Laudato Si e o Cuidado da Casa Comum :: Daniela Sofia Neto

Laudato Si’ e o Cuidado da Casa Comum

Daniela Sofia Neto

O Santo Padre Francisco, na sua Carta Encíclica Laudato Si’ (Louvado Sejas), exorta sobre o cuidado da Casa Comum. Neste desafio que nos coloca, integra a preocupação de unir toda a família humana na procura do desenvolvimento sustentável e integral. Esta Encíclica visa refletir sobre as mudanças climáticas enquanto problema global com implicações ambientais, sociais, económicas e políticas, que constituem um dos principais desafios para a humanidade. Perante a crise ecológica que atravessamos, o Santo Padre apela a pensar na Casa Comum e a prosseguir pelo caminho do diálogo, que requer paciência e generosidade. 

A escassez de recursos naturais e a intensificação de acontecimentos climáticos extremos têm provocado situações adversas nas sociedades e no modo como se organizam. Uma das adversidades é o movimento das migrações, isto é, a deslocação em massa de pessoas, muitas vezes dentro do país de origem, na procura de auxílio. 

De acordo com o Relatório Mundial sobre Deslocações Internas (2023), produzido pelo Norwegian Refugee Council, as catástrofes naturais resultantes de alterações climáticas causaram, em 2022, cerca de 32,6 milhões de deslocados internos (no interior de cada país), valor que ultrapassa o número de deslocados devido a conflitos armados (28,3 milhões). Como aponta o Banco Mundial, as alterações climáticas são poderosos fatores de migração devido aos impactos nos meios de subsistência das pessoas e à perda de condições de vida em locais altamente expostos. Nesta senda, o relatório Groundswell, apresentado por esta instituição, concluiu que as alterações climáticas enquanto potenciador de migrações, poderão obrigar 216 milhões de pessoas a deslocarem-se dentro dos seus países até 2050. 

Laudato Si’ alerta para esta realidade, para os refugiados ambientais enquanto pessoas que já não são capazes de ter uma vida segura no seu país de origem devido a problemas ambientais como a seca, a erosão do solo, a desertificação e a desflorestação, entre outros problemas associados à demografia e à extrema pobreza. Ao mesmo tempo, não sendo reconhecidos como refugiados nas Convenções Internacionais, carregam o peso da sua vida abandonada sem qualquer tutela normativa. Parafraseando Hannah Arendt, não terão direito a ter Direitos?

É neste sentido que o Santo Padre nos propõe uma responsabilidade ética sobre a necessidade de uma solidariedade global e de uma resposta que considere os direitos humanos fundamentais destes migrantes e nos chama para uma “conversão ecológica”, que leve a uma maior responsabilidade e cuidado pelos que sofrem com a crise climática. 

Laudato Si’ é um chamamento para uma visão holística acerca das questões ambientais, com enfoque não só na ecologia, mas também nas dimensões sociais, económicas e éticas da crise climática. Quanto aos refugiados ambientais, a Encíclica chama a atenção para a necessidade urgente de ação coletiva e solidária para proteger os mais vulneráveis, promover a justiça ambiental e garantir os direitos humanos. É, por isso, uma leitura que nos leva a uma profunda reflexão espiritual, promovendo uma visão integrada e compassiva do cuidado com a Criação. 

É neste ensejo que, no próximo dia 25 de junho de 2024 (terça-feira) se realiza o “CONCERTO PELA TERRA”, no Convento de São Francisco. O concerto procura homenagear a Casa Comum, relembrando a mensagem sobre a ecologia integral veiculada na encíclica Laudato Si, e cujas receitas revertem a favor da UNICEF. 

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