Festa das Famílias - Homilia de Dom Virgílio

V DOMINGO DA PÁSCOA

FESTA DAS FAMÍLIAS – FERREIRA DO ZÊZERE

 

Caríssimos irmãos e irmãs!

Estamos a celebrar a Festa das Famílias, aqui em Ferreira do Zêzere, num gesto de gratidão a Deus pelo dom que nos concedeu, o de sermos famílias. Quando criou a humanidade, constituída em homem e mulher, Deus estava a lançar os fundamentos desta união de amor, que havia de dar os frutos de vida feliz que somos convidados a viver. Quem crê, agradece ao Deus Criador este projeto de família como comunidade de vida e amor, que nunca deixa de apontar para ideais mais altos de entrega, comunhão e felicidade conquistada.

Quando temos a possibilidade de celebrar na fé o jubileu do matrimónio, depois de 25, 50 ou mais anos de união, sentimos que devemos fazer festa, pois vemos em ato a força do amor humano, imagem maior do amor divino. Cada um destes matrimónios, apesar das dificuldades e fraquezas dos seus membros, é um monumento à grandeza do amor feliz de duas pessoas que se propuseram dar a vida dia a dia uma pela outra, o maior gesto humano e cristão. Obrigado, por isso, caríssimos esposos, pelo testemunho de fidelidade um ao outro e de fidelidade a Deus que dais a toda a comunidade e por encarnardes no vosso lar o amor de Cristo em quem unistes as vossas vidas!

A Palavra de Deus agora escutada oferece-nos alguns pontos de meditação que queremos retomar neste momento.

Em primeiro lugar, a firmeza com que Paulo pregava em nome de Jesus. Ele anunciava a Boa Nova do amor de Deus, que se manifestou de muitos modos e acima de tudo na morte de Jesus, que se ofereceu por todos nós. As suas palavras não foram acolhidas por todos, de tal modo que alguns queriam também dar-lhe a morte.

De entre os pontos de doutrina pregados por Paulo, encontram-se as afirmações acerca da união do homem e da mulher, que ele elege como o maior sinal humano do amor divino. O amor dos esposos é expressão do amor de Deus pelo seu povo, um amor que é dádiva, misericórdia, sacrifício de si mesmo para fazer felizes os outros. É ainda hoje uma realidade difícil de entender quer quando se trata do amor dos esposos, quer quando se trata do amor de Deus. Contraria radicalmente todo o entendimento de amor como busca da sua própria satisfação ou como experiência momentânea de felicidade pessoal.

Também hoje é necessário anunciar com firmeza a Boa Nova do amor humano que espelhe o amor de Deus pelo seu povo enquanto constitutivo da união matrimonial. Podemos não ser bem entendidos ou até ridicularizados na praça pública, mas não conhecemos outra linguagem nem outro caminho para ajudar a humanidade a encontrar uma felicidade duradoira.

Não podemos, por isso, deixar de proclamar com firmeza o valor único das famílias alicerçadas no amor do homem e da mulher, o valor inalienável da vida humana em todas as suas fases, da concepção à morte natural, a defesa da vida dos doentes e dos idosos como um verdadeiro tesouro para as famílias.

Em segundo lugar, a parábola do Evangelho oferecia-nos a certeza de que Deus permanece sempre connosco, em todas as situações, mesmo nas mais difíceis de suportar: “Eu permanecerei em vós”.

As realidades familiares como todas as outras realidades humanas são muito diversificadas e nunca estão isentas de dores, fraquezas e pecados. Ancoradas na fé, as famílias cristãs sentem que nada as pode separar do amor de Deus e que a sua presença amorosa é uma constante. Permanecer em Cristo, acolhendo tUdo o que Ele é e significa, constitui a resposta humana do crente à oferta que faz a cada um e a cada família.

A espiritualidade do matrimónio cristão vivido como uma vocação há de levar a família a estar com Cristo, a permanecer n’Ele, a fazer d’Ele o elemento unificador de tudo o que se constrói em comum. “Se alguém permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto”, e o fruto será o amor, a fidelidade, a capacidade de cada um dar a vida pelo outro, a construção de uma comunhão profunda que leve a serem e a sentirem-se uma só carne.

A nossa Festa das Famílias tem por tema: “Famílias vizinhas e solidárias”. Agradeço esta feliz proposta, pois nos dá a possibilidade de voltarmos a uma das caraterísticas mais importantes da vida familiar, a comunhão entre pessoas, que gera a solidariedade entre os que estão unidos pelos laços do sangue, mas sempre aberta aos outros, a todos os que estão naturalmente ligados pelos laços da humanidade.

Os incêndios que o ano passado assolaram o país e de modo particular esta região, deixaram em muitas famílias as memórias inapagáveis do sofrimento e da morte, para além da dureza da perda de bens, como casas, florestas, empresas, postos de trabalho, aconchego familiar, alegria de viver...

Os incêndios deixaram também os sinais igualmente inextinguíveis de famílias verdadeiramente vizinhas, mesmo que a muitos quilómetros de distância. A verdadeira vizinhança é muito mais do que a pequena distância a que se habita, ela é uma atitude do coração, que faz sentir como dores da nossa casa aquilo que faz sofrer a casa dos outros. Ficou ainda inscrita de forma indelével no coração a solidariedade de quantos foram ao encontro dos outros, que ficaram sem teto, sem roupa, sem pão, sem companhia ou sem esperança.

A verdadeira solidariedade é discreta e não faz propaganda, pois não serve para exaltar a generosidade de quem dá, mas é saída silenciosa ao encontro do próximo em necessidade: não saiba a tua mão direita o que faz a esquerda; quando dás esmola não toques a trombeta... (cf Mt 6, 2).

Da nossa festa das famílias, e enquanto comunidade cristã, endereçamos um forte abraço de fraternidade e solidariedade a todas as famílias que não sentem alegria para fazer festa; de um modo especial às famílias que estão a sofrer em consequência das perdas provocadas pelos incêndios ou que fazem o luto pela ausência dos familiares falecidos, reafirmamos a nossa presença calorosa e o desejo que temos de continuar a fazer o que estiver ao nosso alcance para que prossigam com esperança.

Se o nosso Deus, rico de misericórdia, se comove e permanece junto de cada família , também nós, seus filhos, havemos de permanecer bem próximos, como famílias vizinhas e solidárias.

 

Ferreira do Zêzere, 29 de abril de 2018

Virgílio do Nascimento Antunes

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