaristia e nela exprime do modo mais excelente: trata-se da comunhão no Corpo e no Sangue de Cristo, porque, embora sejamos muitos, participamos do único pão.
A comunhão de todo o Povo de Deus na pluralidade dos seus membros e destes com Cristo não é uma realidade acidental da vida da Igreja, mas é essencial nela. Trata-se de um mistério constitutivo daquilo que somos e de um sinal para que o mundo acredite.
Ao dizer que formamos um só corpo, o Apóstolo aponta-nos um projeto de vida irrenunciável e um objetivo central do nosso modo de ser enquanto comunidade que vive e testemunha  a caridade de Deus e a caridade dos homens. Não foi por acaso que o Evangelista João situou o mandamento novo do amor no contexto da Última Ceia e de forma única o exprimiu por meio do episódio do lava-pés.
O cristão eucarístico e a Igreja eucarística têm como mandamento o amor ou a caridade criadora dos laços de comunhão com Deus e com os irmãos, que se deve exprimir por meio de muitos sinais efetivos e concretos. Entre eles estão a amizade que empreendemos, a partilha fraterna do que temos e do que somos, a colaboração na construção da comunidade cristã, a prossecução dos mesmos objetivos, a concretização dos planos pastorais definidos e acolhidos por todos, a ação sócio-caritativa, a realização da missão evangelizadora.

Nesta Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, peçamos ao Senhor que faça crescer em nós, nas nossas comunidades e na nossa Igreja Diocesana um coração verdadeiramente eucarístico. Peçamos que nos ajude a acolher a promessa já realizada em Cristo, quando se entregou à morte e nos deixou o pão da vida eterna. Peçamos que nos ajude a viver em comunhão fraterna entre nós e em comunhão filial com o Pai.
Ao mesmo tempo, peçamos que nos ensine a compreender que a celebração da Eucaristia é, por excelência, a ação sagrada na qual nos é dado participar, a nós que, pelo batismo, nos tornámos filhos de Deus. Tudo na celebração há-de concorrer para que se manifeste a humildade e, ao mesmo tempo, a grandeza deste mistério do amor de Deus por nós e para que os fiéis tenham acesso a Cristo, Pão e Palavra que alimentam.
Peçamos ao Senhor que nos ajude a valorizar todos os elementos da celebração da Eucaristia, a fim de que ela frutifique na vida dos fiéis: os lugares e espaços celebrativos, os ministros ordenados e os leigos que realizam as ações que lhes competem, as alfaias e outros materiais usados, os instrumentos musicais e o canto, os gestos e atitudes corporais, o ambiente de silêncio e interioridade, a alegria de encontrar Cristo e de O levar para o mundo.

Que Maria, a mulher eucarística, que trouxe Cristo no seu seio virginal, esteve com Ele na Última Ceia, O acompanhou na paixão e morte de cruz, se alegrou na manhã da ressurreição e participou na Igreja nascente, nos acompanhe na caminhada deste dia e na caminhada desta vida, alimentados, como Ela, pelo Pão vivo descido do Céu.

Coimbra, Sé Nova, 22 de junho de 2014

 

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